A estratificação de riscos, adotada em Santo Antônio do Monte – MG, permite que as pessoas portadoras de condições crônicas sejam atendidas de acordo com a complexidade de cada caso, tanto na Atenção Primária à Saúde quanto na Atenção Secundária. A tecnologia da estratificação de risco faz parte dos macroprocessos básicos da Atenção Primária à Saúde, implantados no município mineiro, para reestruturar e reorganizar o atendimento à população, com base nas metodologias do Modelo de Atenção às Condições Crônicas.
Os usuários são identificados, cadastrados e classificados conforme a gravidade da condição crônica. Hipertensos, diabéticos, doentes renais crônicos, gestantes e crianças de até um ano de idade são estratificados em baixo, médio, alto e muito alto risco. Apenas os usuários de médio e alto risco são encaminhados para a atenção especializada. Os demais permanecem sob os cuidados das equipes das Unidades Básicas de Saúde. A articulação entre a Atenção Primária e a Atenção Secundária é um dos focos do Laboratório de Inovação na Atenção às Condições Crônicas em Santo Antônio do Monte.
O encaminhamento adequado dos pacientes permite que os manejos clínicos sejam ajustados pelos diferentes riscos, prevenindo tratamentos errados e possibilitando a construção de agendas racionais. Os usuários são atendidos com hora marcada, porque as equipes de saúde conseguem dimensionar o número de atendimentos em função dos riscos, reduzindo a sobre oferta de consultas e exames aos portadores de condições crônicas menos complexas.
Segundo Eugênio Vilaça, consultor do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), 70% dos portadores de condições crônicas de menor complexidade não necessitam de atendimento especializado. “As evidências científicas mostram que, em todas as condições crônicas, 70% são portadores de condições crônicas de baixa complexidade. E 30% de maior complexidade. O modelo identifica e estratifica esse risco, separa quem é de baixo, médio, alto e muito alto risco. A importância disso é que o manejo clínico é totalmente diferente. Hipertensos de baixo risco, em geral, não se beneficiam de medicamentos, podem ser manejados com tecnologias de mudança de comportamento” explica Vilaça.
Além de sobrecarregar a atenção especializada, o encaminhamento de usuários de baixo risco ao especialista pode ter um resultado diferente do esperado, alerta o consultor do Conass: “Se eu envio uma pessoa com baixo risco para o especialista, pela natureza da clínica que ele pratica, ele tende a fazer diagnóstico, a pedir muitos exames e medicar excessivamente, gerando iatrogenia, mais do que saúde”, ressalta.
A estratificação de riscos é realizada na Atenção Primária, seguindo parâmetros estabelecidos em diretrizes clínicas baseadas em evidências. “A classificação desses pacientes em baixo risco, moderado risco, alto risco e muito alto risco é baseada em um escore de classificação, o escore de Framingham. “Nós utilizamos o escore de Framingham modificado. É quase o mesmo escore de Framingham, porém, com algumas modificações preconizadas por um estudo de D’Agostino,” explica o médico Fabrício Simões, cardiologista do Centro Viva Vida e Hiperdia de Santo Antônio do Monte.
Para fazer a estratificação de riscos, são necessários exames básicos de saúde, como colesterol total e frações, glicemia em jejum e hemoglobina glicada, além de uma conversa entre o médico e o usuário, em que é aplicado um questionário. O médico da Estratégia Saúde da Família, Luís Henrique Nascimento, que realiza a estratificação de riscos com usuários atendidos na comunidade rural de Ponte Nova, chama atenção para o baixo custo da tecnologia: “São exames que o município consegue disponibilizar com facilidade, e que podem evitar um gasto de alto impacto futuramente”, observa.
Veja o vídeo: Estratificação de riscos de usuários com condições crônicas
Fonte – Portal da Inovação em Saúde