O Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição Alimentar (CECANE) resulta de parceria entre a Fundação Nacional em Desenvolvimento Educacional e instituições de ensino superior do Brasil. Com o propósito de desenvolver ações de pesquisa, ensino e extensão referentes ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), ele fornece apoio ao desenvolvimento sustentável, incentivando a aquisição de gêneros alimentícios diversificados, produzidos em âmbito local, pela agricultura familiar e pelos empreendedores familiares rurais, priorizando as comunidades tradicionais indígenas e remanescentes de quilombos.
O CECANE UFMS teve início em dezembro de 2021, tendo no eixo agroindústria o objetivo de apoiar o aproveitamento de espécies alimentícias nativas junto á algumas aldeias indígenas, visando a possibilidade de fornecimento de alimentos enriquecidos nutricionalmente para escolas locais e geração de renda. Sendo assim, foram selecionadas 5 aldeias: Córrego Seco, Limão Verde, Imbirussu, Lalima e Brejão (Tabela 1).
Durante as visitas, foi realizado um curso de capacitação baseado na coleção de livros Saberes do Cerrado e do Pantanal com o objetivo de compartilhar informações sobre os biomas, dos frutos, das boas práticas de fabricação e da padronização de receitas.
Segundo a Resolução Nº 6, de 8 de maio de 2020, os cardápios das escolas devem atender as especificidades de cada aldeia, respeitando assim, a cultura local. Portanto, um dos focos do projeto, é apoiar o resgate dos conhecimentos e contribuir para o desenvolvimento sustentável de produtos enriquecidos com os frutos nativos que cada aldeia possui (Tabela 2). Sendo assim, foram realizadas oficinas de desenvolvimento de farinhas e produtos, como biscoitos, bolos, tortas salgadas, geleias, castanhas e pães, de forma a sugerir preparações diferentes que contribuam com o aumento da vida útil desses alimentos, a redução de desperdícios e a valorização cultural.
Dentre as aldeias visitadas, duas delas possuem agroindústrias: a aldeia Brejão e a Imbirussu. A primeira trabalha com produção agroecológica, produção de mudas nativas e hortaliças, realizando testes experimentais e possui uma unidade multiuso extrativista, que está em fase de estruturação. A segunda, possui uma agroindústria voltada para panificação, além do extrativismo e beneficiamento da castanha de cumbaru (Dipteryx alata), e farinhas de bocaiuva (Acrocomia aculeata) e Jatobá ( Hymenaea courbaril), a associação já comercializa pães para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). As demais aldeias não possuem agroindústrias, porém, assim como as apresentadas anteriormente, possuem grande potencial extrativista, como é o caso da Lalima que produz farinhas de Acuri (Attalea phalerata), jatobá e bocaiuva e das aldeias Córrego Seco e Limão Verde que comercializam o pequi (Caryocar brasiliense) in natura em grandes quantidades.
Sendo assim, esse projeto possui um potencial muito grande no que diz respeito a capacitação dos povos indígenas para o avanço do desenvolvimento local sustentável e o fornecimento de produtos para a alimentação escolar. A partir do envolvimento, não apenas a universidade, mas também de parceiros estratégicos que participam nas visitas, cursos e oficinas como a Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (AGRAER), a Secretária de Produção Municipal e as nutricionistas das Secretarias de Educação e os Conselhos de Alimentação Escolar (CAE) nos municípios, com o projeto está sendo possível contribuir com a sensibilização sobre os produtos das comunidades indígenas e ampliar seu acesso ao mercado institucional, fornecendo alimentos para as próprias escolas nas aldeias e futuramente em outras escolas da rede municipal.
Dessa forma, tanto a comunidade indígena quanto o poder público são acionados pelo Cecane/UFMS, possibilitando uma troca rica de conhecimentos que agrega à comunidade universitária através dos saberes locais e da valorização da sociobiodiversidade.