Utilização de hemostáticos em alvéolo após exodontia em indivíduos anticoagulados

Identificação do autor responsável
Autores do relato
Nome Município
CAROLINA SILVANO VILARINHO DA SILVA MATO GROSSO
Alexandre Meireles Borba Cuiabá
Contextualização/introdução
A quantidade de indivíduos em uso de terapias anticoagulante tem aumentado ao longo das últimas décadas, provavelmente devido ao aumento da incidência de doenças crônicas decorrente da maior expectativa de vida. Morbidades crônicas como a doença cardíaca isquêmica, trombose venosa profunda, embolia pulmonar, fibrilação atrial, doença valvular cardíaca, válvulas cardíacas protéticas e acidente vascular encefálico frequentemente requerem o uso de terapia anticoagulante/antiagregante para prevenção de graves eventos tromboembólicos (COCERO N et al., 2014; DUDEK D; KULICZKOWSKI W; KACZMARSKI J, 2015; HANKEN H; GRÖBE A; HEILAND M, 2016). Nesse contexto, extrações dentárias em indivíduos que façam uso de terapia anticoagulante podem estar relacionadas a maior risco de hemorragias pós-operatórias, podendo ser um grande desafio na cirurgia odontológica (KÄMMERER PW et al., 2015; SCULLY C; WOLFF A, 2002). Há uma controversa sobre a suspensão e/ou substituição da terapia de anticoagulação nesses indivíduos devido ao grande risco de complicações tromboembólicas graves, sendo inclusive contraindicada por muitos autores (GASPAR R et al., 1997; LITTLE JW et al., 2002; WAHL MJ, 1998a, 1998b). Embora, os argumentos de muitos médicos e dentistas são baseados em mitos, dentre eles a necessidade de se ter disponível um agente pró-hemostático durante o procedimento, o risco de hemorragia fatal, a baixa incidência de complicações embólicas, as cirurgias de alto risco e por fim a suspensão do anticoagulante por conveniência devido a ansiedade e angústia do indivíduo com hemorragias. (WAHL, 2018) A fibrina rica em plaquetas e leucócitos (L-PRF) é uma fibrina rica em leucócitos e plaquetas obtido de sangue autógeno desenvolvido e aperfeiçoado por Choukroun et al (CHOUKROUN J et al., 2001) e Dohan et al (CHOUKROUN et al., 2006) e tem como propriedades promover a cicatrização das feridas, hemostasia, selamento das feridas, regeneração óssea (HARFOUSH M; BOUTROS E; NASHAR A, 2016). Um estudo prévio avaliou aleatoriamente 4 procedimentos hemostáticos diferentes como sutura, fibrina rica em leucócitos e plaquetas (L-PRF), fibrina rica em plaquetas avançadas (A-PRF) e celulose oxidade regenerada (Surgicel) e concluiu que tanto a L-PRF quanto a A-PRF foram superiores com relação aos demais.(BRANCACCIO et al., 2021). Soares ECS et al (2014) em um ensaio clínico utilizando 3 grupos diferentes sendo esponja de fibrina (hemospon), sutura ou ácido tranexâmico em pacientes anticoagulados submetidos a exodontia concluíram que os três métodos hemostáticos apresentaram eficácia na prevenção de sangramento pós-operatório. Estudo que avaliou a L-PRF como biomaterial hemostático em alvéolos após exodontias de 14 indivíduos submetidos a terapia anticoagulante, dos quais 2 tiveram complicações hemorrágicas resolvidas com simples hemostasia local com gaze umedecida com agente antifibrinolótico, concluiu que a L-PRF é uma alternativa eficaz para uso nos alvéolos após exodontias desses indivíduos. (SAMMARTINO et al., 2011) As esponjas de fibrina como hemospon e surgicel são eficazes hemostaticamente, muito utilizadas e de fácil aquisição comercial sem necessidade de coleta de sangue do paciente, mas como a L-PRF se mostra um agente hemostático natural com eficácia superior e por existir poucos estudos que demonstram seus benefícios em indivíduos em uso de anticoagulantes orais, justifica-se a necessidade de novos estudos clínicos sobre essa modalidade de terapia.(SARKAR et al., 2019) Então, o objetivo desse estudo é analisar a formação e manutenção de coágulo após exodontia em alvéolos dentais com o uso da L-PRF, esponja hemostática purcina e celulose oxidada regenerada em indivíduos em uso de terapia anticoagulante.
Justificativa
A L-PRF é um agente hemostático natural eficaz e favorece a cicatrização e selamento das feridas e cicatrização óssea. Seus benefícios são demonstrados em pacientes em uso de anticoagulantes orais embora hajam poucos estudos clínicos sobre essa modalidade de terapia que comprovem sua eficácia.
Objetivo(s):
Analisar a formação e manutenção de coágulo após exodontia combinada com o uso da L-PRF no alvéolo dental comparando com esponja hemostática purcina em pacientes com terapia anticoagulante sem a modificação da sua terapia prévia.
Metodologia e atividades desenvolvidas
Trata-se de um ensaio clínico aleatorizado e randomizado baseado no protocolo CONSORT com intuito de analisar a formação e manutenção de coágulo em alvéolo dental submetido a exodontia, com o uso de esponja hemostática purcina (EHP, Hemospon, Maquira Indústria de Produtos Odontológicos AS. Maringá – PR) comparado ao uso de fibrina rica em leucócitos e plaquetas (L-PRF) com razão de alocação 1:1. O presente estudo será delineado por dois grupos paralelos randomizados, de acordo com os critérios de elegibilidade, dentre os indivíduos cardiopatas anticoagulados internados na unidade de cardiologia do Hospital Geral de Cuiabá a serem submetidos a exodontia pelo serviço de Odontologia Hospitalar. A elegibilidade dar-se-á por indivíduos em uso de terapia anticoagulante de forma contínua, que tenham sido atendidos pelo Serviço de Odontologia com indicação cirúrgica para exodontia, que sejam maiores de 18 anos de idade e que apresentem valores de razão normalizada internacional (RNI) informado pelo tempo de protombina de até 3,5. Só serão incluídos na presente pesquisa os indivíduos que concordarem em participar da pesquisa e assinarem o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) específico da pesquisa em questão. Os indivíduos receberão informações detalhadas sobre o estudo e sobre o procedimento cirúrgico, riscos, tratamentos alternativos e sobre as recomendações pós-operatórias que deverão ser seguidas à risca. Serão excluídos da pesquisa os indivíduos com alteração nos exames laboratoriais pré-operatórios que contraindiquem a intervenção cirúrgica odontológica, quando por qualquer razão suspenderem o uso contínuo da medicação anteriormente à cirurgia e os que não colaborarem com as orientações pós-operatórias que interfiram na manutenção do coágulo. A não participação na pesquisa não trará qualquer prejuízo assistencial ao individuo.dia de pós-operatório. Haverá cegamento do cirurgião principal à randomização e à alocação da amostra, porém não à intervenção. Sequência aleatória e ocultação da alocação A randomização da amostra será realizada por investigador imparcial ao estudo (não envolvido no tratamento ou na seleção do paciente), baseado no cálculo amostral pré-determinado, contendo os dois tipos de tratamentos para cada alvéolo. Por meio de randomização em blocos múltiplos do número amostral, através do sítio de internet Randomization.com (http://www.randomization.com), este pesquisador armazenará as informações em envelopes idênticos, selados e opacos aos grupos, contendo os códigos sequenciais. Já um segundo investigador imparcial será responsável por alocar o paciente selecionado pelo recrutamento ao abrir seu respectivo envelope (conforme sequência pré-estabelecida pelo primeiro investigador) imediatamente antes do início do procedimento, momento em que saberá qual tipo de tratamento deverá ser executado para aquele alvéolo. O cirurgião responsável fará a avaliação dos alvéolos no pós-operatório aplicando a avaliação subjetiva referente ao nível de sangramento, descrita a seguir. Protocolo cirúrgico O procedimento cirúrgico será realizado sempre em período matutino pelo residente mais graduado de odontologia hospitalar da residência multiprofissional em saúde hospitalar para PNE do Hospital Geral de Cuiabá, sob supervisão direta de um único preceptor cirurgião-dentista do programa de residência, utilizando o mesmo procedimento padronizado a todos os indivíduos. Por se tratar de indivíduos cardiopatas, aqueles com necessidade de realizar profilaxia antibiótica à endocardite infecciosa receberão a medicação condizente (2g de amoxicilina ou 600mg de clindamicina aos alérgicos à penicilina, uma hora antes do procedimento). Os procedimentos deverão ser realizados em tempo cirúrgico adequado, com menor trauma possível e os alvéolos deverão ser limpos copiosamente com a remoção de todos os resíduos de tecido de granulação.Para as intervenções randomizadas, o grupo L-PRF, este será obtido a partir do sangue do próprio paciente por punção venosa periférica da região cubital do membro superior, coletado pelo mesmo preceptor cirurgião-dentista experiente, sendo utilizados 2 tubos de ensaio correspondendo ao volume total de 18ml de sangue venoso, os quais serão centrifugados a 2100 rpm por 10 minutos na centrífuga PRP/PRF (modelo K14-4000PRF – Kasvi). Após 5 minutos da centrifugação, os coágulos de fibrina serão colocados em orifícios do estojo de inox com pistões de metal posicionados acima dos agregados afim de obter os tampões de forma padronizada. Após isso, os agregados plaquetários deverão ser inseridos no alvéolo e em seguida realizada uma sutura eficiente com fio de nylon 4,0. Já o grupo EHP terá seu agente hemostático inserido dentro do alvéolo após a exodontia e em seguida realizada uma sutura eficiente com fio de nylon 4,0. Recomendações pós-operatórias Serão colocadas gaze cirúrgicas umedecida com soro fisiológico 0,9% nos locais operados e solicitar ao paciente mantê-las pressionadas por 30 minutos. Cada paciente deverá receber pacotes de gaze estéril para serem utilizadas em caso de sangramento, registrando a posição e a duração do sangramento em minutos. Caso não consiga conter o sangramento pelo período de 30 minutos, deverá entrar em contato via telefone (descrito nas orientações) com o cirurgião responsável. Os cuidados pós-operatórios a serem orientados, verbalmente e por escrito, serão:  Aplicação de gelo em face na proximidade do local operado de forma intermitente por 30 minutos, várias vezes ao dia por 3 dias;  Não utilizar anti-inflamatório não esteroidal;  Higiene oral no mínimo 3 vezes ao dia e sempre após as refeições. Escovar os dentes próximo ao local operado com delicadeza, utilizando fio dental no local a partir do 3º dia;  Enxágue bucal com digluconato de clorexidina 0,12% por 2 vezes ao dia após 30 minutos da higiene bucal;  Alimentação líquida e pastosa, fria ou gelada nos primeiros 2 dias de pósoperatório. Dieta quente e macia somente após 4º dia; Manter cabeceira elevada e não apoiar o rosto no local operado;  Evitar esforço, pegar peso por pelo menos 7 dias;  Não usar canudos, não fumar e evitar sol até o 3º dia de pós-operatório;  Se houver necessidade de espirrar, fazê-lo de boca aberta; O paciente deverá permanecer sob repouso por 30 minutos após o procedimento para a verificação do estado de sangramento de todos os locais operados, a seguir deverá ser reavaliado em beira leito após 2h, 6h, 1 dia e 7 dias de pós-operatório, momento em que é removida a sutura. A equipe de odontologia estará à disposição para o atendimento do paciente, caso haja necessidade de avaliações adicionais aos momentos planejados pela pesquisa, devido a qualquer intercorrência. Todas essas etapas serão documentadas em prontuário. A análise subjetiva deverá ser realizada por um avaliador cego ao método de hemostasia utilizado. Será utilizada a classificação de Souto et al., 1996: 1- Sem sangramento; 2- Sangramento leve (parou espontaneamente ou com compressão local mínima) e; 3 – Sangramento intenso (não cessou com as medidas anteriores, necessitando de adicionar agente antifibrinolíticos para auxiliar na hemostasia). Os dados obtidos bem como informações demográficas da amostra (idade, gênero, terapia anticoagulante, terapia hemostática utilizada) serão devidamente categorizados e inseridos em uma planilha do Excel®. O cálculo amostral à pesquisa proposta se baseou em estimativa de desvio padrão de 50%, considerando erro alfa de 5% e erro beta de 20%, sendo determinado o quantitativo de 25 sujeitos da pesquisa por grupo. Considerando a margem de perda amostral de 20%, determinou-se a quantidade de 31 indivíduos por grupo da pesquisa, a serem avaliados pelo teste T de grupos independentes pelo software Jamovi (The jamovi Project, 2021). O gerenciamento de eventuais dados perdidos se dará por imputação múltipla de acordo com a regra de Rublin, de acordo com o protocolo intention-to-treat e por casos tratados por completo.
Quais os resultados alcançados
As minhas experiências obtidas com o uso de L-PRF em pacientes em uso de anticoagulantes, sem a sua suspensão, trouxeram resultados fantásticos com relação à coagulação pós operatória além de proporcionar uma boa cicatrização local.
Considerações finais
As minhas experiências obtidas com o uso de L-PRF em pacientes em uso de anticoagulantes, sem a sua suspensão, trouxeram resultados fantásticos com relação à coagulação pós operatória além de proporcionar uma boa cicatrização local. Essa perspectiva de terapia além de haver um embasamento científico favorável, trás um benefício imenso ao paciente anticoagulado uma vez que a suspensão da terapia anticoagulante proporciona um risco grande de eventos tromboembólicos, o que podemos evitar com um cuidado pré-operatório e trans-operatório dentro do recomendado e com segurança a esses indivíduos.
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