Integração da dentística ao serviço de endodontia do Centro de Especialidades Odontológicas de Linhares

Identificação do autor responsável
Nome Município
Ricardo Spinassé Lechi Linhares
Autores do relato
Nome Município
Ricardo Spinassé Lechi LINHARES
Itamar Francisco Teixeira Linhares
Marcia Naomi Shigetomi Linhares
Rosiene Conti Feitosa Linhares
Edi Wagner Sasaki Linhares
Luciane Santos de Brito Mendes Linhares
Contextualização/introdução

Durante o período de pandemia do Coronavírus COVID-19, a partir das notas técnicas que orientavam suspensão dos atendimentos eletivos, o Centro de Especialidades de Odontológicas (CEO) de Linhares-ES foi readequado e tornou-se um serviço de apoio técnico operacional complementar aos atendimentos de urgência das equipes das unidades de saúde do município.
A medida que as entidades de controle sanitário orientaram pelo retorno seguro dos atendimentos eletivos, o CEO de Linhares foi, gradualmente, retomando seus atendimentos especializados, sempre seguindo os protocolos mais atualizados de biossegurança.
Segundo o CFO (Resolução CFO no 63/2005), a dentística é a especialidade odontológica que busca devolver ao dente a sua integridade fisiológica. Por se tratar de uma especialidade não compulsória no âmbito dos CEO, são raras as iniciativas de inclusão deste tipo de serviço nos centros de especialidades.
De maneira inovadora, em abril de 2021, a equipe de endodontia do CEO de Linhares decidiu integrar a dentística ao serviço. O objetivo inicial era realizar a restauração final pós-tratamento endodôntico no próprio CEO, mas a integração entre as duas especialidades apresentou diversas outras possibilidades.

Justificativa

Durante uma reunião da equipe de endodontia do CEO de Linhares em abril de 2021, os profissionais diagnosticaram o seguinte problema: o tempo entre a finalização do tratamento endodôntico e a restauração final do elemento dentário estava mais longo do que o esperado.
Este tempo prolongado com a restauração provisória aumentava bastante os riscos de infiltração ou perda do curativo, deixando o canal exposto ao meio bucal. Mais grave ainda que o risco de contaminação do canal recém tratado era o aumento do risco de fratura do remanescente dentário. Infelizmente, algumas destas fraturas ocorrem em regiões desfavoráveis e acabavam por indicar até mesmo a exodontia do elemento dentário.
Depois de diagnosticar o problema, os profissionais aprofundaram as discussões para encontrarem as principais causas dessa demora em realizar a restauração final.
Algumas vezes, a dificuldade em agendar a restauração final ocorria por causas eventuais: unidades que estavam temporariamente sem profissionais (férias, licenças médicas, licenças maternidade…) ou com problemas técnicos/manutenção nos consultórios odontológicos.
Foi identificado ainda que algumas unidades que referenciavam a endodontia para o CEO não conseguiam fazer a restauração do elemento dentário. Unidades de Urgência Odontológica, como o Hospital Geral de Linhares, encaminhavam pacientes para o serviço de endodontia mas tinham dificuldades de receber a contra-referência e restaurar o elemento dentário, pois não são serviços destinados ao atendimento eletivo. Outra dificuldade era da Unidade Móvel de Saúde de Linhares, que também fazia seus encaminhamentos de endodontia, mas o usuário tinha dificuldade em restaurar o elemento devido ao caráter itinerante do serviço.
Com o problema bem identificado, a equipe de endodontia, juntamente com a direção de saúde bucal do município, decidiu integrar o serviço de destística à equipe, possibilitando a realização da restauração final pós-tratamento endodôntico no próprio CEO.

Objetivo(s):

Restaurar no próprio CEO, com a maior presteza possível, os elementos dentários endodonticamente tratados daqueles pacientes que encontrarem dificuldade em agendar a restauração nas suas unidades de origem.

Metodologia e atividades desenvolvidas

O novo protocolo de endodontia do CEO de Linhares foi implementado em abril de 2021, ampliando a capacidade de atendimento e a gama de procedimentos ofertados. Nessa mesma data passou a funcionar o projeto piloto de integração da dentística com a endodontia no próprio CEO.
A princípio, buscou-se cirurgiões dentistas clínicos gerais da própria rede do município capacitados a realizar a dentística de média complexidade no CEO e instaurou-se o protocolo interno de funcionamento.
Na prática, os pacientes encaminhados para a endodontia pelo Hospital Geral de Linhares ou pela Unidade Móvel de Saúde já são automaticamente agendados para finalizar o tratamento restaurador no próprio CEO.
Os demais casos que necessitem do serviço são identificados de forma ativa e constante pela equipe do CEO. A equipe da recepção está sempre atenta e tentando antecipar eventuais dificuldades de agendamento das restaurações finais nas unidades de origem dos pacientes. Dessa forma, se a unidade de origem está passando por alguma manutenção estrutural, se o consultório está com algum problema técnico, se algum profissional está de férias ou de licença médica, por exemplo, a equipe já antevê o problema e já agenda a restauração final no próprio CEO. É muito mais seguro para a equipe de endodontia, que sabe que o dente não ficará muito tempo com a restauração provisória. É muito mais cômodo para o paciente, que já sai com seu horário agendado e não perde tempo buscando um serviço para realizar a contra-referência já que o atendimento está temporariamente interrompido na sua unidade de origem.

Quais os resultados alcançados

A base do projeto era a busca por uma forte integração entre as especialidades, para que cada uma pudesse extrair o máximo de benefícios da integração.
E assim ocorreu, de forma natural os objetivos iniciais foram sendo atingidos e outras possibilidades de integração foram surgindo.
Atualmente, atingiu-se um elevado grau de otimização do agendamento pós tratamento endodôntico no município. O tempo médio com a restauração provisória foi reduzido. A incidência de fraturas dentárias e de contaminações endodônticas por perda de curativos foram reduzidas. Notou-se redução até mesmo a quantidade de reclamações/ouvidorias a respeito do tema.
As outras possibilidades de integração que surgiram ao longo do percurso foram bastante relevantes. Notou-se que alguns casos encaminhados para a endodontia eram pulpites reversíveis, sem a indicação de tratamento endodôntico. A equipe de endodontia passou a direcionar estes casos para a equipe de dentística, que realiza os capeamentos pulpares, preservando a polpa dentária e otimizando tempo na agenda da endodontia.
Alguns pacientes do interior do município têm bastante dificuldade de transporte para a Sede, onde fica o CEO. Dessa forma, em alguns casos específicos as especialidades desenvolveram uma sincronia de atendimento que possibilitou a restauração definitiva no mesmo dia da finalização do tratamento endodôntico, muitas vezes ainda sob o mesmo isolamento absoluto.
Mesmos com os tratamentos endodônticos minimamente invasivos atuais, preservando ao máximo a estrutura dentária, nota-se que é comum que a estrutura dentária para a realização da restauração final é quase sempre bem menor do que o desejado, tornando essa dentística mais desafiadora, uma dentística de maior complexidade. Dessa forma, pode-se notar também que a presença de um profissional específico para tais restaurações também melhorou muito a qualidade e a taxa de sucesso dos procedimentos.

Considerações finais

A possibilidade da restauração do elemento endodonticamente tratado no próprio CEO trouxe segurança à equipe de endodontia e comodidade ao paciente. A redução do tempo com a restauração provisória, diminuiu o risco das contaminações endodônticas e das fraturas dentárias. De maneira mais profunda, estamos reduzindo o retrabalho e o desperdício de recursos.
A experiência é inovadora visto que a dentística não é uma especialidade compulsória nos CEO. Além disso, nos raros casos em que a dentística é oferecida, ela se apresenta como uma especialidade isolada, assim como as demais. A proposta apresentada é, além da inclusão, uma proposta de trabalho integrado com a equipe de endodontia.
A aplicação em outros locais ou instituições é factível. Não requer grandes investimentos. Basta apenas o recurso humano do profissional de apoio disponível e a criação de protocolos que criem a integração da dentística com a endodontia.
Quanto aos equipamentos e insumos, são praticamente os mesmos já utilizados pelos clínicos gerais da atenção primária em saúde. Pode-se incrementar com algumas resinas estéticas para facilitar a estratificação de elementos anteriores, kits de acabamento/polimento específicos, alguns retentores intra-radiculares para reforçar elementos com destruição coronária mais extensa. Ainda assim, são insumos de baixo custo comparados às demais especialidades.
A principal dificuldade é vencer a falta de comunicação e a tendência natural das especialidades em caminharem isoladas. Para ser eficiente o CEO precisa aprender a funcionar como uma verdadeira clinica integrada, as reuniões devem ser constantes e os planejamentos dos casos devem ser compartilhados. Vale ressaltar que a teleodontologia tem sido uma grande aliada nessa integração. Na prática, antes mesmo de iniciar o tratamento endodôntico, a restauração final já está sendo planejada. A equipe deve se antecipar ao problema, deve antever se a destruição coronária é muito grande ou se o paciente encontrará dificuldade em agendar a restauração na sua própria unidade por qualquer motivo.

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