A experiência ocorre na Secretaria Municipal de Saúde da cidade de Presidente Prudente, localizada na região oeste do Estado de São Paulo. Conta com aproximadamente 230.571 habitantes (IBGE, 2019). A cobertura de saúde bucal na atenção básica (AB) é de 56,86% (Ministério da Saúde, 2021). O atendimento odontológico na AB está presente em 20 Unidades de Saúde da Família (USF), 11 Unidades Básicas de Saúde (UBS) e em 15 escolas com consultórios odontológicos. Para a atenção secundária o município conta com 1 Centro de Especialidades Odontológicas (CEO) tipo II. O atendimento odontológico infantil especializado é ofertado em 5 UBS e no CEO, por meio de livre demanda ou pelo sistema de referência de outros pontos de atenção da AB. O trabalho preventivo direcionado aos escolares da rede estadual e municipal é realizado pelas Equipes de Saúde Bucal (ESB) das USF em seu território e pela Equipe de Prevenção Odontológica (EPO) nas demais unidades de ensino. O Serviço Odontológico de Urgência (SOU) está presente em três das quatro unidades que compõem a Rede de Urgência e Emergência Municipal. A experiência envolveu a Rede Básica Odontológica e o SOU, apoiados pela Supervisão Odontológica e Secretaria Municipal de Saúde.
A pandemia da COVID-19 impactou profundamente a atividade odontológica. Em março de 2020 ocorreu a suspenção dos atendimentos eletivos em todo o estado de São Paulo, sendo executados apenas os atendimentos de urgência, pautado pela mínima geração de aerossol. Com o tempo, houve a necessidade de buscar estratégias para iniciar a retomada destes atendimentos. O grupo gestor municipal, formado por profissionais cirurgiões-dentistas e auxiliares de saúde bucal dos diversos pontos de atenção da RASB teve a responsabilidade de analisar as evidências científicas e diretrizes governamentais para conduzir a retomada municipal dos atendimentos eletivos.
Um dos pontos considerados foi avaliar a articulação entre o SOU e a RASB com a finalidade de diminuir o fluxo de usuários nas unidades básicas de saúde, minimizando deslocamentos desnecessários e ampliando a resolutividade dos casos que necessitavam de continuidade do cuidado para sua completa resolução, levando em conta as recomendações de biossegurança dos órgãos sanitários. Outro ponto de ação foi implantar a prática da teleodontologia e a busca ativa para potencializar o cuidado odontológico.
Pôde-se verificar que a AB não recebia nenhuma informação sobre a utilização do SOU pelos usuários de sua área de abrangência. O paciente atendido pelo SOU era orientado verbalmente pela equipe a buscar atendimento de rotina na unidade de saúde mais próxima de sua moradia. Além disso, como os registros do atendimento eram feitos em prontuários físicos apenas, a RASB não conseguia ter acesso aos procedimentos e condutas realizadas pelo SOU, dificultando a comunicação em rede. Para diminuir a fragmentação identificada foram utilizadas planilhas online para que o SOU relatasse os procedimentos realizados no atendimento, identificando também a unidade de saúde de referência do usuário. Assim, através do compartilhamento dessas informações com toda a AB, cada unidade de saúde teve condições de identificar os pacientes residentes em sua área de abrangência que utilizaram o SOU e realizar a busca ativa pela equipe auxiliar ou a teleodontologia, realizada pelo cirurgião-dentista, para avaliar a necessidade de novo atendimento e solucionar a demanda pontual diariamente. Foram construídos fluxogramas para informar o percurso do usuário e o papel de cada integrante da RASB para facilitar a disseminação das informações e condutas a serem seguidas.
A redução da fragmentação assistencial e da comunicação ineficiente contribuíram para a longitudinalidade do cuidado e fortalecimento da AB. A introdução de fluxogramas e meios para o compartilhamento de informações sobre a conduta realizada pelo SOU para a AB de referência do usuário proporcionou seu acompanhamento regular, com a garantia de atendimento oportuno para concluir a demanda pontual, além de integrar os serviços para o trabalho em rede. O uso da teleodontologia proporcionou a oportunidade do cirurgião-dentista estar mais em contato com os usuários mesmo que remotamente, bem como a busca ativa realizada pela equipe auxiliar, ainda vem fazendo a diferença na AB.