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DIAGNÓSTICO DE CÂNCER E DOENÇAS BUCAIS DURANTE A PANDEMIA NA REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE DE PORTO ALEGRE-RS: TELECONSULTORIA EM ESTOMATOLOGIA COMO FERRAMENTA DE SUPORTE PARA A APS

Identificação do autor responsável
Nome Município
Juliana Romanini Porto Alegre
Autores do relato
Nome Município
Juliana Romanini Porto Alegre
Fabio Luiz Dal Moro Maito Porto Alegre
Mariana Klein Porto Alegre
SIBILA PERSICI Porto Alegre
Monica Franciosi Hermann Porto Alegre
Bruna Mua Porto Alegre
Caroline Schirmer Fraga Pereira Porto Alegre
Contextualização/introdução
Em março de 2020, os serviços de saúde do país foram reorganizados e os esforços direcionados às demandas relacionadas à pandemia Covid-19. Na Rede de Atenção à Saúde de Porto Alegre, muitos profissionais foram realocados para a linha de frente do combate à pandemia. Normas técnicas regulamentaram o atendimento odontológico, restringindo os atendimentos a situações de urgência ou prioritárias e implementaram adequações estruturais e no processo de trabalho para segurança na realização dos procedimentos. A restrição de circulação da população e de consultas eletivas, determinadas pelas normas de biossegurança, acabaram por comprometer o diagnóstico de muitas doenças, inclusive o câncer de boca. A iniciativa da implementação das teleconsultorias em Estomatologia, já no início da pandemia, foi fundamental para que a regularidade dos atendimentos fosse mantida, cumprindo o compromisso do atendimento a pacientes com suspeita de câncer bucal e outras demandas que fossem prioritárias. Neste contexto, os Estomatologistas dos Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs) de Porto Alegre, com o apoio da Unidade de Regulação Ambulatorial (URAMAB) e Núcleo de Saúde Bucal (NSB/DAPS) da Secretaria Municipal de Saúde, buscaram solução para que o fluxo já estabelecido entre a APS e a especialidade de Estomatologia dos CEOs, para o diagnóstico precoce do câncer e de outras doenças bucais, não ficasse comprometido em função da pandemia. Esta atividade teve início em março de 2020, com momentos de maior utilização, seguindo até os dias atuais. Por meio eletrônico e telefônico todas as unidades da atenção primaria (APS) têm acesso ao contato direto com o especialista de referência. O profissional da APS (cirurgião-dentista, médico ou enfermeiro) solicita o apoio do consultor para discutir os casos de forma síncrona ou não, sendo resolutivos em sua própria unidade sob orientação especializada ou priorizando o agendamento dos casos a serem referenciados, via sistema de agendamento, para atendimento no CEO.
Justificativa
A luta permanente nos serviços de saúde, principalmente no caso de doenças graves, é a redução do tempo transcorrido entre o surgimento/identificação da doença e o início do tratamento. Nessa linha de tempo, o diagnóstico precoce é fundamental na redução da morbidade e mortalidade associadas às doenças, principalmente o câncer bucal. Assim, possibilitar o acesso do usuário ao serviço, com diagnóstico e início breve aos tratamentos disponíveis, muitas vezes salvando vidas, é o que justifica as nossas iniciativas como agentes de saúde.
Objetivo(s):
GERAL Acolher as demandas em Estomatologia das Unidades de Saúde (US) da Atenção primária à Saúde da Rede de Porto Alegre, identificadas pelos profissionais de nível superior (dentista, médico, enfermeiro). ESPECÍFICOS 1 Avaliar, por meio de imagens e informações fornecidas, a situação clínica apresentada pelo profissional da US; 2 Orientar os profissionais na avaliação presencial e condutas, mantendo o paciente em atendimento na US, sempre que possível; 3 Organizar o agendamento presencial para a Estomatologia, sempre que necessário ou dos casos suspeitos de câncer bucal; 4 Seguir as rotinas estabelecidas para os pacientes agendados presencialmente: avaliação, biópsia, diagnóstico final, tratamento no próprio serviço ou encaminhamento para tratamento em nível hospitalar; 5 Realizar a discussão dos casos clínicos com CEOs, APS, URAMB e NSB, para as excepcionalidades (matriciamentos).
Metodologia e atividades desenvolvidas
A incorporação de tecnologias de informação e comunicação que, aos poucos, vinha sendo inserida na rotina para melhoria da qualidade na prestação de serviços na rede de saúde, foi fortalecida durante a pandemia. Por meio eletrônico e por aplicativo de troca de mensagens e comunicação em áudio e imagens, os dentistas da atenção primária em saúde (APS) receberam orientações de como proceder sempre que houvesse necessidade de discutir os casos de lesões bucais, direcionando as informações e imagens para a Estomatologista referência, disponível durante todo o horário de atendimento das unidades de saúde (das 7 às 22h). Os casos poderiam ser discutidos de forma síncrona (com o paciente ainda na Unidade) ou não. Além dos dentistas, médicos e enfermeiros poderiam também utilizar a ferramenta, sempre que se fizesse necessário. Dessa forma, as necessidades foram equalizadas e a resolutividade de cada situação clínica organizada conforme a complexidade. Quando possível, os pacientes permaneceram na Unidade de Saúde (US), para tratamento ou em acompanhamento com o cirurgião-dentista clínico, sob orientação do especialista. Quando necessário, o especialista organizava a consulta presencial em Estomatologia, que já era agendada, via sistema de regulação, com prioridade, para um dos CEOs de referência, para a realização da avaliação, biópsia e encaminhamentos necessários para início breve do tratamento. Foram considerados, como forma de comparação, os anos de 2019 (antes da pandemia). 2020 (auge da pandemia, maiores restrições) e 2021 e 2022 (retomada gradativa da normalidade).
Quais os resultados alcançados
No período de março de 2020 a março de 2022, mais de 100 dentistas solicitaram apoio por teleconsultoria. De forma mais frequente no primeiro ano, mas mesmo voltando à normalidade dos atendimentos, as solicitações continuam acontecendo. Em relação ao número de consultas solicitadas para a Estomatologia-CEO, 2019, foram 1441 consultas, em 2020, 863 e em 2021, 1295. Considerando os períodos de 12 meses em cada ano. O tempo transcorridos (dias) em cada etapa da linha de cuidado do paciente com câncer de boca foi comparado antes e depois do início da pandemia da COVID-19. A análise do encaminhamento do paciente da atenção primária para a atenção secundária revelou uma mediana de 15 dias antes da pandemia (2019) e uma mediana de 11 dias durante a pandemia (2020-21). Dos pacientes atendidos e biopsiados nos CEOs próprios da SMS, tiveram diagnóstico confirmado de câncer bucal: 34 pacientes em 2019, 32 em 2020, e 26 em 2021. Todos encaminhados para tratamento oncológico nos hospitais de referência. Independentemente dos números registrados, a possibilidade de ter um canal aberto para discussão, entre o profissional generalista, que está na ponta, e o especialista da média complexidade, fortalece a rede de atenção em saúde. Permite que a APS acompanhe o itinerário do paciente ao longo da trajetória do diagnóstico e tratamento na rede. E, principalmente, fortalece a qualificação do cuidado entre os diferentes níveis de atenção.
Considerações finais
O empenho em reduzir os tempos desde a identificação/suspeita da doença ao início do tratamento, aumenta as possibilidades de cura. Entretanto, os dados da literatura referem que, nos casos de câncer bucal, a maior parte dos pacientes já chega aos serviços de diagnóstico com a doença em estágios avançados e com prognóstico desfavorável. A articulação entre a APS e o CEO, com apoio dos gestores, possibilitou a manutenção da eficiência dos atendimentos em Estomatologia e o diagnóstico precoce ao câncer bucal na rede de Porto Alegre, mesmo durante a pandemia da COVID-19. Por meio da teleconsultoria com o especialista em Estomatologia, os dentistas generalistas das Unidades de Saúde receberam, e ainda recebem, a orientação para conduzirem casos mais complexos, com segurança: seja para tomada de decisão e tratar o paciente ou mesmo fazer o encaminhamento necessário, priorizando os casos graves. É uma ferramenta de suporte que possibilita a discussão dos casos entre o cirurgião-dentista clínico geral e o especialista, qualificando o atendimento ao paciente e priorizando os caos suspeitos de neoplasias e outras doenças graves com manifestação bucal. Considerando a estimativa para Porto Alegre, informada pelo Inca, para o período, de 70 novos casos/ano. Os Centros de Especialidades Odontológicas, da rede própria de Porto Alegre, são fundamentais e resolutivos para o diagnóstico do câncer bucal. A ferramenta segue ativa para discussão dos casos, ainda em adaptação às mudanças determinadas pela reorganização de estrutura e legislação. Estabeleceu-se um diálogo entre os diferentes níveis de atenção, cujo maior beneficiado foi e segue sendo o usuário, em momento tão restrito.
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