A Consulta de Enfermagem é uma atividade privativa do Enfermeiro e reforça a relevância da prática clínica do profissional, de forma autônoma e baseada em evidências científicas. Se apresenta como atribuição central do enfermeiro na Política Nacional de Atenção Básica e de acordo com o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), quando em instituições prestadoras de serviços ambulatoriais de saúde, domicílios, escolas, o Processo de Enfermagem corresponde ao usualmente denominado nesses ambientes como consulta de Enfermagem.
Em Florianópolis, a consulta de Enfermagem se constitui como projeto fundante e estruturante da Comissão Permanente de Sistematização da Assistência de Enfermagem (CSAE). É a primeira modalidade da formação para utilização dos Protocolos de Enfermagem, onde são alinhados os conceitos que embasam a prática clínica do Enfermeiro.
A realização da consulta de Enfermagem está contida na Política Municipal de Atenção Primária à Saúde (PMAPS) (FLORIANÓPOLIS, 2016), como atribuição do enfermeiro e na Carteira de Serviços da APS do município de Florianópolis (FLORIANÓPOLIS, 2014), como serviço essencial prestado à população.
Nesse contexto, a comunicação clínica apresenta-se como uma importante ferramenta de trabalho do enfermeiro na sua prática de APS, favorecendo a construção de vínculo com os usuários, fortalecendo as relações, permitindo a efetivação de um cuidado de qualidade e seguro, bem como a consequente satisfação do usuário e maior adesão aos planos de cuidados construídos.
Apesar da comunicação ocupar grande importância na assistência à saúde, há uma escassez em formação profissional nessa área. Os currículos de graduação e pós-graduação quando abordam o tema, ainda o fazem de forma incipiente, focalizada na teoria e distante da prática. Nessa perspectiva, tem-se um universo de profissionais sem formação específica e, muitas vezes, sem conseguir refletir sobre o processo de assistência que tem prestado e os fatores que nele interferem.
A responsabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS) na ordenação de recursos humanos para a área e, nesse sentido, como campo de aprimoramento da atuação profissional, dispõe-se da proposta de uma prática educativa inovadora por meio da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS).
A Educação Permanente é definida como a aprendizagem que ocorre no cotidiano do trabalho, onde na rotina do serviço são agregados elementos das metodologias educacionais (BRASIL, 2007). A PNEPS propõe incorporar o ensino-aprendizagem nos serviços de saúde, baseando-se na aprendizagem significativa e na possibilidade de transformar as rotinas profissionais. Tem seu desenvolvimento a partir de problemas identificados na realidade vivenciada, situa o processo de trabalho como foco da aprendizagem e, portanto, reivindica a reflexão sobre a prática e a participação dos enfermeiros como atores do processo de ensinar e aprender.
A capacitação em habilidades de comunicação, por meio da educação permanente, pode potencializar a capacidade reflexiva e de gestão do trabalho dos enfermeiros (RIBEIRO, 2012). O que pode repercutir em sua prática cotidiana para além das questões comunicacionais e promover qualificação do cuidado.
A comunicação clínica é um tema transversal a outras temáticas e permeia todos os encontros de vivência do cuidado em saúde, sejam eles, individualizados ou coletivos, e também as relações interpessoais dentro da equipe. Essa proposta de formação contribuirá para a relação clínica enfermeiro-paciente, mas também pode impactar nas outras necessidades de atividade de educação identificadas no serviço, pois pode aumentar a efetividade dos encontros educativos uma vez que as habilidades adquiridas poderão ser incorporadas às demais práticas de saúde que não somente a consulta clínica individual.
Esta experiência trata, portanto, da realização de educação permanente em serviço, a partir de oficinas sobre comunicação clínica para enfermeiros residentes do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (PREMULTISF) da Escola de Saúde Pública (ESP) do município de Florianópolis. Os atores envolvidos foram os enfermeiros preceptores do PREMULTISF com formação em Habilidades de Comunicação, sendo estes os responsáveis pela elaboração e realização das oficinas; residentes de enfermagem do referido programa (público-alvo).
O projeto teve apoio da Gerência da Atenção Primária (GAP) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Florianópolis, da ESP e da Comissão Permanente de Sistematização da Assistência de Enfermagem (CSAE).
Essa proposta de formação tem como princípio a relação do profissional com o usuário na perspectiva de cuidado integral, que é a base da Estratégia Saúde da Família (ESF) na APS. A capacitação em habilidades de comunicação clínica objetiva aperfeiçoar a relação enfermeiro-usuário e facilitar a abordagem centrada na pessoa, na família e na comunidade. Além disso, permite ao profissional, a valorização das experiências individualizadas do processo de adoecimento de forma a compreender o impacto que o processo de adoecer tem sobre os diferentes usuários.