Revisão de literatura e experiências de outros países
O primeiro momento para o desenvolvimento da atividade foi a revisão de literatura a respeito da teleconsulta em outros países, no momentos pré pandemia e também nas adaptações realizada com a chegada da pandemia, considerando que muitos países experienciaram a pandemia antes de chegar no Brasil e se prepararam para tal enfrentamento. Então documentos internacionais foram revisados, alguns traduzidos e adaptados para a realidade de Florianópolis para servir de base para o documento municipal que serviria de guia para os enfermeiros da rede.
Elaboração do Guia com base na Resolução 634
Ao estruturar o guia de teleconsulta para enfermagem, foi pensado em alinhar ao máximo essa estratégia de atendimento ao que é a consulta de enfermagem presencial. Entendendo que a teleconsulta deve estar inserida na Sistematização da Assistência de Enfermagem e ter o processo de enfermagem como modo de execução da consulta, para isso, preconiza-se os passos previstos na Resolução 358 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN, 2009).
Tendo firmada a base no processo de enfermagem, a proposta do guia foi de apresentar a Resolução 634/2020 de forma detalhada com orientações acerca de sua execução na prática pelos enfermeiros.
No guia, são abordados os requisitos para a realização da teleconsulta de qualidade, desde os equipamentos necessários para o enfermeiro e para o usuário, como as indicações sobre que tipo de atendimento pode ser feito a distância e qual deve ser realizado presencial. Sempre lembrando do caráter complementar que a teleconsulta possui em relação ao atendimento presencial, ela não é entendida como uma ferramenta substitutiva.
Outro ponto frisado é em relação a segurança do profissional e do usuário na realização da tele, toda demanda deve ser avaliada em relação a sinal de alerta e ao encontrar 1% de dúvida, é orientado a atender o paciente presencialmente.
No guia é reforçada a importância do registro do atendimento no prontuário, no caso de Florianópolis eletrônico, que deve seguir os moldes também da consulta presencial, acrescido da informação a respeito do consentimento. No guia foram pensadas algumas formas de consentimento e, na prática, percebe-se que o consentimento verbal é o mais utilizado, por isso a necessidade de registrar que o paciente foi esclarecido sobre a realização da teleconsulta e forneceu consentimento verbal para tal. Além disso, também há orientação de que o enfermeiro deixe registrado o meio que foi utilizado para a teleconsulta, se foi consulta por chamada de vídeo, voz ou mensagem de texto.
Um dos pontos que vale ser destacado como lição aprendida nesse período de execução das teleconsultas foi em relação ao tipo de contato utilizado para a teleconsulta. Basicamente há a chamada de vídeo, a chamada de voz ou a mensagem de texto. Dos três tipos, orienta-se que a primeira escolha para os atendimentos seja a chamada de vídeo, por permitir maior interação e percepção da linguagem não verbal na comunicação com a pessoa que está sendo atendida.
Inclusive, em relação às chamadas de vídeo, documento da Universidade de Oxford, mostra que são seguras para pacientes de baixo risco; promovem elevada satisfação dos usuários e profissionais; confiabilidade e boa conexão técnica são importantes; e é possível realizar um limitado exame físico (GREENHALGH, 2020).
Capacitação dos enfermeiros
A implantação desta nova ferramenta necessitou uma verdadeira adaptação dos profissionais de saúde e principalmente aos enfermeiros, pois além de ser uma novidade no contexto dos serviços de saúde, a teleconsulta por meio eletrônico é algo novo e, até o início da pandemia, não incorporado a realidade dos cursos de graduação, pois conforme sabemos a regulamentação da teleconsulta para a enfermagem só foi realizada em abril de 2020 (COFEN, 2020).
Neste contexto, foi necessário estabelecer estratégias de educação permanente e capacitação nesta temática, surgindo um grande questionamento: Como realizar capacitações e educação permanente numa realidade onde o distanciamento social é a peça chave?
A resposta disso foi mais uma vez o uso da tecnologia como aliada. Utilizando o apoio virtual de reuniões com a categoria e fundamentalmente o uso das redes sociais através de “lives”, ou seja, um tipo de seminário virtual no qual a teleconsulta foi abordada e apresentada aos participantes.
Desde a primeira oportunidade ficou claro o compromisso e a disposição por parte dos profissionais de enfermagem da Rede municipal de Florianópolis no que tange a adoção da teleconsulta na realidade dos serviços de saúde municipais. Compromisso este, ainda mais fortalecido, quando os profissionais perceberam a relevância da mesma no cuidado dos usuários sob sua gestão.
As capacitações da rede municipal abordaram os seguintes temas:
O que teleconsulta?
Regulamentação e legislação aplicada a teleconsulta de enfermagem
Processo de Enfermagem na teleconsulta
Exame físico a distância no âmbito da teleconsulta de enfermagem
Dúvidas, receios e sugestões.
Atualização do Guia
Após a implantação e uso do guia de teleconsulta, percebeu-se a necessidade de uma atualização incluindo orientações a respeito do exame físico que seria possível durante a teleconsulta. Para adequação à necessidade da enfermagem da rede e também buscando aprimorar a primeira versão do guia, elaborado no início da pandemia, a CSAE trabalhou para atualizar a versão, incluindo os principais motivos de procura por atendimento na APS. Nas orientações de exame físico, frisa-se a necessidade de avaliar a indicação de teleconsulta ou consulta presencial, baseado na presença de sinais de alerta para cada motivo de consulta. A teleconsulta apresenta limitações para realização de um exame físico completo, mas isso não significa que boas avaliações não podem ser realizadas e com bom grau de confiabilidade.
Na atualização do guia, foi acrescentado um anexo com guia de exame físico para ser realizado durante a teleconsulta contemplando os principais motivos de consultas na APS. As queixas são apresentadas sempre alinhadas com os protocolos de enfermagem municipais, incluindo uma sessão sobre sinais de alerta a serem descartados para prosseguimento da avaliação. O guia é ilustrativo e detalhado sobre cada passo, orientando quais ações ou movimentos devem ser solicitadas ao usuário e qual avaliação e conduta a partir do que for detectado no vídeo.