O uso da tecnologia digital na condução de um grupo de gestante

Tema do relato:
Assistência à Saúde na Linha de Cuidado Materno Infantil

Sua experiência está relacionada a que área:
Atenção em saúde

Instituição onde a experiência se desenvolve/desenvolveu (serviço/instituição)
Universidade Federal Fluminense/Campus Universitário de Rio das Ostras

Autor(es) Principal
Jane Baptista Quitete
Autor(es)
Jane Baptista Quitete
Rosana de Carvalho Castro
Brenda Freitas Pontes
Laelma de Jesus
Raquel Cardoso Teixeira
Gisele Cordeiro Fernandes
Sallisa da Silva Souza

Situação atual da experiência
Em estágio avançado de execução

Data de início da experiência
2017-07-06

Contextualização/introdução
No ano de 2017 demos início a uma atividade acadêmica proposta pela equipe do Consultório de Enfermagem Érick Igor dos Santos (Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão) localizado no Campus de Rio das Ostras da Universidade Federal Fluminense junto a Pastoral da Terceira Idade da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, situado no município de Rio das Ostras. Esta parceria começou entre as instituições através das atividades: Projeto “Obra do Berço” que propõe realizar atividades de educação em saúde com as gestantes cadastradas em encontros agendados previamente, com periodicidade quinzenal, às terças-feiras, no horário de 15 às 16 horas, realizados no auditório da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, localizada no centro da cidade de Rio das Ostras/RJ; e o Projeto de Ensino “Gestantes de Vida: espaço de empoderamento feminino” desenvolvido por docentes coordenadoras do grupo de pesquisa/CNPQ: Laboratório sobre Mulheres e Enfermagem (LEME/ UFF do Departamento de Enfermagem da Área de Saúde da Mulher do Campus de Rio das Ostras da Universidade Federal Fluminense. Tendo em vista a deflagração da pandemia pelo novo coronavírus em março de 2020 no Brasil, a realização do grupo de gestante passou a ser virtual, utilizando as ferramentas das tecnologias digitais (QUITETE et al, 2021). A pandemia da COVID-19 trouxe a necessidade do distanciamento social e de novos formatos de ensino e comunicação em saúde. Até o momento, ainda estão sendo realizadas pesquisas e estudos sobre como a COVID-19 acomete a mulher durante a gestação, parto, puerpério e lactação. Contudo, o Ministério da Saúde do Brasil incluiu as gestantes no grupo de risco porque as infecções, de modo geral, costumam ser piores durante a gravidez. Quando a mulher engravida seu sistema imunológico, que é o responsável pelo combate de doenças como a COVID-19, fica mais frágil (CUNHA; ALBUQUERQUE, 2020). A saúde da mulher é apresentada aos discentes do Curso de Graduação em enfermagem/Campus Universitário de Rio das Ostras nas disciplinas de Enfermagem no cuidado à saúde da mulher I e II, no 6º e 7º período respectivamente, introduzindo o aluno no campo teórico e prático para o desenvolvimento de competências e habilidades no cuidado integral à saúde da mulher em todo seu ciclo vital. O arcabouço teórico das disciplinas abordam temas como: fisiologia do sistema reprodutor feminino, gênero e sexualidade, planejamento reprodutivo, gestação, parto e puerpério, amamentação, promoção e prevenção do câncer do colo de útero e mama, IST, violência doméstica, entre outros, permitindo aos discentes, o desenvolvimento de habilidades e competências em uma perspectiva holística e tendo como eixo norteador a Política Nacional de Atenção à Saúde da Mulher (BRASIL, 2007). Vale ressaltar que, as disciplinas são pautadas na garantia dos direitos sexuais e os direitos reprodutivos, que são considerados Direitos Humanos já reconhecidos em leis nacionais e documentos internacionais. Os direitos, à saúde sexual e à saúde reprodutiva são conceitos desenvolvidos recentemente e são considerados uma conquista histórica, fruto da luta pela cidadania e pelos Direitos Humanos (BRASIL, 2013). No âmbito do ensino prático, os alunos contavam com atividades no Consultório de Enfermagem do Campus Universitário, no Centro Municipal de Saúde Extensão do Bosque, no Hospital Municipal Naelma Monteiro, todos esses cenários sitos no município de Rio das Ostras, participando do atendimento às mulheres em diferentes fase da vida. Para que o atendimento à mulher seja eficiente, o profissional de enfermagem deve proporcionar condições que permitam à mulher se descobrir como um ser integral, merecedor de muitos cuidados, inclusive aqueles relacionados à saúde. Acredita-se que a as práticas educativas seja um dos caminhos facilitadores desta descoberta. Segundo o Ministério da Saúde (2012), entre os papéis do enfermeiro está a de desenvolver atividades educativas, individuais e em grupos na atenção básica. A posto que Batista et al (2016) considera que atividades em grupos com gestantes são efetivas para os pais e a família, exemplificando assim a importância do questionamento levantado e enfatizando a relevância das atividades educativas durante o pré-natal. A prática de enfermagem na perspectiva da integralidade inclui atividades clínicas e de educação em saúde, compreendendo educação em saúde como um processo de construção de conhecimento e práticas em saúde que contribui para aumentar a autonomia das pessoas, tornando-os sujeitos ativos, capazes de contribuir no enaltecimento de capacidades, autoestima, autoconfiança e autorealização (RAMOS et al, 2018). Imprescindível o desenvolvimento de um pensar crítico e reflexivo, que proponha ações transformadoras e de emancipação do sujeito, que deste modo, torna-se capaz de decidir sobre o cuidado de si, de sua família e de sua coletividade (QUITETE et al, 2021). A implementação de tecnologia digital tem sido uma ferramenta de trabalho utilizada por enfermeiros em todo país e até internacionalmente, com potencial para subsidiar as práticas de enfermagem em situações que inviabilizam o atendimento presencial do usuário, podendo prestar assistência mesmo à distância, oferecendo cuidados em saúde em menor tempo, com redução de custos e da carga horária (NEVES et al, 2020).
As atividades de educação em saúde são recursos que permitem a aproximação entre profissionais e receptores do cuidado além de contribuírem para o oferecimento de assistência humanizada. Além do mais é uma ação que faz parte das proposições dos protocolos nacionais de Assistência ao Pré-Natal de risco habitual (BRASIL, 2013). Nos anos de 2020 e 2021 devido à pandemia da Covid19 foi necessária uma adaptação a novas tecnologias educacionais com adesão as ferramentas digitais e mídias sociais o que possibilitou a continuidade das ações educativas à distância, de forma acessível, gratuita e online. Deste modo, este projeto justifica-se por contribuir no processo de ensino-aprendizagem dos graduandos de enfermagem em saúde da mulher, sedimentando conceitos e aprendizado no âmbito das práticas educativas. Bem como, possibilitou a continuidade das ações educativas à distância às gestantes, minimizando os riscos a exposição da COVID-19.
Relatar a experiência do uso da tecnologia digital na condução de um grupo de gestante durante o isolamento social em decorrência da pandemia nos anos de 2020 e 2021.
Trata-se de um projeto de ensino-aprendizagem vinculado às disciplinas obrigatória (Enfermagem no cuidado à saúde da mulher I e II) e optativa (Aconselhamento em IST/HIV e Hepatites Virais) do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal Fluminense do Campus de Rio das Ostras, com carga horária anual de 100 horas. Desde 2019, o projeto já contava com duas redes sociais (Facebook e WhatsApp), com intuito de facilitar a comunicação entre as participantes do grupo, bem como exibir o registro dos grupos presenciais. Após a deflagração da pandemia em março de 2020, foram criadas outras páginas (Instagram e Youtube) com vistas a veicular conteúdo informativo/educativo. As estratégias metodológicas utilizadas para execução do projeto foram: manutenção das redes sociais; elaboração da programação semestral/anual; produção de conteúdo contemplando temas de caráter multidisciplinar, emancipador e promotor da saúde da mulher. O conteúdo informativo/educativo (pautado na literatura científica) é publicizado por meio de posts, vídeos (IGTV e Reels), stories, enquetes (caixa de perguntas) e canal de comunicação direta (direct). Bem como, na realização de eventos no formato ao vivo (live), e gravado (IGTV), utilizando linguagem clara e acessível à população.
Desde sua criação, 231 gestantes participaram deste projeto (2017:16 gestantes; 2018: 61 gestantes; 2019: 94 gestantes; 2020: 12 gestantes; e 2021: 48 gestantes). O perfil das gestantes participantes do projeto revela que: há maior proporção de mulheres de 20 a 29 anos (50%), solteiras (75%), com idade gestacional de 28 a 34 semanas (52,6%), que realiza pré-natal no serviço público (98,3%), deseja a via de parto vaginal (33,3%), deseja laqueadura tubária no pós-parto (18%), não teve a presença de acompanhante nas reuniões presenciais do Grupo de Gestante (78,3%), e que deseja visita domiciliar no pós-parto (76,7%). Com relação às ações educativas, foram postados os seguintes conteúdos: hepatites virais, amamentação, duração do aleitamento materno, tipos de aleitamento materno, vídeo explicativo sobre método contraceptivo LAM (lactação amenorreica), amamentação e as drogas, prevenção do suicídio, setembro amarelo, outubro rosa, fatores de risco do câncer de mama, divulgação de eventos como Roda de relato de parto com pais e curso de atualização sobre câncer de mama, alterações suspeitas nas mamas, o que é o câncer de mama, o que é o câncer de colo de útero, divulgação abertura de agenda da teleconsulta de enfermagem à mulher em amamentação, sinais de alerta do câncer de mama. No decorrer de sua existência, o projeto contou com a participação de 32 discentes, de diferentes períodos, do Curso de Graduação em Enfermagem.
Essa experiência foi importante, pois tem uma contribuição social com relação ao empoderamento das gestantes atendidas. Além disso, essas mulheres foram contempladas quanto à atenção integral ao cuidado de sua saúde. Quanto aos discentes de enfermagem essa ação contribuiu com para a formação acadêmica no âmbito do ensino, pesquisa e extensão. Essa experiência pode ser considerada inovadora, pois o uso da tecnologia digital possibilitou a continuidade das práticas educativas durante a pandemia da COVID-19, de modo que, o cuidado pôde ser levado às gestantes, sem que houvesse exposição das mesmas no atual contexto epidemiológico. Consideramos que essa experiência tem relevância na produção de conhecimento acadêmico e científico tendo potencial para ser aplicada em outras instituições de ensino e saúde. As principais dificuldades vivenciadas pelas gestantes foram: a falta ou ineficácia de recursos tecnológicos (rede de internet e equipamentos) e ambiente inadequado para acessar as redes sociais. Como estratégia de enfrentamento foi criado material impresso a ser divulgado presencialmente na instituição parceira explicando as novas modalidades de acesso as práticas educativas. Com essa experiência foi possível o aprendizado de muitas lições. De vida, sociais, econômicas, culturais, tecnológicas. Enfim, recomendamos que diante das adversidades da vida, incluindo esta pandemia, temos que inovar nas ações de ensino, pesquisa, extensão com vistas a garantir a atenção integral à saúde da mulher. Referências: Batista, MG. et al. Contribuições de Atividades Grupais para Mulheres Grávidas: Revisão Integrativa. Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança – Abr. 2016; 14(1): 27-36. Disponível em: . Acesso em: 28 out. 2021. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – 1. ed. rev. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2012. 318 p.: il. – (Cadernos de Atenção Básica, n° 32). Disponível em: . Acesso em 28 out. 2021. _____, Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção à Saúde da Mulher. Princípios e diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde, 2007. Disponível em: . Acesso em 02 jun. 2021. _____. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde sexual e saúde reprodutiva/Ministério da Saúde (Cadernos de Atenção Básica, n. 26). Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: . Acesso em 02 jun. 2021. Cunha, ACB da; Albuquerque, KA de. Vivendo em tempos de COVID-19: o que posso fazer quando sou gestante? Rio de Janeiro: K.A. Albuquerque, 2020. Disponível em: . Acesso em: 17 set. 2021. Neves, DM. et al. Tecnologia móvel para o cuidado de enfermagem durante a pandemia da COVID-19. Enferm. Foco, Brasília, 11 (esp. 2): 160-166, 2020. Disponível em: . Acesso em 14 fev.2021. Quitete, JB. et al. O uso de mídias sociais como ações educativas na condução de um grupo degestantes durante a pandemia de COVID-19. IN: Jose Henrique de Lacerda Furtado (Organizador). Integralidade e Saúde: experiências, desafios e possibilidades no contexto pandêmico brasileiro. Campo Grande: Editora Inovar, 2021. 153p. Disponível em: . Acesso em 02 jun. 2021. Ramos, CFV. et al. Práticas educativas: pesquisa ação com enfermeiras da Estratégia de Saúde da Família. Rev. Bras. Enferm, Brasília, v. 71, n. 3, p. 1144-1151, May 2018. Disponível em: . Acesso em 17 fev.2021.

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