A “Rede Colaborativa PICS” articula saberes e práticas interprofissionais e interdisciplinares de cuidados complexos e de educação em saúde, por meio de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, durante a sindemia de Covid-19, e traduz-se em diferentes modos de pensar, de agir e de imaginar no campo de saberes e práticas de cuidados complexos em saúde, experimentados em caminhos e com recursos plurais. É uma rede descentralizada, organizada como “círculos em redes” (Ceccim, 2013), em que diferentes instituições, equipes e trabalhadores/as em saúde compõem suas diferenças e criam possibilidades de fazer algo juntas/os.
Pensar, agir e imaginar são dimensões inseparáveis da atividade humana. Entretanto, de modo esquemático, considerado a que se dedica cada dispositivo, nó ou força instituinte da Rede, pode-se classificá-los assim:
Organizações e Processos
Descrição
Modos de pensar e imaginar a Rede
Gestão colegiada
Educação Permanente
Ouvidoria
Avaliação
Modos de fazer acontecer
Divulgação
Mapa de Profissionais
Atendimentos a distância
Registro dos atendimentos
Estes espaços, dispositivos, modos de organização e de funcionamento da Rede serão detalhados abaixo. Antes, descreve-se os participantes da rede, como gestoras/es e coordenadoras/es de processos, terapeutas e usuários.
Participantes e público
A Rede Colaborativa PICS, proposta a partir da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), instaura-se com a colaboração interinstitucional e interprofissional.
As instituições participam de diferentes maneiras da experiência. A Rede de Educação em Saúde Coletiva do Rio Grande do Sul (RESC), apoiada pelo projeto de extensão Tramar Saúde Coletiva, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do SUL (IFRS), disponibiliza a plataforma on-line e cria as condições para a criação de um terreno comum, de aproximação e conexão de pessoas envolvidas nas práticas de cuidado em saúde, na modalidade a distância.
Por sua vez, as seguintes instituições participam diretamente da gestão da Rede:
área técnica de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) da Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul;
área técnica de PICS da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre;
Projeto de Extensão Educação popular, equidade e saúde da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS);
Laboratório de Saúde Integrativa da Unisinos.
Ainda, ao integrar a campanha “Proteger o trabalhador e a trabalhadora é proteger o Brasil”, promovida pelo Conselho Nacional de Saúde, amplia-se a divulgação e a difusão da Rede em diferentes regiões do Brasil.
As/os profissionais que realizam os teleatendimentos distribuem-se em diferentes áreas profissionais, cumprido, como requisito mínimo, a qualificação e habilitação profissional para a realização de Práticas Integrativas e Complementares em saúde. As inscrições e a realização dos teleatendimentos são voluntárias, sem remuneração. Atualmente há, aproximadamente, 165 profissionais em atividade.
Há profissionais cadastradas/os na Região Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. As áreas de cuidado são:
Medicina Tradicional Chinesa
Homeopatia
Terapia Floral
Aromaterapia
Arteterapia
Ayurveda
Práticas corporais
Dançaterapia
Fitoterapia
Meditação
Reiki
Relaxamento
Expressão criativa
Os atendimentos destinam-se às/aos profissionais e estudantes de saúde da “linha de frente” da Covid-19, bem como às/aos profissionais e estudantes da área da Educação. Cada usuária/o da Rede pode escolher mais de um/uma profissional ou tipo de atendimento (por exemplo, pode realizar consultas de Terapia Floral e homeopatia). Os contatos são realizados diretamente pelos usuários da Rede, por meio dos canais (telefone, mensagens instantâneas, e-mail etc.) informados pelas/os terapeutas cadastradas/os.
Modos de pensar e de imaginar a Rede
As organizações e os processos de planejamento, gestão, avaliação, educação permanente de teleconsultoras/es configuram-se em dois eixos: o primeiro, de responsabilidade direta da Rede Colaborativa PICS; o outro, na intersecção com a Rede de Educação em Saúde Coletiva e a Rede Virtual de Aprendizagem em Saúde Coletiva (ReviraSaúde).
A Rede Colaborativa PICS é um “círculo”, com autonomia e independência, associado à Rede de teleatendimentos ReviraSaúde, que inclui outros “círculos”, dedicados à atenção a mulheres em situação de violência de gênero (Projeto Gradiva, de atendimento psicanalítico), à atenção em Saúde Mental (Comitê Intersetorial de Promoção da Vida e Prevenção do Suicídio), e com trabalhadoras/es em saúde de diferentes áreas.
As ações específicas para pensar a Rede PICS incluem:
Gestão colegiada: realizada pelas 5 (cinco) instituições coordenadoras, de forma compartilhada, com o objetivo de planejar e implementar todas as ações do projeto, bem como articulações com outras instâncias e áreas de interface com a temática. Participam da gestão colegiada as estudantes da graduação em Enfermagem (cinco) e de Saúde Coletiva (um). Já integraram o grupo estudantes de outros cursos de graduação (Agronomia e Educação Física). A gestão colegiada reunia-se, de forma virtual e semanal durante 2020; e quinzenal em 2021, com reuniões extraordinárias, quando necessário.
Educação Permanente em Saúde: objetiva atualizar e qualificar conhecimentos necessários para a realização do trabalho na Rede Colaborativa PICS. São atividades virtuais mensais (2020) ou bimestrais (2021) organizadas pela coordenação da Rede, com participação das/os terapeutas, estudantes e convidadas/os. Os temas são definidos conforme aparecem situações relacionadas aos teleatendimentos ou à própria sindemia, requerendo novas aprendizagens e encaminhamentos. Ao final dos encontros, são realizados momentos coletivos de cuidado, enfatizando a importância da saúde das/os terapeutas. Associa-se, ainda, como estratégia de educação permanente, a elaboração de educativos para o autocuidado com Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, publicados e divulgados nas mídias sociais da Rede (https://www.instagram.com/ redecolaborativapics/) e em outros portais na internet. Um exemplo é este Guia de meditação, disponível em: https://atencaobasica.saude.rs.gov.br/upload/arquivos/202007/22135155-guia-meditacao-rede-colaborativa-rs.pdf.
Avaliação: atividade realizada constantemente, a partir de todas as situações que envolvem o trabalho na Rede, promovendo a reconfiguração do processo de trabalho para atender questões emergentes. Inclui a análise dos registros de atendimentos e a análise de manifestações recebidas por e-mail e no formulário eletrônico de avaliação dos teleatendimentos (disponível em http://avalia.revirasaude.org/). Atualmente, o canal de avaliação e de ouvidoria coincidem. Destaca-se que, para fins de monitoramento e avaliação, sistematizou-se o registro de atendimentos em saúde realizados a distância, nas modalidades individuais e em grupo (acesso em: https://www.revirasaude.org/registros-de-atendimentos).
Por sua vez, a ReviraSaúde, além de disponibilizar a plataforma on-line para cadastro de profissionais, realizar a gestão do banco de dados, hospedar os Registros de Atendimentos, mantém um canal de ouvidoria e de comunicação (http://ouvidoria.revirasaude.org) com a população atendida e realiza ações de Educação em Saúde abertas a qualquer interessada/o.
Sublinha-se que a ReviraSaúde é uma rede pública de apoio mútuo, vinculada ao Sistema Único de Saúde, que propõe a criação de interfaces, de zonas de aproximação e de contatos entre diferentes organizações e coletivos dispostos à composição. Suas composições e interações são variadas e instituem-se em uma rede de assembleias, de espaços abertos, de participação direta de qualquer atora/ator social interessada/o, como: o Colegiado estadual (que se reúne mensalmente), os Núcleos Interfederativos de Facilitadoras/es de Educação em Saúde Coletiva (organizações regionais) e os Núcleos Municipais de Educação em Saúde Coletiva. Nesta “rede de assembleias”, aqueles que participam, numa perspectiva de democracia radical, somente são obrigados por regras quando estas são codeterminadas e se baseiam na coparticipação. Assim, a organização específica da Rede Colaborativa PICS é independente e compõe como uma alteridade, em relações de mútua influência e colaboração.
Adicionalmente, a ReviraSaúde propõe ações de Educação Permanente em Saúde, abertas a qualquer interessada/o:
Revira Leituras: é um encontro semanal para leitura em voz alta e partilha de impressões, ideias e outras associações. Os textos são escolhidos pelas/os participantes. O grupo é aberto, gratuito e não precisa de inscrição. A página de divulgação e acesso está disponível em: https://www.revirasaude.org/leituras. Até o momento, leu-se: Necropolítica – Achille Mbembe; Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais. Introdução de Heloísa Buarque de Hollanda; Carta de uma ex-mulata a Judith Butler (Angela Figueiredo) e Outras línguas: três artistas brasileiras (capítulos do livro Pensamento feminista hoje: perspectivas decoloniais); E se amanhã o medo, de Ondjaki; Olhos d’água, de Conceição Evaristo; Sobrevivência dos vaga-Iumes, de Georges Didi-Huberman; M, O Filho do século, de Antonio Scurati; Entrevista – Antonio Scurati: “Ridicularizamos Trump por seu físico e Salvini por ser vulgar, e assim ganham eleitores que pensam que os imbecis somos nós”; Torto Arado, de Itamar Vieira Junior. Perspectiva-se, assim, a ampliação das maneiras de ver e de pensar o mundo, por meio da exposição a múltiplas vozes e culturas. Além deste efeito de alteridade, o exercício de close reading (leitura atenta, concentrada nos detalhes da construção das narrativas) pode repercutir no cuidado em saúde usuário-centrado, no desenvolvimento da escuta sensível e atenta (“close listening”), como apontam os estudos no campo das Narrativas em Saúde.
Cinema e conversinhas: realizam-se exibições públicas on-line de filmes, seguidas de conversas entre as/os participantes, para compartilhamento de impressões, ideias, associações e análises. Inclui-se filmes como: A última estrada da praia, de Fabiano de Souza; Mãe só há uma, de Anna Muylaert; Sobre sete ondas verdes espumantes, de Cacá Nazario e Bruno Polidoro; Eduardo Galeano Vagamundo, de Felipe Nepumoceno. A página de divulgação e acesso está disponível em: https://www.revirasaude.org/cinema-e- conversinhas. Aposta-se, também por meio das narrativas audiovisuais, nos efeitos de alteridade, de formação ética e política, de complexificação das análises dos modos de andar a vida, aspectos fundamentais para a realização da clínica ampliada em saúde.
Estas ações são interinstitucionais, com preparações, realização e avaliações partilhadas por equipes interessadas, em processos autogestionários. Sublinha-se, por fim, a Integralidade como um conceito e ideia-força transversal, que inspira a participação plural, a descentralização e a democratização da gestão da rede, a aposta em cuidados usuário-centrados, na perspectiva da clínica ampliada, que não reduz sua atenção aos adoecimentos, mas considera as fragilidades subjetivas, a invenção de múltiplas maneiras de viver e implica um repertório diversificado de ações de cuidado, em processos coletivos e em rede. Em cada gesto de cuidado, entrevê-se, imagina-se e prospecta-se sua expansão e complexificação, isto é, outras maneiras de pensar e de agir em saúde.
Modos de fazer acontecer
As principais ações da Rede Colaborativa PICS, as ações-fim, são as de realização de cuidados complexos e de educação em saúde, por meio de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, a fim de cuidar de trabalhadoras/es das áreas da Saúde e da Educação, durante a sindemia de Covid-19.
A seguir, explicita-se como funcionam os atendimentos, desde a divulgação, a inscrição e seleção dos terapeutas, até a realização do cuidado a distância:
a) Como os profissionais se inscrevem para realizar teleatendimentos?
Profissionais de saúde interessados em colaborar com a rede inscrevem-se em um formulário eletrônico na página de internet https://www.revirasaude.org/cadastro-de-profissionais. Solicita-se informações de contato, sobre a formação, registros profissionais e disponibilidades para os teleatendimentos. Antes da publicação no Mapa de Profissionais, os cadastros são analisados, avaliados e validados somente se documentam a habilitação para o exercício do cuidado em saúde.
b) Como estudantes e trabalhadores de Saúde e da Educação acessam os atendimentos a distância?
Ao identificar um motivo para solicitar o teleatendimento, a/o profissional ou a/o estudante das áreas de Saúde ou de Educação acessa o site revirasaude.org; clica em “quero consultar uma/um profissional de saúde”; conta com a explicação de algumas dicas para encontrar uma/um profissional para seu cuidado; clica em “atendimentos on-line gratuitos com profissionais de saúde” e vai ser direcionado para o mapa de teleconsultoras/es (diretamente acessível também neste endereço http://mapa.revirasaude.org).
A busca livre permite que sejam selecionadas/os profissionais com diferentes contornos e possibilidades de trabalho, identificadas/os no mapa por meio de balões coloridos. Os balões das/os enfermeiras/os são de cor bordô e os das/os terapeutas de PICS são de cor azul, esses integrando a maioria das/os profissionais da rede de teleconsultoras/es, com mais de 160 terapeutas localizadas/os em diferentes unidades federativas. Após a análise da lista de teleconsultoras/es disponíveis a partir da busca realizada, a/o própria/o usuária/o realiza o contato e solicita o teleatendimento.
c) Quais as Práticas Integrativas e Complementares em saúde disponíveis?
As Práticas ofertadas são: orientação de acupressão em pontos de tensão, aromaterapia, arteterapia, ayurveda, fitoterapia, hipnose clínica, homeopatia, relaxamento, terapia floral, entre outras.
d) Como são os atendimentos?
Os atendimentos são gratuitos e realizados a distância, síncronos ou assíncronos, nas modalidades individual, coletivo ou de equipes.
A participação de gestores estadual e municipal proporcionou indução de medidas inseridas no processo de trabalho e que garantissem a realização dos teleatendimentos, como por exemplo, o incentivo à seleção de espaços reservados nos próprios locais de trabalho, preferencialmente equipados com computador e sinal de internet, para que as/os profissionais de saúde pudessem solicitar seus atendimentos. Ao mesmo tempo, a coordenação da Rede realizou discussões com as/os terapeutas sobre modos de organização do processo de cuidado com PICS, que fossem sistematizados para atender ao tempo disponível, algumas vezes bem reduzido. A proposta seria disponibilizar um primeiro cuidado, priorizando a demanda e o vínculo.
Após cada atendimento, a/o teleconsultora/teleconsultor registra seu cuidado em documentos próprios e no formulário da Revira Saúde: https://www.revirasaude.org/registros-de-atendimentos. Os dados registrados são monitorados pela coordenação da Rede, sistematizados periodicamente com emissão de relatórios parciais.
e) Como é a divulgação para os grupos de interesse da Rede?
A divulgação dos teleatendimentos inclui diversas estratégias como a publicação nas redes sociais (https://www.instagram.com/ redecolaborativapics/, https://www.facebook.com/revirasaudecoletiva); grupos em aplicativos de mensagem instantânea (como o Whatsapp); disponibilização de materiais de divulgação no site (https://www.revirasaude.org/divulgação), contato e produção de materiais de apoio para Rádios Comunitárias (áudios, release), bem como publicações em portais de instituições diversas, como as seguintes:
Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul. Portal da Atenção Básica: https://atencaobasica.saude.rs.gov.br/rede- colaborativa-pics.
Laboratório de Ensino Virtual em Enfermagem (Ufrgs): https://www.ufrgs.br/levi/rede-colaborativa-pics/#page-content
ObservaPICS, Fiocruz: http://observapics.fiocruz.br/teleatendimento- em-pics-para-profisssionais-e-estudantes-de-saude-e-de-educacao/
Conselho Regional de Enfermagem do Rio Grande do Sul: https://www.portalcoren-rs.gov.br/index.php?categoria=publicacoes&pagina=noticia-ler&id=7557.
Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul: http://www.escoladesaudepublica.rs.gov.br/conteudo/3656/escola-de-sa%C3%BAde-p%C3%BAblica-(esp-rs)-divulga-as-atividades-da-semana-do-servidor-realizadas-pela-rede-colaborativa-pics-