A ferramenta inteligente de monitoramento e controle da sífilis é compota por quatro módulos, população em geral, gestantes, parceiros e sífilis congênita.
No módulo da população em geral e o módulo para parceiros os dados monitorados e alimentados são: cicatriz sorológica, unidade de saúde de atendimento, nome completo, data da notificação, data de nascimento, data de realização do teste, estágio clínico da doença, esquema terapêutico, data de aplicação da 1ª dose, data de aplicação da 2ª dose, data de aplicação da 3ª dose, data e valor do VDRL (1 a 7), observações e status da finalização do tratamento.
No módulo gestante os dados monitorados e alimentados são: cicatriz sorológica, unidade de saúde de atendimento, nome completo, número da notificação, data da notificação, data de nascimento, data de realização do teste, trimestre que a gestante foi notificada, esquema terapêutico, data de aplicação da 1ª dose, data de aplicação da 2ª dose, data de aplicação da 3ª dose, data e valor do VDRL (1 a 7), status da finalização do tratamento.
No módulo sífilis congênita os dados monitorados e alimentados são: unidade de saúde de atendimento, nome completo da gestante, nome completo do recém nascido, número da notificação, data da notificação, data de nascimento, data de realização do teste, trimestre que a gestante foi notificada, estágio clínico, esquema terapêutico, data de aplicação da 1ª dose, data de aplicação da 2ª dose, data de aplicação da 3ª dose, data e valor do VDRL (1 a 7), status da finalização do tratamento.
A ferramenta contém o painel por unidade de saúde, onde é possível acompanhar todas as pessoas com sífilis da unidade, as que estão com tratamento completo, com tratamento incompleto, as que não trataram, tanto na população em geral e parceiros como as gestantes, permitindo a rápida visualização pelo profissional do acompanhamento do tratamento de sua unidade. Essa ferramenta foi criada em julho de 2018 e aprovada em reunião de Planejamento estratégico da SMS em 20 de agosto de 2018 e disponível para preenchimento nas unidades de saúde, desde o segundo semestre de 2019, também é utilizada nas maternidades públicas da região.
Na Tabela 1, observa-se que houve um aumento no número de casos de sífilis em gestantes nos anos de 2017 e 2018 em relação a 2016, correspondendo a 23,53% e 55,88%, respectivamente. Em 2019, ocorreu um decréscimo de 16,04% em relação a 2018. Apesar dos dados de 2020 serem contabilizados apenas até 30/06 do referido ano, pode-se inferir uma tendência de queda no quantitativo de casos ao longo do respectivo ano. Com relação ao número de casos de sífilis congênita em menores de um ano, também se observou um aumento no período de 2017 a 2018 em comparação a 2016, correspondendo a 41,18% e 58,82%, respectivamente. Já em 2019, ocorreu uma queda de 40,74% em relação a 2018. Apesar dos dados de 2020 serem contabilizados apenas até 30/06 do referido ano, pode-se inferir uma tendência de queda no quantitativo de casos.
Ao se avaliar o período de 2016 a 2020, observa-se que dos 374 casos de sífilis em gestantes, 176 (47,06%) resultaram em casos de sífilis congênita em menores de um ano.
Tabela 1 – Número de casos de sífilis em gestantes e de sífilis congênita em menores de um ano por ano de diagnóstico. São José, Santa Catarina, Brasil, 2017-2020
20162017201820192020
Nº de casos de sífilis em gestantes68841068927
Nº de casos de sífilis congênita em menores de um ano344854328
Fonte: MS/SVS/Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Notas: (1) Dados até 30/06/2020; (2) Dados preliminares para os últimos 5 anos.
Na Tabela 2, que descreve o número de casos de sífilis congênita em menores de um ano segundo o esquema de tratamento da mãe, observa-se que: em 2016, dos 34 casos registrados, nenhum caso tratado foi considerado adequado, 20 casos foram considerados como tratamento inadequado (58,82%) e 14 casos, considerados como tratamento não realizado (41,18%); em 2017, do total de 48 casos de sífilis congênita em menores de um ano registrados, apenas um teve esquema de tratamento considerado adequado, correspondendo a 2,08%, 32 casos, considerados como tratamento não realizado (66,67%) e, 15 casos foram considerados como tratamento não realizado (31,25%); em 2018, do total de 54 casos registrados, nenhum teve tratamento adequado, 31 casos tiveram tratamento inadequado (57,41%) e, 19 não realizaram tratamento (35,19%); em 2019, dos 32 casos registrados, apenas um teve tratamento adequado (3,13%), 16 apresentaram tratamento inadequado (50,00%) e, 13 não realizaram tratamento (40,63%); em 2020, dos oito casos registrados, nenhum apresentou tratamento adequado, quatro tiveram tratamento inadequado (50,00%), três não realizaram tratamento (37,50%) e, um teve registro ignorado.
Ao se analisar o período de 2016 a 2020, somente 1,14% dos casos tiveram tratamento considerado adequado, 58,52% apresentaram tratamento inadequado, 36,36% não realizaram tratamento e 3,98% dos casos tiveram registro ignorado (12,50%).
Tabela 2 – Número de casos de sífilis congênita em menores de um ano segundo esquema de tratamento da mãe por ano de diagnóstico, São José, Santa Catarina, Brasil, 2017-2020
20162017201820192020
Adequado-1-1-
Inadequado203231164
Não Realizado141519133
Ignorado–421
Fonte: MS/SVS/Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Notas: (1) Dados até 30/06/2020; (2) Dados preliminares para os últimos 5 anos.
O Quadro 1 mostra o indicador Número de casos novos de sífilis congênita em menores de um ano de idade que faz parte do rol de indicadores da Pactuação Interfederativa (PI) 2017-202112, com suas respectivas pactuações e resultados alcançados no período de 2017 a 2019.
É possível observar que apesar do município não ter alcançado as metas pactuadas no período em estudo, ao longo dos anos houve melhora no alcance do indicador, com queda importante no ano de 2019, passando de 48 casos novos em 2018, para 32, correspondendo a uma queda de 33,33%.
Quadro 1: Demonstrativo da pactuação e resultados alcançados do indicador municipal Número de casos novos de sífilis congênita em menores de 1 ano da Pactuação Interfederativa, São José, Santa Catarina, Brasil, 2017-2019
IndicadorEsperadoParâmetro Pactuação Estadual 201713Pactuação Municipal 201714Resultado Municipal Alcançado 20178Pactuação Estadual 201815Pactuação Municipal 2018**Resultado Municipal Alcançado 20188Pactuação Estadual 201916Pactuação Municipal 2019**Resultado Municipal Alcançado 20198
Número de casos novos de sífilis congênita em menores de um ano de idade▼< 0,5/1.000 Nascidos Vivos18552144455014485501432
Observação: ** Pactuação obtida no DIGISUS.
Fonte: Autoras, 2021.
Esta ferramenta apresentou resultados favoráveis no município de São José e a Secretaria estadual de Saúde de Santa Catarina solicitou permissão para utilizá-la no Estado diante da robustez e resolutividade da mesma. Esta ferramenta também foi apresentada ao MS e a OPAS. Às ações da enfermagem na Atenção Básica, Média e Alta Complexidade, qualificando os cuidados de enfermagem e garantindo saúde segura e de qualidade através do desenvolvimento e aplicação de tecnologias inovadoras em cuidado e saúde, ampliando as práticas para o cuidado em saúde e reorganizando os processo de trabalho para ampliação do acesso e qualidade do atendimento ao usuário na Assistência à Saúde na Linha de Cuidado Materno Infantil ampliando e qualificando a assistência no pré-natal; parto e nascimento, puerpério e atenção ao recém-nascido, abrangendo processos da gestão, assistência à saúde e formação/qualificação em Serviço através da educação permanente promovida pelo desenvolvimento e aplicação de tecnologias inovadoras denominada Sala de Situação da Sífilis para o cuidado durante o pré-natal, parto e nascimento, puerpério e atenção ao récem-nascido.
DISCUSSÃO
O presente estudo evidenciou que a utilização de uma ferramenta tecnológica inteligente em saúde permitiu a transformação das relações entre oferta e demanda dos serviços, redirecionando a reorganização das práticas de saúde em seu conteúdo técnico-econômico e político, dirigindo-as à solução dos problemas. Ao planificar a situação da sífilis e detalhar os pontos que eram necessários monitoramento, todos os profissionais passaram a ter acesso a todas as pessoas com sífilis no município, permitindo que em qualquer ponto da rede que a pessoa fosse atendida, a informação e o status do tratamento iam sendo alimentados na ferramenta, e assim, foi sendo garantido o atendimento integral e longitudinal. Com isso, evitou-se notificações repetidas e por vezes incompletas que geravam duplicidade nos sistemas de informação, além é claro da qualidade e garantia do cuidado ofertado.
O enfrentamento do atual quadro de saúde da população brasileira exige profunda articulação com os diferentes níveis de atenção na perspectiva de impulsionar seu desenvolvimento como um sistema de saúde integrado4. Reconhecendo os processos de estruturação de redes de atenção à saúde como iniciativas que caminham nessa direção, há que se ressaltar a importância de sistemas de informação integrados e em tempo real, para qualificar a assistência a saúde nos diferentes níveis de atenção e garantir a segurança do cuidado, a partir de informações precisas e oportunas7.
Este estudo demonstrou que a articulação nos diferentes níveis permite melhorar a qualidade de registro, eliminando a duplicidade de notificações e registros inadequados, que no caso da notificação geram dados distorcidos, informações incorretas e, por isso, devem ser analisados com cuidado.
Tal achado se confirma nos dados apresentados nas tabelas 1 e 2 extraídas do MS e no quadro 1 extraída da Secretaria Estadual de Saúde, que apresentam divergência entre si, reforçando a necessidade de sistemas que qualifiquem os dados em tempo real permitindo a tomada de decisão tão importante na saúde. Tal inconsistência também pode estar relacionada aos registros dos atendimentos nos sistemas de prontuário eletrônico das instituições de saúde, quer seja pela falha no preenchimento dos profissionais que prestam a assistência direta, quer seja na transferência dos dados para os sistemas ministeriais, glosando dados17. Este valor possivelmente está relacionado aos problemas identificados nacionalmente quanto ao registro no sistema de informação, apontado já em outro estudo.
Dificuldades no alcance dos indicadores é uma realidade e já foram apontadas em outros estudos, e demonstram a necessidade de ações no sentido de fortalecer o sistema de saúde18-19-20, a ferramenta inteligente é uma estratégia para a garantia dos princípios do cuidado do SUS, a integralidade.
Apesar das metas terem sido definidas considerando os parâmetros da literatura nacional e internacional21, a melhora no resultado do indicador alcançado mostra ainda, que há uma lacuna no cumprimento dessas metas e que elas precisam ser profundamente trabalhadas e que vão para uma discussão além da saúde, quer seja a nível mundial, nacional e municipal. Tal situação decorre do fato desse indicador estar fortemente relacionado às condições de saúde, à cultura e aos determinantes sociais de saúde da população (DSS)22-23.
Neste estudo, esse indicador foi monitorado diariamente através da ferramenta tecnológica inteligente denominada sala de situação de monitoramento e controle da sífilis, que permitia a todos os profissionais sua utilização24.
Essa ferramenta tecnológica inteligente em saúde configurou-se como uma ferramenta que planifica o cuidado de forma longitudinal e integral, além de contribuir para a transparência acerca do cuidado desenvolvido, além de ser dinâmica e estar em constante processo de aprimoramento e qualificação. É um espaço virtual onde a informação do cuidado com a sífilis é analisada sistematicamente, dotada de visão integral e intersetorial, que partindo da análise e da avaliação permanente da situação de saúde, atua como instância integradora da informação que gera a vigilância em saúde pública nos diferentes níveis do cuidar em saúde, constituindo assim, uma poderosa ferramenta para o cuidado seguro em saúde pública. Este processo de avaliar e monitorar um problema de saúde pública a partir de uma ferramenta em consonância com os princípios do SUS garante a integralidade e o cuidado longitudinal.