A realização do Censo das Unidades Básicas da Saúde (UBS) se transformou em um amplo movimento ao reconectar gestores e profissionais de saúde às universidades, em prol da Atenção Primária à Saúde (APS) no país. O balanço foi feito por pesquisadores vinculados à Rede de Pesquisa em APS/Abrasco, que participaram desde o delineamento do Censo das UBS até o apoio à aplicação do instrumento eletrônico nos 26 Estados e no Distrito Federal.
Participaram do encontro online, nesta quinta-feira (22/08), cerca de 70 pesquisadores, gestores e técnicos da Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde (SAPS/MS).“O Censo das UBS propiciou o diálogo entre gestores municipais e estaduais com as equipes de APS. Também aproximou os serviços de saúde à ampla rede de pesquisadores e apoiadores envolvidos na realização do Censo nos estados”, celebra Luiz Augusto Facchini (UFPel), coordenador da Rede de Pesquisa em APS da Abrasco.
“Em 60 dias, 50 mil UBS foram acionadas para que suas equipes respondessem ao questionário com 141 perguntas sobre as condições de infraestrutura, oferta de serviços, medicamentos, além de refletir sobre o processo de trabalho dos profissionais de saúde”, contabiliza Klitzke. “A gente entende que o sucesso deste trabalho é compartilhado com todos os atores do território. Tivemos apoio dos Conselhos Estaduais das Secretarias Municipais de Saúde (Cosems) dos 27 entes federados, das superintendências do Ministério da Saúde nos estados, das coordenações estaduais da APS, dos gestores das secretarias municipais de saúde e da Rede de Pesquisa em APS. Enfim, construímos uma grande agenda tripartite, com o apoio do Conass e Conasems, que alcançou os territórios das UBS do SUS”, destaca o coordenador-geral de Programação do Financiamento da APS, Dirceu Klitzke.
Segundo o painel de monitoramento da SAPS/MS, 44.542 UBS em todo país concluíram o Censo em agosto. Também foram identificadas 4.058 UBS inativas. O Rio Grande do Sul tem até o dia 30 de setembro para finalizar o Censo, ainda assim, 55% das UBS gaúchas já concluíram o diagnóstico no sistema e-Gestor. “Neste mês de agosto, realizamos sete reuniões on-line com os gestores municipais de saúde das macrorregionais para dirimir dúvidas sobre como responder ao Censo das UBS no sistema e-Gestor APS, do Ministério da Saúde”, explica a pesquisadora Claunara Schilling Mendonça (UFRGS).
Até o fim de setembro, a Rede de Pesquisa em APS vai produzir um relatório para subsidiar a SAPS/Ministério da Saúde na produção de conhecimento e divulgação das diversas estratégias utilizadas pelos estados para a realização do Censo das UBS. “Vamos documentar as experiências dos Estados na realização do Censo. Identificamos diversas estratégias de mobilização durante o processo do Censo, especialmente, protagonizadas pela área de planejamento/avaliação das secretarias”, explica a pesquisadora Lígia Giovanella (Fiocruz).
A pesquisadora Aylene Bousquat (USP), que acompanhou o Estado de São Paulo com 5.028 UBS participantes do Censo, apontou o sucesso do Disque-Censo. “Quero agradecer aos três estudantes de pós-graduação da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), sendo dois selecionados via edital de ações afirmativas, e também ao professor Paulo Mota que estiveram conosco durante todo esse período do Censo das UBS”, afirma Bousquat. Como desafio na realização do Censo das UBS, Aylene Bousquat, referiu ao mês de julho, quando os profissionais geralmente estão em férias, e ao retorno do Censo para o território. “Temos um grande desafio que é de retornar aos municípios e às regiões de saúde com os resultados desse grande diagnóstico”, aponta.
Para a pesquisadora Elaine Thumé (UFPel), que acompanhou os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas e Tocantins, o Censo das UBS resgatou pessoas e instituições em prol da APS. “Ele permitiu que pesquisadores, profissionais de saúde, seja da gestão ou da ponta, instituições como a Fiocruz, associações ligadas à Enfermagem, refletissem sobre o compromisso política de fortalecimento da APS”, ressaltou Thumé.
A pesquisadora Alaneir de Fátima dos Santos (UFMG) viu o desenrolar do Censo no Estado com mais UBS do país: Minas Gerais com suas 6.161 UBS. Para Laine, como é conhecida, o Censo das UBS gerou uma participação comprometida entre todos os profissionais da APS. “O Censo despertou um movimento na APS, e vimos esse movimento ser gerado a partir da área de avaliação. Esperamos que no âmbito dos serviços, essa informação a ser produzida a partir do Censo, possa gerar melhorias para a APS de todos os 853 municípios mineiros”, comemora Laine.
Elaine Tomasi (UFPel) que está comprometida com a finalização do Censo das UBS no Rio Grande do Sul, também acompanhou o Censo nos estados de Santa Catarina, Rondônia e Acre. Ela refletiu sobre a oportunidade de conhecer e de se aproximar de realidades tão distintas da APS brasileira.
Para Rosana Aquino (UFBA), “o processo de construção do Censo foi muito importante porque permitiu refletir, problematizar, a partir da área de avaliação como intervenção política e materializada por meio de uma articulação tripartite e interfederativa entre universidade e serviço”. Ela destacou ainda as iniquidades em relação ao acesso digital. “Não podemos falar que o Censo foi totalmente digital, pois muitas UBS ainda não têm acesso a internet de forma estável. Contamos com o compromisso dos nossos profissionais, que levaram a digitalização do Censo para suas casas, nos fins de semana, e superaram todos os problemas, inclusive, ao ser realizado no mês mais festivo do Nordeste, em junho”, ressaltou.
Maria Helena Magalhães de Mendonça (Fiocruz) destacou que o próximo compromisso dos pesquisadores é pensar nas estratégias para divulgação e documentação do Censo para subsidiar uma futura replicação. Ela acompanhou o Censo nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará e Espírito Santo, e contou ainda que os materiais técnicos, como o FAQ, e de comunicação elaborados pela SAPS fizeram o processo fluir na medida em que foram apropriados pelas equipes estaduais e municipais. “Foi um trabalho amplo e muito integrado com a SAPS e todos atores locais”, ressaltou Maria Helena.
Vinicius de Oliveira (UESPI) que atuou com a pesquisadora Patty Fidelis (UFF) no Piauí refletiu sobre a ousadia de colocar em prática, em tão pouco tempo, um Censo nacional nas vésperas de eleições municipais. “Fica a responsabilidade da gente tirar proveito desse amplo movimento que o Censo construiu em defesa da nossa APS”, comentou Oliveira.
Por Rede de Pesquisa em APS/Abrasco