O seminário internacional que promove reflexões acerca da saúde dos trabalhadores, realizado pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS), abordou nesta terça (16/11) as mudanças e perspectivas do trabalho em saúde, especialmente provocadas no último período com o agravamento da crise social potencializada pela pandemia da Covid-19.
Trabalho extenuante, privação do convívio familiar, medo generalizado de se contaminar no trabalho e medo da morte, despreparo técnico para atuar na pandemia e gestão insensível às necessidades pessoais e profissionais estão entre os apontamentos dos trabalhadores da saúde apresentados em pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
O estudo “Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19” foi feito com mais de 15 mil profissionais das 14 profissões de saúde. Mais da metade dos entrevistados não se sente protegida contra a Covid-19 em seu ambiente de trabalho e ainda aponta alterações significativas na vida cotidiana como perturbação no sono (insônia ou hipersonia) irritabilidade, choro frequente, incapacidade de relaxar, estresse, tristeza, perda de satisfação na carreira, apatia e pensamento suicida.
Os dados foram apresentados pela professora e pesquisadora Dra. Maria Helena Machado, que coordenou o estudo. “Vemos que a situação é muito grave. A proteção do trabalhador não passa só pela estrutura, mas também pela gestão que não tem um olhar tão dedicado para esses profissionais serem considerados da forma como deveriam”, afirma a pesquisadora.
“Vivemos um momento onde as regras de proteção ao trabalho precisam voltar com força no centro das mesas de negociações, na resistência em todos os espaços para impedirmos essa onda de barbárie”, avalia o presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar), Ronald dos Santos.
Além desta pesquisa apresentada no evento virtual, em breve estarão disponíveis os resultados da pesquisa dos “Trabalhadores Invisíveis da saúde”, que executam serviços essenciais, e também se iniciará o estudo “Trabalhadores da Saúde Indígena”, com as equipes que prestam assistência aos povos indígenas em território nacional.
“SUS inglês”
Segundo Jonathan Filippon, professor na Queen Mary University of London (Inglaterra), no “SUS inglês” (National Health System – NHS), os três principais fatores que afetam o trabalho em saúde, apontados pelos trabalhadores, estão ligados primeiramente ao estresse e seus efeitos na saúde mental, desde o início da pandemia.
Em segundo lugar, os profissionais da saúde apontam a diminuição da confiança no Estado em conduzir as políticas públicas de saúde, seguida pela baixa remuneração.
Ele ainda destaca que ao olhar para a pandemia e os efeitos que ela tem na sociedade e no capitalismo como um todo, estagnado pela crise econômica, o que se evidencia não é novidade. “Os trabalhadores da saúde não devem ser tratados como parte do modelo econômico, mas como bem comum assim como a gente entende a própria saúde. Eles devem ser afastados e protegidos da questão econômica”, afirma.
“A Covid trouxe muitas lições e aguçou nossa percepção sobre problemas que vêm se agravando há algumas décadas. A OIT e outros mecanismos internacionais já apontavam há muito tempo o desinvestimento nestas áreas. A Covid não trouxe novos problemas, mas evidenciou problemas estruturais que a nossa sociedade vem enfrentando há tempos”, completa Marcia Kamei, procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT).
O Seminário Internacional Proteger o Trabalhador e a Trabalhadora é Proteger o Brasil encerrará na quarta (17/11). O evento virtual ocorre via plataforma Zoom e os interessados em participar devem fazer a inscrição pelo site. O seminário integra a programação pelo Ano Internacional do Trabalhador e da Trabalhadora da Saúde e da Assistência, da Organização Mundial da Saúde (OMS).
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