Na manhã desta quarta (17//11), o Seminário Internacional Proteger o Trabalhador e a Trabalhadora é Proteger o Brasil debateu o tema “Do Ensino Remoto Emergencial ao Ensino Híbrido, Semi Presencial na Pandemia: e o desafio de barrar a implantação do Ensino por EaD na formação em Saúde”. Especialistas trouxeram avanços e fragilidades do ensino virtual em tempos de pandemia, que revelou desigualdades no acesso à internet e outros desafios.
Stella Nicolau, professora da Universidade de São Paulo (USP), ressaltou que muitos professores passaram por sofrimentos ligados ao ensino remoto. “Ainda mais na universidade privada, que não deu muito tempo para os profissionais assimilarem as tecnologias. Tivemos muitas demissões, fomos trocados por aulas gravadas. Perdemos a noção da presencialidade. O horário de trabalho foi invadindo o nosso cuidado com a casa. O ensino remoto trouxe muito aprendizado, mas também muito sofrimento. Fora quem perdeu pessoas e quem morreu na pandemia. Precisamos pensar como sair da vida remota e retomar o presencial”.
Roberto Leher, professor de políticas públicas da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirmou que ainda hoje muitos estudantes permanecem sem aulas regulares. “Os debates sobre educação não foram liderados pela Organização das Nações Unidas para a Educação (Unesco). Quem organizou o debate sobre o que fazer foi o Banco Mundial e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Econômico (OCDE). E isso tem consequências. O tema do ensino híbrido ficou hegemonizado pela questão das plataformas das grandes corporações, sem uma estratégia de acesso público e gratuito à internet”.
Roberto afirmou também que houve interrupção das aulas presenciais em todo o planeta terra e a orientação sobre o que fazer não foi dos Ministérios da Saúde, mas de empresas.
Para Olsymara Cavalcanti, professora da Universidade Estadual de Minas Gerais em Cláudio (MG), “o ensino remoto foi necessário, mas é necessário também perceber que essa transição para o remoto é perigosa porque aflige diretamente a realidade para a formação da consciência crítica”. Segundo ela, “não socializar [presencialmente] é uma violação ao conhecimento. Nós não podemos permitir que haja um atropelo como legalmente o Ministério da Educação (MEC) tem feito. Formar um profissional requer qualidade”, afirmou.
Contextos EaD no Brasil pré-pandemia
Antes mesmo da pandemia, o CNS já se posicionava contra o aumento do EaD na graduação em Saúde. Uma das principais críticas feitas na recomendação CNS nº 3/2020, publicada em janeiro do ano passado, refere-se à Portaria nº 2.117/2019, do MEC, que dispõe sobre a oferta de carga horária na modalidade EaD em cursos presenciais. Ou seja, instituições que oferecem graduação presencial agora podem ampliar sua carga horária à distância para até 40% do total do curso, com exceção dos cursos de Medicina. Antes disso, a Portaria nº 1.428/2018, também do MEC, definia o máximo de apenas 20% à distância para cursos presenciais, excluindo cursos da Saúde e Engenharias.