O webinar “Impactos da Covid-19 nas condições de trabalho e de saúde dos profissionais de saúde do Brasil”, realizado na quarta-feira (27/11), refletiu sobre estratégias e políticas internacionais e nacionais adotadas para o enfrentamento dos impactos negativos da pandemia nos profissionais de saúde, além de oferecer subsídios para a construção de propostas para mitigar os impactos negativos na força de trabalho em saúde diante dos prejuízos individuais, ocupacionais, sociais e econômicos observados. OS participantes ressaltaram que a pandemia ressaltou as deficiências preexistentes dos sistemas e serviços de saúde e o esgotamento da força de trabalho que atua na linha de frente do combate à Covid-19, já escassa anteriormente em algumas Regiões das Américas.
Participaram do evento virtual representantes da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES/MS), do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – Centro Colaborador OPS/OMS para desenvolvimento de pesquisa em Enfermagem e da Unidade Técnica de Capacidades Humanas para a Saúde da Organização Pan-Americana da Saúde – Representação Brasil, entre outros.
Carla Ventura, Diretora do Centro Colaborador da Organização Pan-americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde para o desenvolvimento da pesquisa em Enfermagem, destacou a relevância do evento para a divulgação das evidências científicas sobre o tema. Em seguida, o Eduardo de Souza, do Comitê Gestor de Crise Covid 19 do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), destacou as resoluções e a produção de notas técnicas para garantir a qualidade da segurança dos usuários e dos profissionais de saúde, promovida pela entidade. “A enfermagem se reinventou e aprendeu muito nesse processo. Hoje temos condições, tanto o Cofen quanto os sistemas regionais, de oferecer subsídios técnicos tanto às instituições públicas e privadas, como civis e militares desse país. Diante de tudo, destacamos a própria criação do comitê gestor de crise, exclusivo para os profissionais de classe, se destacou durante a pandemia, e também tem uma portaria própria com uma equipe de resposta rápida para oferecer apoio gestor a qualquer instituição”, frisou Souza.
Mònica Padilla, coordenadora da Unidade Técnica de Sistemas e Serviços de Saúde da OPAS/OMS Brasil, considerou que a integração de forças políticas, acadêmicas e técnicas permitiu maior mobilização em prol dos trabalhadores de saúde e usuários durante a pandemia. “A pandemia permitiu identificar a importância de nos mantermos juntos frente ao desafio, os recursos humanos em saúde é o centro norteador do sistema de saúde e tem um caráter intersetorial tão amplo (trabalho, educação, finanças, serviços de saúde, ciências e tecnologias). As políticas só podem ser elaboradas, propostas e executadas se temos um trabalho integrado que nos permite avançar juntos”, pontuou Padilla.
Khassoum Diallo, coordenador da Unidade de Gestão e Evidências e Conhecimento, do Departamento de Força de Trabalho de Saúde da Organização Mundial da Saúde, em Washington, compartilhou ações realizadas com foco nas políticas públicas de saúde e nos impactos da Covid-19 nas condições de trabalho e reorganização dos profissionais de saúde. “Trabalhamos muito de forma intersetorial para saber como iríamos abordar o impacto da Covid-19 sobre os trabalhadores. Quando você busca o impacto no contexto mundial geral, nós vemos que as questões de saúde são os temas mais importantes. É muito importante reorganizar os trabalhadores para que eles consigam entregar o serviço”, destacou o coordenador. Em sua fala, Diallo considerou as características e dificuldades de cada país, porém destacou a importância de investir e proteger os profissionais de saúde, inclusive, no pós-pandemia.
Sobre a experiência do Brasil, Marcelo Marques Lima, gerente de projetos do Departamento de Gestão de Trabalho do Ministério da Saúde, comentou sobre as estratégias para enfrentamento da Covid-19: o projeto “Brasil conta Comigo”, que é uma ação de resposta rápida para enfrentamento com foco nos alunos de medicina, enfermagem, fisioterapia e farmácia, para otimizar a disponibilização de trabalhadores nos serviços de saúde no SUS e para conter a pandemia de forma integrada com as atividades de graduação na área da saúde. Os residentes da área da saúde fazem parte do segundo eixo da ação estratégica do governo brasilerio para ampliar a cobertura na assistência dos usuários do SUS. Outro exemplo de atividade foi a capacitação e o cadastramento de profissionais de saúde para enfrentamento da Covid-19.
Sobre as ações de saúde mental, Lima apontou como exitoso o projeto Mentalize.“A saúde mental tanto de profissionais de saúde quanto da sociedade ficou evidente durante a pandemia e a necessidade de orientar a população, desmistificar e reduzir estigmas sobre doenças mentais. O projeto Mentalize aborda temas relacionados à Covid-19 por meio de palestras online e capacitações para qualificar os profissionais de saúde para melhorar a assistência aos pacientes com transtornos mentais em situação de urgência, além de fortalecer a prática de condutas humanizadas e terapêuticas no âmbito da saúde mental”. Marcelo Lima ainda informou sobre o projeto “S.O.S de ponta”, ainda em desenvolvimento, que vai focar na resposta do SUS às situações de urgência e emergência em saúde pública, por meio da capacitação e certificação profissional para atuação em temas relacionados à abordagem ao paciente crítico.
Mesa virtual
As palestras da mesa virtual trouxeram temas importantes com foco nos trabalhadores de saúde, nos impactos que a Covid-19 trouxe para eles, sobre a saúde mental e o papel das escolas de saúde pública na formação de capacidades durante a pandemia. Ana Cláudia Vazquez, pró-reitora de gestão, da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, abordou a saúde mental no trabalho de profissionais de saúde brasileiros na pandemia. “Não existe diferença entre os profissionais, todos estão impactados durante a pandemia e todos atingem sintomas graves, todos realmente estão associados. Tem aumento da síndrome de Burnout nas equipes de saúde, pelas demandas e por todo o contexto social, tudo que está acontecendo está gerando exaustão e conflitos emocionais”, contou.
“A pandemia destacou as fragilidades do sistema de saúde, em especial na região Norte, e também problemas pré-existentes de distribuição de RHS. Inadequadas condições de trabalho dos profissionais de saúde contribuíram para o adoecimento e mortes de trabalhadores. As estratégias intersetoriais devem ser utilizadas para melhoria dos métodos de identificação e gestão dos riscos ocupacionais, visando a melhoria das condições de trabalho dos profissionais de saúde, assim como, ajustes na formação da RHS e na efetiva educação contínua nos serviços de saúde”, concluiu a Maria Helena Marziale, diretora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto USP e autora da experiência Impactos da Covid-19 nas condições de trabalho e de saúde dos profissionais de saúde no Brasil.
Sobre o papel das escolas de saúde pública na formação de capacidades durante a pandemia, o assessor técnico do CONASS, Haroldo Pontes, ressaltou a importância de fortalecer a Gestão do Trabalho e Educação Permanente das secretarias de saúde para o enfrentamento da pandemia. “Para desenvolver este trabalho foi necessária a integração entre ensino e serviço, considerando a realidade local, e a aprendizagem significativa. A política objetiva a transformação das práticas profissionais de organização dos processos de trabalho”.
Clique aqui para assistir na íntegra em Português
Webinar com tradução para Espanhol – https://www.youtube.com/watch?v=3857FKoPlcY
Webinar com tradução para Inglês – https://www.youtube.com/watch?v=6c8zlSHBU-s