Conselhos de saúde mostram protagonismo no combate às notícias falsas sobre a Covid-19 e na proteção dos que vivem em situação de vulnerabilidade

O Laboratório de Inovação – Conselhos de Saúde e Participação Social na resposta à Covid-19 apresentou, na sexta-feira (22/10), o último ciclo de oficinas virtuais que permitiu dar visibilidade a ações desenvolvidas por conselhos de saúde, universidades e instituições da sociedade em prol da saúde pública. Transmitida pelo canal do Youtube do Portal da Inovação na Gestão do SUS e Conselho Nacional de Saúde, o tema “Atuação local direta dos conselhos estaduais e municipais de saúde” abordou atividades de participação social do Rio de Janeiro, São Paulo, Alagoas e Piauí no combate à Covid-19.

“As experiências são muito ricas e trazem uma variedade de abordagem muito significativa e importante, afinal, é a nível local que as coisas acontecem, ali que moramos, trabalhamos, nos divertimos, adoecemos, e lutamos. Nós conseguimos atingir os objetivos até aqui, todo o trabalho será publicado e continuaremos a caminhada para fortalecer cada vez mais o controle e a participação social ativa na mobilização da sociedade”, pontuou Neilton de Oliveira, conselheiro nacional do CNS. A oficina virtual possibilitou o intercâmbio de experiências identificadas pela iniciativa, instituída pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) e pela Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil (OPAS/BRA). Confira na íntegra.

Os conselhos de saúde mostraram como foram além das atividades rotineiras e, de fato, interagiram diretamente com a crise sanitária provocada pela Covid-19. “As experiências mostram que os conselhos saíram do ambiente restrito das decisões e passaram à rua, ao território, onde as pessoas efetivamente estão vivendo, a sociedade local que está adoecendo”, considera Flávio Goulart, sanitarista e coordenador do laboratório.

Fernando Pigatto, presidente do Conselho Nacional de Saúde, falou sobre a importância do SUS na vida dos brasileiros. “Temos que defender o SUS, e celebrar quem atuou verdadeiramente para combater essa pandemia e salvou milhões de vidas. Tanta dor e sofrimento que vivenciamos, mais de 600 mil vidas tiradas de nós. Se não tivéssemos essas experiências multiplicadas pelo país, teríamos outras milhões de pessoas tiradas de nós, se 100% da população seguisse o que foi orientado pelo presidente da república, alguém já parou para imaginar o que estaríamos vivenciando no nosso país? Isso é triste, mas, ao mesmo tempo, precisamos vibrar que milhões de vidas foram salvas por projetos e experiências como essas do Laboratório de Inovação, é isso que nos anima, nós que lutamos pela vida somos a maioria”, destacou Pigatto, que abordou ainda a importância de fortalecer, cada vez mais, a autonomia dos conselhos de saúde, de garantir recursos, ter orçamento para realizar outros projetos que os fortaleçam ainda mais.

“Parabenizo a todas as experiências que comprovam como a participação social é parte fundamental da saúde, a importância do conselho e dos conselheiros de cada lugar, a riqueza de cada um, fortalecendo os conselhos de saúde. Os perfis dos conselheiros são o motor que movimenta o trabalho, a construção social só acontece com pessoas ativas, que desenvolvem o trabalho que é compartilhado por muitos. É importante se manter como espaço de diálogo e canalizando toda a boa prática, energia e conhecimento, inovar na forma de compartilhar com a comunidade, com formas distintas de compartilhar conhecimentos científicos em linguagem acessível à população”, parabenizou Mónica Padilla,  coordenadora da Unidade Técnica de Sistemas e Serviços de Saúde da OPAS/OMS Brasil.

 

Experiências Exitosas

 

O primeiro expositor, Márcio Henrique Silva, médico de família e comunidade, e autor da experiência “Fala Ana Maria! Construção, fortalecimento e mobilização da comunidade em tempos de pandemia no Rio De Janeiro/RJ” destacou a reorganização dos fluxos e novas pactuações do conselho de saúde para atender as demandas da Covid-19, como a manutenção das reuniões de equipe de forma online, das linhas de cuidado, visitas domiciliares com segurança, diagnóstico comunitário mais personalizado, e nova abordagem comunitária: “Montamos um novo diagnóstico comunitário mais personalizado, percebemos os desafios dos territórios e convocamos as instituições, parceiros (igreja, lideranças comunitárias), e nos juntamos. Foi um momento importante para aproximarmos as lideranças comunitárias, trazermos novos debates sobre os problemas do território, e para aproximar os trabalhadores também. O espaço foi ganhando mais força e agora fazemos as reuniões na igreja mensalmente”, explica.

A experiência identificou ações para vacinação, desafios agravados pela pandemia, como insegurança alimentar, trabalho infantil, luto vinculado à desestruturação familiar, promoção da saude mental, prevenção ao suicídio, entre outros temas pertinentes do território. “Articulamos com uma ONG para distribuir alimentos no território e estimulamos doações. Temos ferramentas para planejamento e intervenção comunitária, planilha de controle em que toda reunião preenchemos junto com a população, e grupo de whatsapp como frente de mobilização”, explicou o médico.

Em seguida, Eduardo Araújo, enfermeiro, presidente do Conselho Municipal de Saúde de Arapiraca-AL e autor da experiência “Continuidade do Controle Social durante a pandemia de Covid-19: estratégias para enfrentamento e fortalecimento da Participação Social e atuação do Conselho Municipal de Saúde de Arapiraca/AL”, destacou as estratégias para o pleno funcionamento do CMS durante a pandemia. Diante das dificuldades de como manter as reuniões, como executar o plano municipal de saúde, gastos para serem avaliados, todas as atividades para o controle social, e ainda, como garantir a segurança dos conselheiros. “Como fazer o planejamento de saúde durante esse ano? Como articular com a secretaria uma estrutura para utilizar alguma plataforma para aglutinar os trabalhadores, os usuários e a diversidade de pessoas. Iniciamos os processos realizando reuniões informativas, para coletar informações, tirar dúvidas, usamos WhatsApp para facilitar o diálogo entre os conselheiros e iniciamos um processo de discussões coletivas. Adiamos as plenárias presenciais e começamos a pensar em como combater a pandemia e manter as atividades”, explicou o enfermeiro.

Para realização da estratégia de inovação foram usados recursos de internet, as reuniões voltaram a acontecer de forma online, assim como as plenárias, e os conselheiros foram capacitados para utilizar as ferramentas tecnológicas de comunicação. “As ferramentas permitiram a expansão das informações para toda população. Conseguimos, de forma pontual, realizar visitas técnicas aos conselheiros, tivemos reuniões através da plataforma, e ficam salvas no youtube, sendo divulgadas à comunidade, e garantimos a participação desses membros, assim como, a formação de novos conselhos locais”, apontou Eduardo Araújo.

 

A experiência “Para a Covid não me convide: estratégias educativas na prevenção e combate às fake news em Pastos Bons/MA”, da expositora Rosa Maria Veloso, Conselheira Estadual de Saúde do Estado do Piauí, chama a atenção para o combate às fake news sobre a Covid-19 por meio da verificação das fontes de informações encontradas na internet, para que sejam conferidas antes de compartilhadas pelos estudantes e comunidade em geral. O público jovem foi o foco do projeto,  devido a necessidade dos estudantes usarem máscaras de forma correta e a seguirem as normas de segurança.

 

“As aulas estavam acontecendo de forma híbrida, e nas presenciais os estudantes não usavam máscara, ou usavam de forma errada, se abraçavam, mudavam as cadeiras de local. Pensando nisso, o governo fez um decreto para que cada escola se preparasse para a volta total e organizasse uma comissão de saúde com todos da comunidade. Então, organizamos uma espécie de disciplina online Para a Covid não me convide, que envolvia biologia química e matemática, colamos informações nas paredes, perguntamos o que era verdade e o que era falso – os alunos acreditam muito nas fake news – então pegamos os dados epidemiológicos e apresentamos para eles, convidamos pesquisadores e professores do Brasil e internacionais para conversarem com pais e alunos durante a matéria”, explicou Rosa Veloso.

A experiência reforça o quanto as falsas informações e o negacionismo podem dificultar o combate à Covid-19 e a importância de informar com dados científicos e verdadeiros. Também foi criado um grupo de WhatsApp para informar sobre o que era falso e verdadeiro, além de jogo e cartilha online para troca de informações.

 

“Terra  Indígena Jaraguá – São Paulo/SP –  Ação de Prevenção e Promoção de Saúde através da conscientização pela língua materna Guarani Mby’a em momentos de pandemia da Covid-19/Todos na Luta contra a pandemia: acolhimento dos casos testados positivos para Covid-19”, da expositora Poty Poran Carlos, pedagoga e gerente de serviço de saúde na UBS Aldeia Jaraguá, mostrou a atuação do conselho de saúde indígine com o serviço da Atenção Primária no enfrentamento da Covid-19. “A comunidade indígena convive muito junto, então manter o isolamento ficou mais difícil. A nossa equipe de saúde faz visitas e orientações nas casas das famílias, mas para isolar precisávamos de um local, então criamos o CECI (Centro de Educação e Cultura Indígena) e conseguimos isolar os casos positivos neste centro de acolhimento”, explica a expositora.

Para finalizar, Flávio Goulart comentou sobre a experiência de Alpinópolis/MG, que não esteve presente na oficina devido a conflitos de agenda: “O conselho é bastante atuante nas discussões para enfrentamento da Covid-19, criou comitê de acompanhamento, assumindo o seu protagonismo. Realizou o monitoramento das atividades, acompanhou as curvas epidemiológicas e realizou um Plano Municipal de combate à Covid-19, e usa muitos instrumentos de comunicação para manter a sociedade sempre informada”.

 

O LIS segue em andamento e as novidades podem ser acompanhadas na página do laboratório.

 

 

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