Reconhecida como um dos maiores desafios para os sistemas de saúde de todo o mundo, a pandemia de COVID-19 também representou uma oportunidade de fortalecimento do SUS, avaliam os participantes da Primeira Mostra de Experiências em Apoio Institucional da Gestão Federal do SUS. Nesta quarta-feira (09/12), no penúltimo dia da programação, as exposições e relatos de experiências trataram sobre desafios e possibilidades em tempos de pandemia.
O papel estratégico dos apoiadores institucionais do Ministério da Saúde no fortalecimento do SUS foi destacado na fala de boas-vindas, pela coordenadora-geral de Cooperação à Gestão Interfederativa do Ministério da Saúde (CGCI/DGIP/SE/MS), Teresa Maria Passarella.
Na exposição Atenção primária e especializada: desafios e possibilidades em tempos de pandemia, Alexandre Borges Fortes, da Coordenação-Geral de Garantia dos Atributos da Atenção Primária (CGGAP) do Ministério da Saúde, apresentou as principais estratégias desenvolvidas no enfrentamento à COVID-19. As ações focaram na ampliação do acesso, com flexibilização dos horários de atendimento aos pacientes, criação de centros de atendimento à COVID e centros comunitários de referência, chegando a mais de 3,3 mil centros em funcionamento durante a pandemia.
Segundo Fortes, A Atenção Primária à Saúde (APS) fortaleceu a integração com a Vigilância em Saúde (VS), o que possibilitou o rastreamento e monitoramento dos pacientes com COVID, com auxílio do e-SUS. Fortes citou, ainda, a implantação de novas ferramentas, como teleatendimento e consultório virtual, além da contratação emergencial de médicos e credenciamento de novas equipes de saúde da família. Em relação à continuidade do cuidado, as doenças crônicas foram priorizadas para que não houvesse suspensão do atendimento durante a pandemia. As estratégias de enfrentamento à COVID envolveram também suporte psicológico aos profissionais de saúde e qualificação do processo de trabalho das equipes, com implantação de fluxos diferenciais.
A médica Mariana Borges dias, da Coordenação-Geral de Atenção Hospitalar e Domiciliar da Secretaria de Atenção Especializada à Saúde do MS, afirmou que a pandemia consolidou o atendimento domiciliar como modalidade fundamental de assistência no SUS. Segundo Dias, a atenção domiciliar se apresentou como estratégia potente em meio à pandemia para evitar a sobrecarga nos hospitais e Unidades Básicas de Saúde (UBS), e para interromper a transmissão nos locais de grande aglomeração de pessoas doentes. Os pacientes infectados são isolados dentro de casa, disponibilizando mais leitos hospitalares. Atualmente, existem quase 1,5 mil equipes multiprofissionais atuando no programa Melhor em Casa, que está presente em 596 municípios do país, com uma média mensal de 48 mil atendimentos, substituindo internações.
Dias destacou a capacidade das equipes de saúde para encontrarem novas formas de serem úteis e contribuir com o momento de grande força-tarefa nacional. Entre as inovações, estão o monitoramento domiciliar por telefone e outras modalidades de atendimento a distância, como telepsicologia e telefisioterapia, utilizada na reabilitação pulmonar intensiva de pacientes no pós-COVID. Para Dias, as inovações de telessaúde vieram para ficar. “O telemonitoramento telefônico dos pacientes, o telemonitoramento visual, monitoramento de parâmetros, monitoramento a distância de pacientes complexos, com ventilação, isso tudo começou a ser feito e foi ampliado com a COVID. Não só o monitoramento de pacientes, mas os recursos de equipe para equipe, telediagnóstico, segunda opinião, cursos online, capacitações a distância e comunicação com a rede e usuários”.
Dias considera que a pandemia trouxe um legado, que é demonstrar à população a relevância dos serviços ambulatoriais e domiciliares. “Pela primeira vez, estamos começando a ver uma rede que não é tão centrada no hospital. O papel do hospital fica muito bem delimitado no cuidado ao agudíssimo e grave, e todas as outras portas de entrada estão dando conta dos pacientes ambulatoriais. Com isso, se ampliou muito a percepção da importância do SUS”.
Apoio institucional no enfrentamento à COVID-19
O suporte dos apoiadores institucionais do Ministério da Saúde no enfrentamento à pandemia foi relatado nas apresentações do Acre, Alagoas, Bahia, Goiás, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Os participantes trouxerem relatos das estratégias desenvolvidas pelas Seções de Apoio Institucional e Articulação Federativa (SEINSF) nos estados para responder à emergência sanitária, em atividades que envolveram desde a entrega de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), equipamentos hospitalares, insumos, até habilitação de leitos de COVID e monitoramento do sistema de internação hospitalar. Conforme observou a moderadora das apresentações, Laeticia Jensen Eble, da Coordenação Geral de Fortalecimento da Gestão dos Instrumentos de Planejamento do SUS (CGFIP/DGIP/SE/MS), os relatos mostraram a dimensão do enfrentamento da pandemia e a contribuição do apoio institucional em várias frentes de trabalho, evidenciando a potencialidade das SEINSF em relação às demandas extraordinárias em momento de crise.
As apresentações foram intercaladas pelas pílulas do Centro Cultural do Ministério da Saúde, que trouxe um cordel e um vídeo sobre o trabalho da Companhia Àtria Baderna Artística do Rio de Janeiro.
Após assistir aos relatos de experiências, Stefano Barbosa Codenotti, supervisor da Força-Tarefa de Integração APS e VS, destacou que as falas mostram a proximidade necessária das ações desenvolvidas no Ministério da Saúde. “As secretarias do MS não podem ser pensadas de forma independente, as ações devem ser coordenadas para que fortaleçam estados e municípios. Temos que pensar na continuidade da integração entre as secretarias após a pandemia”.
No diálogo temático sobre COVID-19 e o apoio institucional, Mariana Borges Dias citou as palavras que predominaram nas apresentações: integração, articulação, fortalecimento, potencialidade, informação e comunicação. “O nosso SUS está mostrando, por vários ângulos, a sua força como o maior sistema de saúde público do mundo. Com a pandemia, o SUS cresceu dez anos em um”.
Para Alexandre Borges Fortes, a palavra que mais ressoou nas apresentações foi integração. “As soluções já existem, só precisamos articular, e isso depende de uma rede que possa comunicar. Com algum grau de estresse, se consegue aumentar muito a curva de aprendizado. A trajédia do coronavírus trouxe uma motivação maior para fazer o melhor”, concluiu.
Relatos de experiência em https://apsredes.org/mostra-de-experiencias/
Mais informações em www.inovacaoemsaude.org