A atuação da Enfermeira de Ligação no Modelo CHC/UFPR de gestão de altas

“O Serviço de Gestão de Altas potencializa o papel da enfermeira com a função da Enfermeira de Ligação, dando visibilidade à capacidade de coordenação do cuidado dessas profissionais. Representa um grande avanço ao estabelecer integração da rede de saúde, além de intensificar o papel da atenção primária.”

Jaqueline Dias do Nascimento Selleti, enfermeira

 

A luz amarela se acendeu no Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (CHC/UFPR), integrante da rede de alta complexidade do Sistema Único de Saúde (SUS), com 600 leitos. Era preciso encarar um desafio recorrente dos serviços hospitalares: criar mecanismos eficientes de contrarreferência dos pacientes internados. A solução foi investir na gestão da alta hospitalar, introduzindo o papel da Enfermeira de Ligação, para intermediar o cuidado dos pacientes pós-alta nos pontos das Redes de Atenção à Saúde (RAS) do território. A experiência conta com a parceria da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Curitiba, da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A prática foi selecionada pelo Laboratório de Inovação em Enfermagem, promovido pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) no Brasil e pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). Saiba mais aqui!

Pioneiro no Brasil, o Serviço de Gestão de Altas (SGA) do CHC/UFPR é resultado de 10 anos de pesquisas sobre a criação de um canal formal entre o hospital e a rede de atenção para pacientes com cuidados continuados. Além de assegurar o bem-estar do usuário depois de deixar o hospital e de promover o autocuidado, a experiência visa aumentar a resolutividade assistencial após a alta hospitalar, evitar a agudização de condições crônicas, fortalecer o compromisso profissional e institucional com o cuidado integral e o bom uso de recursos públicos.

Lançado em janeiro de 2018, o Serviço de Gestão de Altas apontou que 23% das altas foram gerenciadas com 4,4% de reinternações, no primeiro ano. Em 2019, 31% das altas foram gerenciadas com 2,6% de reinternações. Foram encaminhados ao domicílio 10 pacientes em ventilação mecânica e foram desospitalizados (4) quatro pacientes internados havia mais de um ano.

Nos primeiros cinco meses  de 2020, foram gerenciadas 1.346 altas sendo que 22% das altas totais das unidades foram acompanhadas, quase o mesmo percentual registrado ao longo de todo o ano de 2018, segundo o SGA. Com a pandemia de Covid-19, a gestão de altas precisou adequar sua atuação para a identificação da necessidade de continuidade do cuidado de usuários com suspeita ou confirmação da doença.

Os pacientes atendidos pelas Enfermeiras de Ligação costumam ser portadores de doenças crônicas de difícil manejo, de doenças agudizadas e/ou com síndromes geriátricas; dependentes ou impossibilitados de desenvolver as atividades básicas da vida diária; pacientes em cuidados paliativos, com necessidade de cuidados especiais ou de continuidade de tratamento no domicílio ou ainda pacientes em uso de dispositivos com necessidade de reabilitação.

Entre os desafios da experiência, os autores elencam a elevação do número de altas gerenciadas diante do aumento constante de usuários dos serviços de saúde, a institucionalização do plano de alta hospitalar com envolvimento de toda a equipe multiprofissional e a transformação do Serviço em um campo para estágio e pesquisa e, assim, contribuir para a formação profissional. A expansão do sistema para os pacientes ambulatoriais e o aumento da interface com outros programas e serviços municipais e estaduais, principalmente, com os serviço de saúde mental e atendimento multiprofissional também estão postos como desafios para a equipe.

Fonte – Informações cedidas pelos autores.

Serviço de Gestão de Altas (SGA) do CHC/UFPR foi concebido a partir de um modelo teórico, da avaliação de custos e benefícios considerando as necessidades locais, das políticas públicas e da legislação vigente. Inicialmente utilizou-se o conhecimento científico e prático acumulado nas experiências de Canadá, Portugal e Espanha.

Optou-se por um modelo híbrido que teve como pressupostos iniciais: o gerenciamento de casos a partir da divisão do hospital em cinco sub-áreas com equipes exclusivas e interligadas justamente pela enfermeira de ligação. A alta do paciente tornou-se uma prática multidisciplinar, identificando-se com a maior antecedência possível a necessidade da continuidade do cuidado. Institucionalizou-se a contrarreferência, promovendo-se a integração formal com toda a rede de atenção do município e do Estado.

O processo de trabalho foi desenhado e acompanhado com algoritmos e mapeamento dos fluxos internos e externos, descrição dos procedimentos operacionais, elaboração de material informativo e construção da identidade visual.

A primeira etapa do Sistema de Gestão de Altas, o ‘Projeto Piloto’, ocorreu no hospital, de agosto a dezembro de 2017, com a atuação de duas enfermeiras selecionadas a partir do perfil de competências obtido por pesquisas. Neste período foram realizados 448 gerenciamentos de alta de um universo de 1,9 mil internações/mês.

Ainda nessa fase inicial foram realizadas reuniões com o gestor de saúde do município e a equipe multiprofissional que teria interfaces gerais e específicas com o SGA para definir os critérios de inclusão, formulários de encaminhamento, sistemas de integração, entre outros. Também foram mapeadas as regiões da cidade e do Estado de onde vinha o maior número de indivíduos atendidos pelo Complexo Hospital de Clínicas.

Posteriormente, o Serviço foi aprovado nos conselhos superiores da instituição. Estas estratégias facilitaram a inserção das enfermeiras de ligação nos mais variados ambientes. Desde 2019, as informações são repassadas via e-saude, uma plataforma de gestão municipal onde as Enfermeiras de Ligação atualizam o prontuário eletrônico do paciente com as informações da sua internação, resumo de alta, plano de cuidados e eventualmente exames ou imagens que ajudam a dar seguimento na atenção primária.

Além da continuidade do cuidado, inclusive de adultos e crianças que necessitam de ventiladores, o SGA promove ainda desospitalização social. O Serviço é o precursor da discussão de uma estação secundária para pacientes com necessidades sociais que ocupam leitos complexos (a SMS de Curitiba contratou leitos em instituição filantrópica para esta finalidade) e permitiu estabelecer e consolidar algumas linhas de cuidado que perpassam muitas estações na rede e que exigem grande articulação em termos de exames, medicação ou procedimentos (curativos, cuidados com estomias etc).

Site  – https://www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/regiao-sul/chc-ufpr

Ficha Técnica: A atuação da Enfermeira de Ligaçao no Modelo CHC/UFPR de gestão de altas

Ampliação do escopo de práticas

Melhoria do acesso aos serviços de saúde
Maior adesão ao tratamento, gestão de sintomas e utilização dos serviços
Efetividade clínica na atenção aos usuários/pacientes
Maiores níveis de satisfação do usuário, unidos a uma atenção mais personalizada, a provisão de informação e uma maior dedicação no tempo consulta

Elizabeth Bernardino
Jaqueline Dias do Nascimento Selleti
Marcelo Stegani
Jane Terezinha Stival

Trata-se do relato de experiência da implantação de um serviço de gestão de altas em um Hospital Público Universitário.
O serviço é pioneiro no Brasil e é coordenado por enfermeiras de ligação como estratégia para assegurar a continuidade do cuidado entre o hospital e os demais pontos da rede de atenção à saúde da cidade de Curitiba, região metropolitana e demais regiões do estado do Paraná.
A proposta de implantação de um serviço de Gestão de Altas no Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (CHC-UFPR), emerge do desenvolvimento de 10 anos de pesquisas junto ao Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná, no qual a pesquisadora principal exerceu atividade precursora em projetos sobre continuidade do cuidado. Após algumas tentativas junto alguns gestores, a proposta foi aceita frente as dificuldades de manejo de pacientes com doenças crônicas ou em condições crônicas que precisavam de um apoio da atenção primária
e secundária.

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