A pesquisa “A qualidade da Atenção Primária no Programa Mais Médicos: a experiência dos médicos e usuários”, publicada pela OPAS Brasil, mostra que a presença do Programa Mais Médicos contribui decisivamente para o avanço da Estratégia Saúde da Família (ESF) na Atenção Primária a Saúde (APS) do país, por meio da garantia do profissional médico em lugares de maior vulnerabilidade ou com dificuldade de alocação desses profissionais. A pesquisa reúne os resultados de dois estudos transversais, de abrangência nacional, que utilizaram o instrumento do PCATool para avaliar os serviços de APS a partir da experiência de mais de 8 mil médicos cubanos do PMM e mais de 6 mil usuários dos serviços de APS com médicos do PMM e médicos da ESF. O objetivo foi medir os atributos essenciais (acesso, longitudinalidade, integralidade ou abrangência e coordenação do cuidado pela APS) e derivados (orientação familiar e orientação comunitária), que indicam se os serviços de APS possuem qualidade adequada para suprir as necessidades em saúde da população. Participaram do estudo os pesquisadores Lisine Hauser, Lucas Wollman, Milena Rodrigues Agostinho, Rudi Roman e Sotero Mengue, sob a coordenação do pesquisador Erno Harzheim, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
A pesquisa aponta que Programa Mais Médicos, por meio do eixo de provimento emergencial de médicos, em regiões socioeconômicas mais vulneráveis, se mostrou efetivo para melhorar o acesso da população à Atenção Primária, particularmente, na Região Nordeste. Contudo, os pesquisadores advertem que é necessário identificar outros fatores que dificultam o acesso às unidades de saúde, além da presença ou não de médicos, visto que o escore desse atributo foi baixo em todas as regiões do País e a explicação para esse baixo resultado se refere mais a organização dos serviços do que a presença do médico.
Segundo a pesquisa, apesar dos avanços ocorridos na Atenção Primária à Saúde nos últimos anos é necessário que o País repense a forma de organização dos serviços de APS, ampliando a carteira de serviços oferecidas a população, bem como, utilizar estratégias chamadas de acesso ampliado, com intuito de oferecer maior acessibilidade à população por meio da oferta de horários estendidos de atendimento e atendimento médico para demandas espontâneas, evitando-se a procura desnecessárias a serviços de urgência e pronto atendimento. Além disso, a ampliação do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação, como estratégias viáveis para facilitar acesso das pessoas ao cuidado médico em atenção primária.
Metodologia PCATOOL
Foram realizados dois estudos transversais, de abrangência nacional, ambos utilizando o instrumento do PCATool. Os questionários foram aplicados no ano de 2016 e os dados compilados em 2017. O primeiro estudo ocorreu por meio de entrevistas com usuários das equipes de Saúde da Família de todo o País que estavam nas unidades de saúde na hora da amostra. Ao todo foram entrevistados 6.160 usuários da Estratégia Saúde da Família, sendo que 2087 se consultaram com médicos cubanos do Programa Mais Médicos, 2062 usuários se consultaram com médicos brasileiros do Programa Mais Médicos e 2.011 com médicos brasileiros não vinculados ao Programa Mais Médicos.
A maioria da população entrevistada era composta de mulheres e de pessoas que não estavam atualmente trabalhando e muito pobres, pessoas de extratos sociais C2,D e E. Esses achados corroboram com os objetivos estabelecidos para o Programa Mais Médicos de atendimento de populações com maior vulnerabilidade, sendo que os médicos cubanos atendem os mais pobres com maior grau de analfabetismo.
O segundo estudo foi realizado com os médicos intercambistas cubanos participantes do PMM distribuídos por equipes de Saúde da Família de todo o País. Do total de 9.600 médicos cubanos participantes do PMM, foram obtidos 8.235 questionários, ou seja, 85,8%. Destaca-se que 100% da amostra é composta por médicos com formação em Medicina Geral e Integral e com experiência internacional prévia ao PMM. Mais da metade dos médicos é do sexo feminino e apresenta idade média de 43 anos. A distribuição de médicos cubanos entre os diferentes tipos de municípios (de acordo com classificação do Ministério da Saúde) mostra que o tipo que mais recebeu médicos foi o ‘Demais localidades’ (41%), que se refere aos 40% dos setores censitários com municípios que apresentam os maiores percentuais de população em extrema pobreza.
PMM
A pesquisa apresenta informação para os três grupos de médicos e os analisa em termos nacional e regional, o que permite uma melhor compreensão sobre a força da Atenção Primária e dos obstáculos para sua realização. Na perspectiva dos usuários adultos, o Escore Geral da APS nacional foi considerado alto, com valor de 6,78 (IC: 6,71 – 6,84), sem diferenças entre os tipos de médicos, mais muito diferente nas regiões. O sul e sudeste apresentam escores gerais maiores (18). “Na comparação das três tipologias de médicos dentro de cada região, identificou-se diferença estatisticamente significativa apenas na Região Nordeste, com os usuários vinculados aos médicos intercambistas cubanos apresentando Escore Geral levemente mais alto (6,90 com IC:6,72 a 7,09) que os usuários vinculados aos médicos brasileiros do PMM (6,55 com IC:6,33 a 6,77) ou aos médicos não participantes do PMM (6,51 com IC:6,23 – 6,79) e da ESF”, diz os autores.
Já o Escore Acesso de Primeiro Contato foi considerado baixo no País, com valor de 4,24 (IC: 4,18 a 4,30), aliado à diferença estatisticamente significativa entre os grupos de médicos para este escore, mostrando o grupo de usuários vinculados a médicos cubanos com escore levemente superior (4,43 com IC: 4,32 a 4,54) quando comparado aos grupos de usuários vinculados a médicos brasileiros do PMM (4,08 com IC:3,98 a 4,18) ou a médicos brasileiros não participantes do PMM (4,20 com IC: 4,09 a 4,32). Também houve diferença estatisticamente significativa no Escore de Acesso de Primeiro contato entre os grupos na Região Nordeste, mostrando melhor escore para o grupo de usuários dos médicos de Cuba (4,48 com IC: 4,26 – 4,71) em comparação com o grupo de médicos brasileiros do PMM Brasil (3,94 com IC:3,77 – 4,11). O componente Longitudinalidade apresentou alto escore, com valor nacional de 7,43 (IC: 7,37 a 7,49), sem diferenças entre os três grupos de médicos”.
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Fonte – Plataforma de Conhecimentos do Programa Mais Médicos – http://maismedicos.bvsalud.org/