Despertando paixões de ensinar e de aprender em nutrição: experiências pedagógicas envolvendo crianças e graduandos

1.2 Autores(as) da experiência

Nome Cargo/Função Município
Thiago Perez Jorge professor magistério superior Natal
Diôgo Vale Nutricionista Natal
Juliana Morais Nutricionista Natal
Vânia R. Pascoal Maia Pedagoga Natal
Michelle Cristine Medeiros Jacob Professora magistério superior Natal
Gildene Lima de Souza Fernandes Professora educação básica Natal
Maria Fernanda Araújo de Medeiros aluna monitora, graduada Natal
Helouisa Beatriz Carvalho dos Santos aluna monitora, graduada Natal
Thailla Raquel Moura de Oliveira aluna monitora, graduada Natal
Laís de Oliveira Batista Lourenço aluna monitora Natal
Cecília Alves Gomes Silva aluna monitora Natal
Thaina Targino Ferreira aluna monitora Natal
Thaiany de Medeiros Sobral aluna monitora Natal
Yasmim Bezerra Batista aluna monitora Natal
Julliane Sandriely de Melo Pereira aluna monitora Natal
Gabriela da Silva Faulhaber aluna monitora Natal

1.3 Organização(ções)/Instituição(ções) promotora(s) da experiência

Organização/Instituição
Laboratório de Educação Alimentar e Nutricional (LEAN)
Departamento de Nutrição, UFRN

1.4 Cidade(s) e Estado (s)

Estado Cidade
Rio Grande do Norte Natal

1.5 Região do país

Nordeste

1.6 Identificação do(a) autor(a) responsável

Nome Cargo/Função Município
Thiago Perez Jorge docente Natal

1.7 Eixo temático da experiência

Eixo 2 - EAN no campo da Educação

1.8 Público participante da experiência

Crianças - 2 a 5 anosCrianças - 5 a 10 anosAdultos

1.9 Onde esta experiência foi desenvolvida

EDUCAÇÃO
Escola Pública
Universidade
Educação infantil
Ensino Fundamental
1.10 Na avaliação do grupo responsável esta experiência atendeu e/ou promoveu os seguintes princípios
todas as pessoas têm o direito de estarem livres da fome
todas as pessoas têm o direito de ter acesso à alimentação adequada saudável
universalidade
integralidade
equidade
apoio ao desenvolvimento sustentável

Por favor justifique/comente sua resposta

As atividades realizadas desde 2018 envolvem as crianças do Núcleo de Educação da Infância – Colégio de Aplicação da UFRN (NEI), e buscam atender e promover os princípios indicados na medida em que participam da experiência educativa todas as crianças das turmas de educação infantil (T2,T3,T4) e ensino fundamental (1º,2º,3º,4º,5º anos), ao passo que se considera todas as necessidades e singularidades das crianças atendidas, incluindo as necessidades educacionais específicas, numa perspectiva, portanto, inclusiva e de participação. Nesse sentido, as atividades pedagógicas consideram as crianças sujeitos históricos e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivenciam, constroem suas identidades pessoal e coletiva, brincam, imaginam, fantasiam, desejam, aprendem, observam, experimentam, narram, questionam e constroem sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura. Ainda, no período em que permanecem na escola as crianças do NEI têm acesso a lanches e refeições adequadas e saudáveis, estando livres da fome. E as práticas pedagógicas envolvem alimentação e nutrição numa perspectiva sustentável, sendo que muitas atividades se articulam com a horta pedagógica do NEI e/ou com a horta comunitária do LabNutrir, do Departamento de Nutrição da UFRN, buscando despertar nos educandos uma visão para a alimentação pautada no referencial local e de alimentos in natura e biodiversos. Dessa forma, entende-se que os princípios destacados vêm sendo gradativamente promovidos pela continuidade das ações realizadas junto com as turmas do NEI.

2. OBJETIVOS E PRINCÍPIOS RELACIONADOS À EXPERIÊNCIA

2.1 Objetivo(s): Qual é/foi a finalidade das atividades desenvolvidas

Objetivo geral executar projetos de Educação Alimentar e Nutricional visando a promoção da nutrição saudável e sustentável, tendo como público-alvo a comunidade escolar do Núcleo de Educação da Infância (NEI/CAp/UFRN). Objetivos específicos: Desenvolvimento da Pedagogia de Projetos junto às turmas de educação infantil e ensino fundamental do NEI – diagnóstico educativo, planejamento das atividades pedagógicas, execução das aulas, avaliação, análise e sistematização dos resultados alcançados; Ações integradas dos componentes curriculares envolvidos no Projeto, a saber: Atividades de EAN junto às crianças e adultos vinculados ao NEI; Organização de Evento de extensão voltado para a comunidade escolar (equipe pedagógica, equipe de nutrição, escolares, pais e responsáveis) do NEI/CAp/UFRN; Sistematização das ações e relato de experiência e publicação em periódicos científicos e/ou ebook; Produção de conhecimentos e experiências de EAN para as turmas da graduação em Nutrição, por meio do planejamento, execução, avaliação e sistematização das práticas pedagógicas a serem desenvolvidas junto ao NEI, contribuindo para a melhoria do desempenho acadêmico no curso; Promoção da alimentação e nutrição saudável e sustentável junto à comunidade escolar (equipe pedagógica, equipe de nutrição, escolares, pais e responsáveis) do NEI/CAp/UFRN.

2.2 Os objetivos e as atividades desenvolvidas adotaram de maneira explícita algum ou alguns dos princípios do Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para Políticas Públicas

I - Sustentabilidade social, ambiental e econômica
II- Abordagem do sistema alimentar, na sua integralidade
III- Valorização da cultura alimentar local e respeito à diversidade de opiniões e perspectivas, considerando a legitimidade dos saberes de diferentes naturezas
IV- A comida e o alimento como referências; Valorização da culinária enquanto prática emancipatória
V- A Promoção do autocuidado e da autonomia
VI- A Educação enquanto processo permanente e gerador de autonomia e participação ativa e informada dos sujeitos
VII- A diversidade nos cenários de prática
IX- Planejamento, avaliação e monitoramento das ações
2.3 Quais temas/diretrizes dos Guias Alimentares para População Brasileira e/ou para Crianças brasileiras menores de 2 anos são/foram abordados na experiência?
Esta experiência trabalha com crianças a partir da Turma 2, 3-4 anos, e até o 5º ano, 10-11 anos, levando em conta o contexto sociocultural, o conhecimento e conteúdos disponíveis de acordo com o momento pedagógico, e os aspectos diretamente vinculados ao processo de aprendizagem das crianças. Dessa forma, de acordo com as características de cada turma e de cada criança (nível de desenvolvimento, contexto sociocultural) são elaborados planos de aula (conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais) promovendo a transposição didática de tanto de temas e diretrizes do Guia Alimentar para a População Brasileira, 2.ed., como a Classificação Nova baseada no nível de processamento dos alimentos, bem como os cinco princípios do Guia: 1) complexidade da alimentação que envolve aspectos nutricionais, socais e culturais; 2) que a base da alimentação deve se pautar pelo consumo de alimentos in natura e minimamente processados (arroz, feijão, mandioca, batata, legumes e verduras); 3) que práticas alimentares devem se respaldar em sistema alimentar social e ambientalmente sustentável; 4) que os diferentes saberes relativos à alimentação devem compor o pano de fundo dos conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais dos educandos; 5) culminando, portanto, na ampliação da autonomia das crianças para com suas escolhas e práticas alimentares. Destaca-se, ainda que esses conteúdos são incorporados nas atividades escolares de EAN de forma lúdica, contextualizada e significativa, na medida em que partem dos centros de interesses das crianças.
2.4 Vocês consideram que esta experiência pode contribuir de maneira direta ou indireta a um ou mais dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ?
ODS 3 - Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
ODS 4- Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos
ODS 11 - Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis
ODS 12 - Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis
ODS 16 - Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis

3. ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO DA EXPERIÊNCIA

3.1 Como foi identificada a necessidade de realização desta experiência
Tendo como pressuposto a necessidade de se incorporar na educação básica práticas pedagógicas que tomam o alimento e a alimentação como objetos de ensino-aprendizagem, incorporando a educação alimentar e nutricional (EAN) junto ao currículo escolar (Lei 13.666/2018), o Laboratório de Educação Alimentar e Nutricional buscou parceria junto ao Laboratório Horta Comunitária Nutrir (LabNutrir) e ao Núcleo de Educação da Infância (NEI-CAp), espaços vinculados à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), para promoção da alimentação adequada, saudável e sustentável junto aos escolares do NEI. Então a realização desta experiência se coloca como uma via de mão dupla, já que se por um lado prepara futuros nutricionistas na tarefa de se constituir educador, apto a lidar com o público de crianças, pautado por uma metodologia ativa, participativa e dialogado com os atores escolares (gestão, professores, nutrição), por outro lado, contribui no processo de aprendizagem e desenvolvimento dos escolares, fortalecendo no espaço escolar o entendimento que alimentação e nutrição é essencial tanto pela oferta de refeições adequadas e saudáveis no sentindo ampliado, quanto pelo pressuposto de que o fazer EAN na escola é fundamental ao processo de crescimento e desenvolvimento biopsicossocial dos escolares, já que, integrada ao currículo escolar, contribui para a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças em seus aspectos sensório-motores, emocionais, cognitivos e sociais. O que não é pouca coisa.
3.2 Foi realizado algum diagnóstico da situação (observação da realidade, levantamento de demandas junto ao público etc) antes de iniciar a experiência

Sim

descreva rapidamente
Semestralmente os educandos do componente de Educação Alimentar e Nutricional do curso de Nutrição da UFRN realizam, sob orientação do docente responsável, o Diagnóstico Educativo junto à escola. Nesse sentido temos o desenvolvimento dos momentos: 1) exposição e historicização pela coordenação pedagógica da concepção, estrutura, recursos, princípios e métodos aplicados na escola; 2) observação das turmas do NEI pelos graduandos da Nutrição, momento do qual os estudantes observam, registram e refletem sobre a rotina escolar, as características gerais das turmas e as singularidades dos estudantes; 3) exposição dialogada com a nutricionista sobre as experiências de EAN realizadas, refletindo coletivamente sobre os desafios e as possibilidades do trabalho de EAN com as crianças (jogos, brincadeiras, oficinas culinárias, atividades com horta e demais ações pedagógicas); 4) diálogo com as professoras das turmas envolvidas para uma adequada e significativa contextualização de como a EAN pode ser realizada a partir do centro de interesse das turmas, que são pautados no método da escola denominado “Temas de Pesquisa”.
3.3 Como foram definidos as prioridades e objetivos da experiência
A partir dos momentos do Diagnóstico Educativo são definidas as prioridades e os objetivos da experiência educativa com as crianças de cada turma da educação infantil e do ensino fundamental do NEI.
3.4 Os sujeitos da ação participaram das etapas de planejamento da experiência?

Sim

sim, em quais etapas e como participaram ?
O NEI trabalha com o método chamado Tema de Pesquisa, apropriação dos temas geradores de Paulo Freire para a educação com crianças. Cada turma escolhe o tema que vai estudar ao longo de um trimestre, semestre ou ano, a depender das curiosidades apontadas pelas crianças acerca do tema e dos desdobramentos que vão surgindo ao longo dos estudos. Para ser Tema de Pesquisa, um tema deve: gerar questionamento e necessidade de aprofundamento, envolver afetivamente o grupo, aglutinar várias áreas de conhecimento/campos de saberes e experiências e possibilitar uma visão mais ampla da realidade. Assim, o planejamento da EAN precisa envolver o Tema de Pesquisa de cada uma das turmas do NEI. Nesse sentido, quando as crianças escolhem o tema, as crianças se implicam no processo. De forma geral os temas de pesquisa sempre possibilitam articulação da complexidade que envolve o campo da alimentação e nutrição, sustentabilidade, saúde, sendo que os graduandos da Nutrição se engajam em pesquisar e dialogar com professores (NEI, Nutrição) e nutricionista da escola para desenvolver o melhor caminho para que essas mesmas perguntas, tomadas do Tema de Pesquisa, tornem-se temas geradores para despertar o olhar das crianças para aprender alimentação e nutrição. Portanto, numa relação dialógica e contextualizada, pautada pela aprendizagem significativa temos a construção de planos de aula do qual todos os atores com os pés na sala, e para além dela – crianças, professores, graduandos Nutrição – participam construindo o processo, do planejamento à avaliação.
3.5 Foram desenvolvidas metodologias ativas como estratégias pedagógicas para a EAN

Sim

Se sim, indique a(s) metodologia(s) com uma breve descrição
No âmbito do LEAN utilizamos a Pedagogia de Projetos como forma de provocar e motivar os graduandos da Nutrição como mediadores das atividades de ensino em Alimentação e Nutrição junto com os escolares do NEI. As etapas da Pedagogia de Projetos compreendem: 1) Diagnóstico Educativo, conforme os momentos, envolvendo as crianças, a equipe pedagógica, docente e professores, e de nutrição; 2) Planejamento construído de modo dialogado entre graduandos da Nutrição, professoras e nutricionista do NEI contendo as dimensões: A) Tema de EAN de acordo com Tema de Pesquisa; B) Objetivos geral e específico; C) Habilidades e competências de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC); D) Conteúdos – conceituais, procedimentais e atitudinais; E) Estratégia de ensino; F) Recursos necessários; G) Cronograma; H) Procedimento de avaliação; I) Referências; J) Anexos e apêndices; 3) Ação das atividades propostas; 4) Avaliação contínua a partir de rodas de conversa entre os integrantes das equipes de graduandos de Nutrição, para socializar e construir os aprendizados das ações (o que, por que e como aconteceu); 5) Avaliação sistematizada, para fundamentar utilizamos as seguintes dimensões: A) Envio do planejamento com antecedência para todos os envolvidos (docente da Nutrição, professoras das turmas do NEI e equipe da Nutrição); B) Aproximação amistosa com a turma; C) Realização da metodologia em sintonia com o Plano de Aula; D) Pontualidade e boa administração do tempo de aula (cerca de 40 minutos para educação infantil e de 1h para ensino fundamental); E) Capacidade de lidar com mudanças eventuais; F) Utilização de linguagem adequada; G) Adequação da prática educativa à faixa etária; H) Domínio do tema de EAN; I) Grau de desempenho, organização e interesse; J) Realização de encerramento da prática educativa.
3.6 Foram utilizados recursos materiais nas atividades desenvolvidas

Sim

sim, quais recursos?
Computador, aparelho de retroprojeção, caixas de som, tipos variados de papel para desenhar, materiais diversos como tintas guache, giz de cera, canetinhas, lápis de cor, alimentos e utensílios para práticas culinárias.
3.7 Sua experiência se configura no desenvolvimento de materiais educativos e desenvolvimento de tecnologias sociais a serem aplicados por outros profissionais?

sim

Descreva sobre o material/tecnologia social
Os materiais educativos são elaborados pelos graduandos de Nutrição de acordo com o momento do Tema de Pesquisa das turmas e para cada contexto adequando-se à faixa etária e ao nível de desenvolvimento escolar. Dessa forma os materiais são os mais variados possíveis – projeção de slides informativos, filmes, desenhos, músicas disponíveis, ou criação/adaptação de músicas infantis; oficinas culinárias contemplando receitas como gênero textual e desenvolvimento de habilidades culinárias de acordo com a idade das crianças, contação de histórias/estórias, elaboração de jogos e brincadeiras. Ademais, temos produzido materiais tanto para periódicos científicos da área (artigos, resumos expandidos), livros e e-books quanto materiais de ampla circulação (e-book para eventos de extensão).
3.8 Como a experiência foi avaliada e quais os resultados obtidos
Cada momento da Pedagogia de Projetos (Diagnóstico Educativo, Construção dos Planejamentos e ação com escolares) é processualmente avaliado. Construímos uma Ficha Avaliativa preenchida pelos professores e monitores da graduação em Nutrição, observadores das atividades realizadas pelos educandos do componente de Educação Alimentar e Nutricional. A referida Ficha Avaliativa é um instrumento utilizado para estabelecer a pontuação obtida por cada equipe de graduandos da Nutrição. Nela, foram elencados 10 itens sujeitos à avaliação subjetiva e objetiva (pontuação de 1 a 10) pelo docente da sala e/ou monitor destacado para acompanhar, enquanto observador-avaliador, as intervenções desenvolvidas e executadas. Eis as dimensões: 1) ENVIO DO PLANEJAMENTO ANTES DA INTERVENÇÃO; 2) APROXIMAÇÃO AMISTOSA COM A TURMA; 3) REALIZAÇÃO DA METODOLOGIA EM SINTONIA COM O PLANO; 4) PONTUALIDADE E BOA ADMINISTRAÇÃO DO TEMPO; 5) CAPACIDADE DE LIDAR COM EVENTUAIS MUDANÇAS; 6) UTILIZAÇÃO DE LINGUAGEM ADEQUADA; 7) ADEQUAÇÃO DA PRÁTICA EDUCATIVA À FAIXA ETÁRIA; 8) DOMÍNIO DO TEMA ABORDADO NA PRÁTICA; 9) GRAU DE DESEMPENHO, ORGANIZAÇÃO E INTERESSE; 10) REALIZAÇÃO DE ENCERRAMENTO DA PRÁTICA. Incluindo, ao final da Ficha, espaço para comentários gerais. Nesse sentido, a Ficha se enquadra tanto pela mensuração de pontuação (1-10) para cada dimensão, quanto pela possibilidade de reflexão acerca da experiência educativa. Os graduandos são envolvidos pelo processo quando, em momento posterior, e em roda de conversa, são socializadas as avaliações para trocas de experiência e entendimento oriundos da vivência de EAN com escolares. Nesse sentido a avaliação se coloca como processual e formativa. Do ponto de vista dos resultados alcançados e as reflexões sobre os desafios enfrentados, referimos uma importante constatação, de que é possível constituir um fazer EAN de modo contínuo, transdisciplinar, multiprofissional, respaldado em correntes da educação e da pedagogia (Vigotski, Paulo Freire). Um caminho não menos desafiador frente ao desmonte das políticas públicas para alimentação e nutrição, educação em saúde nos espaços escolares. Desde 2018, a cada oferta do componente obrigatório de Educação Alimentar e Nutricional, atendemos quatro turmas de educação infantil, cerca de 20 crianças por turma, na faixa etária compreendida entre 3 a 6 anos, totalizando 60 crianças/semestre; e atendemos as 5 turmas de ensino fundamental inicial, cerca de 25 crianças por turma, na faixa etária de 6 a 11 anos, totalizando 75 crianças/semestre, somando-se, então, cerca de 270 crianças anualmente atendidas por ações que tomam o alimento como elemento pedagógico, contribuindo para, na perpectiva vigotskiana, ao aprendizado e desenvolvimento das chamadas funções psicológicas superiores (percepção, memória, atenção, pensamentos, comportamentos, emoção, imaginação, criatividade). Nesse sentido, mesmo em cenário político contrário, seguimos resilientes na medida em que avançamos na construção coletiva para a autonomia alimentar mediante o despertar de paixões para o processo de ensino-aprendizagem da alimentação e nutrição. Crianças, jovens e adultos envolvidos na potência de cada ato pedagógico.
3.9 Relevância: Na avaliação das/os responsáveis, essa experiência contribuiu para algum nível de mudança/melhoria da realidade alimentar e nutricional das pessoas envolvidas; e/ou gerou experiência/conhecimento que pode contribuir para a prática de EAN em outros momentos e realidades
Sim. Os conhecimentos gerados vêm sendo publicados sob a forma de artigos, livros e e-books (vide documentos), ao mesmo tempo em que vêm produzindo em cada pessoa atingida uma ampliação da leitura-mundo (alimentação, saúde, corpo), que, seguindo Paulo Freire, precede a leitura da palavra. A experiência em curso vem contribuindo para a promoção da alimentação adequada, saudável, sustentável de modo contextualizado e significativo à realidade escolar. Dito de outro modo, um fazer EAN de forma lúdica, interativa, significativa e contextualizada na experiência educativa significa assumir que a paixão que desperta para ensinar-e-aprender Nutrição, envolve e ultrapassa os saberes nutricionais e os conteúdos educativos. Dessa forma, e seguindo as ideias de Vigotski, a aprendizagem antecede ao desenvolvimento humano. Desde os recém-chegados ao mundo, a mediação pedagógica desenvolve as chamadas funções psicológicas superiores (percepção, memória, atenção, pensamentos, comportamentos, emoção, imaginação, criatividade). Assim, o sujeito se desenvolve por meio dos aprendizados oriundos de vivências e interações sociais, como jogos e brincadeiras. Destacamos, portanto, que o desenvolvimento pelo brincar vai além das atividades educacionais, pois estimula o sujeito criativo e amplia as formas de agir simbolicamente. Eis o elogio do lúdico. Fazer EAN parece fácil, basta ser gente.

4. RELATO RESUMIDO DA EXPERIÊNCIA

Relato resumido da experiência
O principal objetivo das ações de Educação Alimentar e Nutricional (EAN) é promover hábitos alimentares saudáveis e sustentáveis, no contexto da Segurança Alimentar e Nutricional (BRASIL, 2012). Além disso, o ambiente escolar é o espaço privilegiado para fomento de práticas educativas que tomem o alimento e a alimentação como objetos de ensino-aprendizagem nas diferentes fases da vida escolar. Nesse contexto, compreendem-se as crianças como sujeitos históricos e de direitos, que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivenciam, constroem suas identidades pessoais e coletivas, brincam, imaginam, fantasiam, desejam, aprendem, observam, experimentam, narram, questionam e constroem sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2010). Diante disso, considerando o contexto da Alimentação e Nutrição, o desenvolvimento de ações de EAN com abordagens lúdicas e problematizadoras, de acordo com essas fases da vida, torna-se fundamental, haja vista a inerente capacidade de crianças para criar e imaginar, pensar e se expressar. A experiência em tela, realizada desde 2018, vem desenvolvendo e acumulando experiências de ensinar-e-aprender alimentação e nutrição junto com os atores escolares. Contamos com as parcerias da Horta Comunitária Nutrir (LabNutrir), e do Núcleo de Educação da Infância, um colégio de aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (NEI – CAp/UFRN), espaços institucionais da UFRN, campus Central, na cidade de Natal-RN. O NEI desenvolve, desde a década de 1980, o Tema de Pesquisas, um método na educação de crianças que articula três dimensões básicas: o conhecimento das áreas de conteúdo disponível; o contexto sociocultural das crianças, ou suas realidades imediatas; e os aspectos vinculados diretamente ao processo de aprendizagem (RÊGO, 1999). A rigor, o tema gerador, nomenclatura consagrada em Paulo Freire (2009) para captar e compreender a realidade, foi apropriado para ser desenvolvido nos cenários de vivências e aprendizados na educação com crianças, utilizada pelo NEI com o nome de Tema de Pesquisa. Anualmente cerca de 270 crianças participam de modo contextualizado e significativo das etapas da experiência, que se coloca para graduandos dos componentes de educação alimentar e nutricional do curso de Nutrição/ UFRN, a partir da Pedagogia de Projetos como método ativo e problematizador. Ativo pois mobiliza no graduandos ação e pensamento, pró-atividade e engajamento para ensino de Nutrição que desperte paixão no educando. Problematizador, já que precisa compreender as perguntas das crianças no âmbito do Tema de Pesquisa da escola, e como elas se tornam temas geradores de conteúdos (conceituais, procedimentais e atitudinais) da alimentação e nutrição, temas de EAN. Assim, ao longo dos 5 anos de experiência, presencial e remota, diversos temas de EAN foram transpostos didaticamente a partir da metodologia da escola, denominada Tema de Pesquisa. Por um lado se coloca como desafio ao graduando da Nutrição, que precisa partir do Tema Pesquisa, envolvendo suas perguntas e curiosidades, oriundas das crianças, para construir temas de EAN. Por outro lado, insere-se na curricularização da alimentação e nutrição contribuindo no alargamento de práticas educativas envolvendo o alimento como elemento pedagógico. Assim,desde então temos acumulado um trabalho baseado no método ativo da Pedagogia de Projetos (HERNANDEZ, VENTURA, 2008), visando despertar no educando da Nutrição a mobilização de aspectos cognitivos, afetivos e motivacionais, promovendo, por meio da ação-reflexão-ação junto à realidade, práxis no campo da Educação Infantil (JORGE et al, 2022). Isso vem ocorrendo a partir do processo de “diagnóstico educativo” (BOOG, 2013) e do levantamento dos Temas de Pesquisa do NEI, e Ações de Ensino no IFRN, culminando em planejamentos de aula com temas de EAN contextualizados e significativos. Na perspectiva da Pedagogia de Projetos as etapas da experiência são possíveis de serem adaptadas. As etapas compreendem: 1) Diagnóstico Educativo, conforme os momentos, envolvendo as crianças, a equipe pedagógica, docente e professores, e de nutrição; 2) Planejamento construído de modo dialogado entre graduandos da Nutrição, professoras e nutricionista do NEI contendo as dimensões: A) Tema de EAN de acordo com Tema de Pesquisa; B) Objetivos geral e específico; C) Habilidades e competências de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC); D) Conteúdos – conceituais, procedimentais e atitudinais; E) Estratégia de ensino; F) Recursos necessários; G) Cronograma; H) Procedimento de avaliação; I) Referências; J) Anexos e apêndices; 3) Ação das atividades propostas; 4) Avaliação contínua a partir de rodas de conversa entre os integrantes das equipes de graduandos de Nutrição, para socializar e construir os aprendizados das ações (o que, por que e como aconteceu); 5) Avaliação sistematizada, para fundamentar utilizamos as seguintes dimensões: A) Envio do planejamento com antecedência para todos os envolvidos (docente da Nutrição, professoras das turmas do NEI e equipe da Nutrição); B) Aproximação amistosa com a turma; C) Realização da metodologia em sintonia com o Plano de Aula; D) Pontualidade e boa administração do tempo de aula (cerca de 40 minutos para educação infantil e de 1h para ensino fundamental); E) Capacidade de lidar com mudanças eventuais; F) Utilização de linguagem adequada; G) Adequação da prática educativa à faixa etária; H) Domínio do tema de EAN; I) Grau de desempenho, organização e interesse; J) Realização de encerramento da prática educativa. BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2010. _________. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Marco de referência de educação alimentar e nutricional para as políticas públicas. Brasília, DF: MDS; Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, 2012. _________. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – Educação é a base. Brasília: MEC. 2019. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 48ª Reimpressão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2009. HERNÁNDEZ, Fernando; VENTURA, Montserrat. A organização do currículo por projetos de trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. 5ªed. Tradução de Jussara Haubert Rodrigues. Porto Alegre: Artmed, 2008. JORGE, T.P; MOTA, A.C.C.C.; OLIVEIRA, F.C.M.O.; VILAR, G.D.C. Ensinar alimentação e nutrição na infância? Práxis de Educação infantil em colégio de aplicação. Revista Educação e Infâncias, v.1, n.1, 18.mar 2022. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/educacaoinfancia/article/view/21699/15486 RÊGO, Maria Carmen Freire Diógenes. O currículo em movimento. In: Faça e conte. Natal: EDUFRN, n. 02, 1999.

5. DOCUMENTOS

5.1 Campo para inserção de arquivo de imagens que documentaram a experiência

APSREDES

Lote 19 – Avenida das Nações

SEN – Asa Norte, DF – 70312-970

Email: apsredes@gmail.com

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É considerado conflito de interesses:

Associação, afiliação ou link com atores do setor comercial, entidades de setores das indústrias de armas, tabaco, álcool, indústrias, empresas e organizações relacionadas a quaisquer outras organizações e/ou alianças e iniciativas concebidas, fundadas, financiadas, lideradas, controladas ou organizadas por essas indústrias e empresas, cujos:

  • Produtos incluam organismos geneticamente modificados, agrotóxicos, fertilizantes sintéticos, bebidas e produtos comestíveis com altas concentrações de açúcar, gorduras, sal, energia, outros produtos ultraprocessados ou quaisquer outros produtos que necessitem ter sua demanda, oferta ou disponibilidade reduzida para melhorar a alimentação e a saúde da população;

e/ou cujas

  • Práticas incluam: 1) Publicidade, promoção e outras estratégias mercadológicas que visem aumentar a demanda pelos referidos produtos e/ou promovam ou estimulem modos de comer não saudáveis, tais como comer excessivamente, comer sozinho, comer sem pensar, comer compulsivamente, comer rápido, ou modos de produzir alimentos pautados pelo uso de agrotóxicos e organismos geneticamente modificados, ou; 2) Lobby contra medidas legislativas, econômicas, jurídicas ou socioculturais que visem à redução da produção, abastecimento, disponibilidade ou demanda dos referidos produtos e/ou da exposição aos referidos modos não saudáveis de comer e produzir alimentos; e/ou cujas 3) Políticas, objetivos, princípios, visões, missões e/ou metas que incluam ou se relacionem com o aumento da produção, abastecimento, disponibilidade ou demanda dos referidos produtos e/ou com a expansão de oportunidades e promoção dos referidos modos não saudáveis de comer e produzir alimentos.

Alguns exemplos de experiências de Educação Alimentar e Nutricional que configuram conflito de interesses:

  • Ser financiado ou ter recebido qualquer tipo de apoio (técnico, infraestrutura, equipe, financeiro etc) por entidades e atores acima citados;
  • Utilizar material educativo e/ou publicitário de empresas privadas ou fundações/organizações a elas relacionadas que atuam direta ou indiretamente com o setor alimentício, farmacêutico, tabaco, bebidas alcoólicas;