1. Identificação da experiência

Documentário realizado por pessoas usuárias da Rede de Atenção Psicossocial Osasco

País

1.2 Autores do relato

Nome
Eduardo Dias Real
Eduardo Hess
Fabiana Medrado
Kleber Elias Inocêncio
Júlio Murça

1.3 Identificação do autor responsável pelo contato durante o processo de seleção

Nome
Eduardo Dias Real

1 4 Tema do relato

A1 - Formação e Educação Permanente para a participação social
Educação popular em saúde, mobilização comunitária, análises situacionais de saúde em uma perspectiva participativa

1.6 Município(s) onde a experiência se desenvolve/desenvolveu

Município
Osasco

1.7 Estado onde a experiência se desenvolveu:

São Paulo

1.8 Instituição onde a experiência se desenvolve/desenvolveu (serviço/instituição): *

Coletivo CLASSE LIVRE

1.9 Data de início da experiência

1 novembro , 2021

1.10 Data de fim da experiência

1 fevereiro , 2022

2. Relato da experiência

2.1 Contextualização/introdução: Conte sobre sua experiência, onde ela ocorreu ou ocorre, quais os serviços ou instituições envolvidas, quem são os atores, a quem ela se dirige, quem os apoiou

Em 2021, nós, usuáries da RAPS do Município de Osasco, pessoas interessadas no assunto e pessoas que já passaram por sofrimentos em comunidades terapêuticas, nós juntamos para dialogar sobre a questão da saúde mental em nosso território. Começamos por nós reunir e partilhar nossas vivências experiências, até que decidimos formar um Coletivo e a partir daí , buscar de forma coletiva soluções. O nome do Coletivo foi construído a partir do entendimento que a classe trabalhadora, após ser adoecida pelo sistema e relações capitalista, sofre ainda mais em manicômios, novos manicômios e "tratamentos" violentos e humilhantes. Ou seja, nossa classe, a classe trabalhadora é aprisionada, em estruturas e ideologias, portanto decidimos chamar nosso coletivo Classe Livre. Nosso intuito é a construção do Poder Popular. Construir coletivamente saberes e práticas antimanicomiais e críticas ao sistema gerador do sofrimento e aprisionamento. Além disso, nosso Coletivo é uma Rede de apoios para toda pessoa em sofrimento mental que esteja nele ou fora dele. Nesse sentido construímos um Coletivo de luta em nosso Município que alerta sobre o sucateamento, falta de investimento, desinvestimento, precarização do trabalho e atendimento, desinteresse e/ou omissão política.

2.2 Justificativa: o que motivou a realização desta experiência/ Diagnóstico e análise do problema enfrentado

Por volta do segundo semestre de 2021, nós do Coletivo Classe Livre, coletivo composto por pessoas usuárias dos serviços públicos municipais de cuidado em saúde mental, militantes da Luta Antimanicomial e pessoas interessadas no tema, fomos provocadas a agir, ao saber: do chamamento para construção da II Conferência Municipal de Saúde Mental; do triste anúncio vindo do governo municipal de Osasco sobre a construção de "comunidades terapêuticas" em nosso Município; e de grande agitação de pessoas usuárias e trabalhadoras da Rede Pública de Atenção Psicossocial, muito insatisfeitas com o crescente sucateamento dos serviços e equipamentos. A partir destas provocações, buscamos através de atividade de formação produzir um documentário, não profissional, experimental, com intuito de entender mais a realidade local, aprofundar sobre a questão da Saúde Mental, da Luta Antimanicomial, no Brasil e em nosso município e região.

2.3 Objetivo(s) da experiência: o que está sendo feito

O objetivo inicial da experiência foi formar as diversas pessoas integrantes do Coletivo sobre a Luta Antimanicomial e sobre a realidade da Rede de Atenção Psicossocial do Município de Osasco, porém, ao longo da construção do documentário entendemos que o objetivo devia ser além, ou seja, engajar pessoas na luta pelo cuidado integral, público e em liberdade em Saúde Mental.

2.4 Metodologia e atividades desenvolvidas: como a experiência se desenvolveu. Quais caminhos e que mecanismos foram escolhidos para desenvolver a experiência?

A experiência foi desenvolvida, à princípio, através de estudo aprofundado e coletivo da história das políticas públicas em saúde mental no Brasil, da Lei 10.216/2001 e da Rede de Atenção Psicossocial do Município de Osasco. Também buscamos visitar de forma guiada aos CAPS, fazer registros de suas dependências e coletamos informações e relatos principalmente de pessoas que utilizavam cada um dos equipamentos. A partir dos relatos colhidos percebemos que a questão das "comunidades terapêuticas" e das violências nesses espaços era muito evidente e decidimos também abordar essa questão.

A parte técnica para construção do documentário, foi feita coletivamente, utilizando de recursos que fomos descobrindo ao longo dessa construção.

Ao final, quando decidimos estar pronto o documentário, fizemos ampla divulgação em redes sociais, compartilhamentos e graças ao espaço conquistado com a ajuda do Conselho Municipal de Saúde Osasco, exibimos o documentário para um grande público na Conferência Municipal de Saúde Mental.

2.5 Quais os resultados alcançados? O que foi transformado por meio da experiência? Os objetivos foram cumpridos? Se não, justifique. Apresentar dados ou outras evidências que comprovem que os objetivos foram atingidos

Além da realização de um grande registro histórico, o objetivo de engajar pessoas do Coletivo na luta antimanicomial e por expansão e melhoria da Rede de Atenção Psicossocial no município de Osasco e região foi cumprido, porém, através de todo processo tivemos a conquista de muitas outras pessoas interessadas e engajadas na luta.
Apesar ainda de estarmos vivendo o descaso e sucateamento apontados no documentário, em muito acentuado pelo contexto Nacional anterior à 2023, de desinvestimento na RAPS e retorno dos manicômios e ascensão dos novos manicômios(comunidades terapêuticas), percebemos que há no município mais aderência da população e trabalhadoras nos espaços de debate, construção e controle social.

2.6 Considerações finais: Importância da participação social para a solução do problema? Por que essa experiência foi importante?

A participação social se faz primordial para a resolução do problema de algumas formas: quanto mais pessoas se juntarem à causa, mais visibilidade o movimento terá. Além disso, quanto mais pessoas se juntam, mais ações podem ser feitas. Sejam elas orgânicas ou não. A solidariedade, em forma de mobilização popular, é o que costuma resolver os problemas nas comunidades, periferias e também nos centros urbanos, que são atingidos pela mazelas do capitalismo.
A experiência foi importante para mobilização social. O manifesto em forma de denúncia, em um primeiro momento, funciona como um estopim para a raiva e descontentamento das pessoas. Para transformar esses sentimentos em ação direta.
Hoje, temos um coletivo forte no município, atentas as problemáticas no campo da saúde mental e outros âmbitos. Nossa militância atua na conscientização pela melhoria e expansão da Rede de Atenção Psicossocial e melhoria nas condições de vida da classe trabalhadora, afim de prevenir o adoecimento em saúde mental, criado por um sistema gerador e mantenedor de desigualdades.

2.7 Por que pode ser considerada inovadora?

Aexperiência pode ser considerada inovadora pois trata-se do registro de uma realidade local geralmente invisibilizada e negligenciada. Além disso, através da construção de um documentário, não profissional e improvisado, conseguimos engajar muitas pessoas no assunto e na militância pelo cuidado em liberdade a pessoas em sofrimento mental, psicodivergentes, usuárias problemáticas de substâncias.

2.8 Quais as perspectivas de aplicação das práticas desenvolvidas em outros locais ou instituições? Análise das principais dificuldades e estratégias de enfrentamento. Lições aprendidas e recomendações.

Entendemos que é importante os grupos e coletivos que travam lutas em âmbito municipal conhecerem seus equipamentos e serviços. Além disso, entendemos que podemos sim fazer acontecer trabalhos como esses com baixos recursos, porém sem engajamento e criatividade, nenhum projeto sairia do papel. Outra dificuldade são a gestão municipal, que dificultou acesso a informações e equipamentos, na tentativa que não fizéssemos esse trabalho.

2.9 Envolvimento e mobilização de instituições e parceiros na execução da experiência?

A participação da experiência se deu pelos membros do coletivo, assim como o envolvimento daqueles que concordaram em gravar o documentário com seus depoimentos e em expor sua imagem. O documentário foi exibido na conferência municipal de saúde mental de 2022 em Osasco e teve grande apoio e mobilização dos trabalhadores do serviço público de saúde.

3 Principais desafios persistentes (o que segue sendo desafio apesar da ação empreendida?)

A pouca mobilização popular sobre o assunto mostra que ainda precisamos avançar contra a invisibilidade imposta. O poder popular, mobilização e controle social, são algumas das principais ferramentas para gerar ações que resolverão os problemas da Rede de Saúde Mental da cidade, como sucateamento e desinvestimento. Além disso, apesar do descaso do município, estamos em momento de transição em âmbito Nacional com a promessa de retomar o avanço na construção de Políticas Públicas alinhadas a Reforma Psiquiátrica e ao cuidado em liberdade, quais, para serem concretizadas, necessitam de muita organização, mobilização e poder popular.

3.1 Quais ações de sensibilização, comunicação, informação, educação em saúde e educação permanente foram utilizadas?

As primeiras ações de educação em saúde antes mesmo da formação do Coletivo que construiu esse documentário trata do compartilhamento de vivências e experiências de forma autônoma, independente dos grupos terapêuticos nos CAPS. Foram muitos encontros e muitos diálogos entre nós e isso mostrou que estávamos adquirindo autonomia e independência do âmbito institucional. Naquele momento estávamos nos tornando sujeit@d críticas e tomando as rédeas de nossa história. Com o nascimento do Coletivo passamos para uma fase avançada, de organização popular, sentido a melhoria de nossos equipamentos públicos de apoio. Nos debruçamos então nos estudos e passamos a participar ativamente de outros espaços, como conselhos e legislativos. Toda construção do documentário foi de fato um processo de sensibilização, não somente para os/as pacientes de CAPS, mas também as trabalhadoras, a usuáries da Saúde, da assistência social entre outras.

3.2 Qual é a sustentabilidade da solução implantada (quais são as garantias de que a experiência é sustentável ao longo do tempo desde os pontos de vista técnico, político, financeiro, social, etc?)?

Primeiramente precisamos observar que fizemos, apesar dos poucos recursos, um registro histórico e critico de um momento. Em segundo este registro que pode servir de parâmetro para comparação antes e depois, para que possamos avaliar se houve melhoria ou piora sobre as políticas públicas em saúde mental. E por último, agora temos não só quem idealizou o projeto e o coletivo, mas muitas pessoas enganadas na causa.
Sobre o ponto de vista técnico também tivemos muitos aprendizados, porque o que tivemos eram celulares pessoas e muita disposição pra construir e editar.

3.3 Campo para inserção de arquivo de imagens que retratem a experiência
3.3.1 Campo para inserção de arquivos de documentos produzidos relacionados à experiência.

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