A experiência de implementação da ultrassonografia point-of-care (POCUS) na Unidade Básica de Saúde (UBS) de Iguaibí, zona rural de Iguaí/BA, teve início em 2024 como resposta às dificuldades enfrentadas pela população local no acesso a exames de imagem. A UBS está situada a cerca de 15 km da sede municipal, com acesso por estrada não pavimentada, o que impõe barreiras significativas para usuários que necessitam se deslocar para realizar ultrassonografias convencionais. Esse contexto motivou a adoção da POCUS como ferramenta de ampliação do escopo de práticas na Atenção Primária à Saúde (APS), visando qualificar o cuidado, reduzir encaminhamentos e promover maior equidade. O médico da unidade, vinculado ao Programa Médicos pelo Brasil e AgSUS, adquiriu com recursos próprios um aparelho portátil de ultrassonografia e realizou capacitação específica no curso You&Us – Ultrassonografia para Médicos de Família. A tecnologia foi incorporada à rotina da UBS como extensão do exame físico, durante atendimentos ambulatoriais e visitas domiciliares. As ações priorizaram exames de maior impacto na resolutividade da APS, como ultrassonografia de abdome total e obstétrica no pré-natal. A experiência conta com monitoramento contínuo dos casos, permitindo avaliar os efeitos da POCUS sobre o tempo de espera, número de encaminhamentos e satisfação dos usuários. Os resultados incluem: (1) redução do tempo de espera para exames de imagem; (2) melhoria na adesão das gestantes e qualidade do acompanhamento pré-natal, com ultrassonografias realizadas na própria UBS; (3) redução de custos com exames de USG convencional e transporte para os usuários; (4) aumento da resolutividade clínica, com diagnósticos mais rápidos e seguros; e (5) alta aceitação pela comunidade, que passou a enxergar a UBS como um espaço resolutivo e tecnologicamente qualificado. A experiência fortalece a integralidade do cuidado, permitindo que o médico acompanhe todo o processo clínico, do exame físico à confirmação diagnóstica. Também contribui para ampliar o escopo de atuação da APS, reduzir desigualdades e valorizar o papel do médico da família como coordenador do cuidado. Mesmo com desafios como ausência de financiamento institucional e necessidade de capacitação específica, a experiência mostrou-se viável. Soluções como investimento pessoal, educação permanente e reorganização do fluxo de trabalho permitiram sua consolidação. Com alto potencial de replicabilidade, especialmente em áreas remotas, a experiência reforça que tecnologias apropriadas, como a POCUS, podem qualificar a APS, alinhando-se aos princípios do SUS e às diretrizes do Programa Mais Médicos.