Rio Grande do Sul

Teleoftalmologia como estratégia de atenção integral à saúde ocular junto aos médicos e pacientes da rede de atenção primária à saúde do Rio Grande do Sul: Projeto Olhar Gaúcho

A telemedicina já é realidade no Sistema Único de Saúde (SUS) e o Estado do Rio Grande do Sul é um dos pioneiros em telediagnósticos de oftalmologia. Em 2014, o tempo médio para consulta com oftalmologista no Rio Grande do Sul era de 19 meses e aproximadamente 14 mil pessoas aguardavam atendimento. A oferta de 727 consultas mensais pela saúde pública era insuficiente para manter o equilíbrio entre demanda e oferta da especialidade.

Como forma de ampliar o atendimento nesta especialidade, o Telessaúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) criou um serviço para diagnóstico em oftalmologia com atendimentos realizados a distância e em tempo real, atendendo pacientes de todo o Estado, desenvolvido em conjunto com a Secretaria Estadual de Saúde do RS e a Associação Hospitalar Moinhos de Vento, contando com recurso do Programa de Aceleração do Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS).

Os pacientes encaminhados pelos médicos da Atenção Primária são recebidos em salas de exames remotos, onde são acompanhados presencialmente por equipes de enfermagem com treinamento específico e por médicos oftalmologistas que atuam em uma central de comando, operando as salas a distância. Em maio de 2019 já eram oito salas em funcionamento. Desde julho de 2017, o serviço foi responsável pela avaliação de 18.069 pessoas. Deste total, 60% dos casos foram resolvidos por meio da telemedicina, evitando o encaminhamento para outros níveis de atenção, muitas vezes distantes do local de residência do usuário.

Do total de pacientes avaliados, foi detectada a necessidade de nova prescrição de óculos em 71%. Destes, 44% não fazia uso prévio de qualquer correção óptica. Em julho de 2019, foi atingido o maior número de laudos desde a implantação, com 1.363 pacientes examinados por telemedicina (aumento de 223% na oferta estadual de exames).

Além de aumentar a resolutividade da Atenção Primária no Estado, a iniciativa também representou uma grande redução no tempo de espera dos pacientes para a realização de consulta com o especialista – hoje, o tempo médio de espera do exame caiu para 4,5 meses (em salas do interior) e 12 meses (nos pontos de coleta metropolitanos). A demanda média atual é de 2,6 mil solicitações de exames por mês, com 15.778 pessoas aguardando agendamento em agosto de 2019.

Os profissionais do Telessaúde RS criaram protocolos clínicos de teleoftalmologia e um manual técnico-operacional a partir da experiência, possibilitando o surgimento de iniciativas semelhantes ao Projeto Olhar Gaúcho em outras partes do país.

Ficha Técnica

O QUE É O PROJETO?

O trabalho apresenta o uso da telemedicina para diagnóstico em oftalmologia, através de atendimentos realizados a distância e em tempo real, chamado de telemedicina síncrona.

QUEM É O RESPONSÁVEL?

TelessaúdeRS-UFRGS – Núcleo de Telessaúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

ONDE FOI DESENVOLVIDO?

PORTO ALEGRE- RS

POR QUE FOI DESENVOLVIDO?

A diferença entre oferta de consultas e demanda de atendimentos é uma dificuldade frequente nos diferentes sistemas de saúde. Soluções inovadoras, capazes de aparelhar e otimizar o cuidado na Atenção Primária â Saúde (APS), podem promover o acesso dos pacientes aos diferentes níveis de atenção, garantindo a equidade no atendimento. A avaliação da saúde ocular é importante para o desenvolvimento pleno do ser humano nas diferentes faixas etárias. A demora do atendimento adequado, em casos específicos, pode causar perda completa da visão. Em 2014, o tempo médio para consulta com oftalmologista no Estado do Rio Grande do Sul era de 19 meses e aproximadamente 14 mil pessoas aguardavam atendimento. A oferta de 727 consultas mensais era insuficiente para manter o equilíbrio entre demanda e oferta da especialidade. O motivo mais frequente de encaminhamento para o oftalmologista é a baixa acuidade visual, e a principal causa de diminuição da visão no mundo é o erro refrativo não corrigido. Os erros de refração são responsáveis por dificuldade visual em todas as faixas etárias, grupos étnicos e classes econômicas. Na população adulta, aproximadamente 50% apresenta algum erro de refração, o que afeta negativamente as atividades laborativas ou de aprendizagem.

QUANDO?

07/01/2017 – EM ESTÁGIO AVANÇADO DE EXECUÇÃO

COMO A EXPERIÊNCIA FOI DESENVOLVIDA?

O trabalho apresenta o uso da telemedicina para diagnóstico em oftalmologia, através de atendimentos realizados a distância e em tempo real, chamado de telemedicina síncrona. Este é o primeiro serviço no mundo, de nosso conhecimento, que realiza testes de refração subjetivos a distância. A finalidade destes testes é determinar a graduação das lentes corretivas para prover um laudo diagnóstico refrativo e posterior prescrição de óculos pelo médico assistente. O projeto foi pactuado pelos órgãos gestores da saúde do Rio Grande do Sul (RS) e atende pacientes de todo o Estado. O projeto foi idealizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pelo Telessaúde RS, e o desenvolvimento se deu em conjunto com Associação Hospitalar Moinhos de Vento e a Secretaria Estadual da Saúde do RS, a partir de recursos do Programa de Aceleração do Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS). O fluxo de trabalho criado para este projeto envolve os pacientes e médicos da atenção primária â saúde de todo o Estado, equipes de enfermagem especificamente treinadas que recebem os pacientes em 8 salas de exames remotos, e médicos especialistas em oftalmologia que atuam em uma central de comando, operando as salas remotas a distância. As atividades desenvolvidas ou em desenvolvimento estão listadas a seguir:

·         Avaliação situacional do Estado do Rio Grande do Sul: Identificação de municípios com características possíveis de implantação de sala de exame diagnóstico, considerando a rede viária e o fluxo já existente entre os diferentes municípios.

·         Desenvolvimento de ferramentas: Sistema de telepresença – solução personalizada de videoconferência que utiliza câmeras robotizadas de alta resolução e permite streaming ao vivo para interação com paciente e testes oftalmológicos por vídeo.

·         Sistema informatizado de telemedicina que reúne solicitações de telediagnóstico, agendamentos, envio de laudos e base de dados;

·         Interoperação entre o sistema e os equipamentos médicos para transferência sistemática de ordens de serviço e resultados de exames.

·         Equipamentos médicos operados remotamente por médicos oftalmologistas, dentro de uma rede de tráfego de dados fechada e segura.

·         Desenvolvimento e avaliação de processo de trabalho: Revisão das listas de espera por oftalmologia no SUS no Estado do Rio Grande do Sul.

·         Treinamento da equipe de enfermagem.

·         Divulgação e educação continuada com médicos da Atenção Primária â Saúde.

·         Recebimento, regulação e agendamento das solicitações de telediagnóstico.

·         Atendimento dos pacientes nas salas exame remoto, por médico oftalmologista â distância com o uso das ferramentas desenvolvidas e com o apoio local da equipe de enfermagem.

·         Emissão de laudo diagnóstico do oftalmologista para o médico da atenção primária.

(Todo o fluxo de informações, incluindo os dados de saúde do paciente, foi centralizado nos servidores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, com acesso diferenciado conforme a habilitação de cada ator do processo).

O laudo para o médico da Atenção Primária à Saúde (APS) – o projeto atende toda a APS do Estado, independente do solicitante estar lotado numa equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) ou numa Unidade Básica de Saúde (UBS) –  contém os resultados de todos os exames realizados (bem como a interpretação de todos os resultados em relação à normalidade):

·         Acuidade visual; 

·         Medida da pressão ocular; 

·         Biomicroscopia do olho; 

·         Avaliação do fundo de olho por retinografia; 

·         Refração; 

·         Avaliação da motilidade ocular.

Caso algum diagnóstico seja encontrado, também conterá a descrição do diagnóstico e a recomendação de conduta, que poderá ser:

1.        Encaminhar o paciente para serviço de oftalmologia, já oferecendo o diagnóstico correto para o adequado encaminhamento ou;

2.        Manejar o caso na APS, constando as informações necessárias (teleconsultoria) para o médico não especialista conduzir o paciente com o suporte do telediagnóstico, inclusive com a graduação das lentes corretivas para posterior prescrição de óculos pelo medico assistente. Nesse caso, é ofertado para o médico da APS o Canal 0800 644 6543 (disponível para profissionais de saúde de toda a APS brasileira) para que, se desejar, possa discutir o caso de forma síncrona com um Médico de Família e Comunidade (apoiado pelas oftalmologistas).

QUANTO CUSTOU?

Embora o trabalho não informe sobre os custos, o projeto precisou de recursos tecnológicos como o sistema de telepresença – solução personalizada de videoconferência que utiliza câmeras robotizadas de alta resolução e permite streaming ao vivo para interação com paciente e testes oftalmológicos por vídeo; sistema informatizado de telemedicina (Plataforma de Telessaúde) que reúne solicitações de telediagnóstico, agendamentos, envio de laudos e base de dados; interoperação entre o sistema e os equipamentos médicos para transferência sistemática de ordens de serviço e resultados de exames; e rede de tráfego de dados fechada e segura para operação remota de equipamentos médicos por médicos oftalmologistas.

COMO MEDIRAM OS RESULTADOS?

Desde o lançamento em julho de 2017, foram avaliadas 18.069 pessoas, incluindo crianças a partir de 8 anos de idade, adultos e idosos. Após a conclusão de todas as salas de exames, o número mensal de avaliações por telemedicina aumenta gradualmente – em Maio de 2019, foi atingido o maior número de laudos desde a implantação, com 1.367 pacientes examinados por telemedicina. A equipe do projeto prospecta ser possível aumentar o número de atendimentos após â implantação completa do desenvolvimento tecnológico de software previsto no projeto. Em relação â resolutividade do serviço, uma avaliação parcial, demonstrou que mais de 60% dos casos foram resolvidos via telemedicina, ao passo que os demais necessitaram de encaminhamento para avaliação clínica presencial ou tratamento cirúrgico. Do total de pacientes avaliados, foi detectada a necessidade de nova prescrição de óculos em 71%. Destes, 44% não fazia uso prévio de qualquer correção óptica. Em julho de 2019, foi atingido o maior número de laudos desde a implantação, com 1.363 pacientes examinados por telemedicina (aumento de 223% na oferta estadual de exames). Há uma incidência média de novas solicitações de 2.600 exames/mês, com 15.778 pessoas aguardando agendamento em agosto de 2019. O tempo médio de espera por um exame caiu para 4,5 meses (pontos de coleta do interior) e para 12,0 meses (pontos metropolitanos).

POR QUE A EXPERIÊNCIA É INOVADORA?

A Teleoftalmologia é uma estratégia capaz de aliar telediagnóstico, teleconsultoria e telerregulação para melhorar o acesso aumentar a resolutividade da APS, organizar equitativamente a lista de espera por atenção ambulatorial e aumentar a qualidade e a especificidade dos encaminhamentos oftalmológicos. Ações de telessaúde tem se mostrado capazes de qualificar o profissional da APS (teleconsultoria, teleducação) e contribuir no monitoramento de usuários portadores de situações de saúde cônicas (telediagnóstico), com taxas de evitação de encaminhamento para outros níveis de atenção em torno de 60%. No caso específico da telerregulação, no lugar de esperar a demanda de um médico da APS por uma ação de telessaúde, médicos teleconsultores-reguladores, baseados em protocolos específicos para a APS, partem das listas de espera e demandam os médicos solicitantes para discutir os casos de pedido de encaminhamento. Em comum acordo, como resultado da discussão, obtém-se a qualificação e a priorização do encaminhamento ou o cancelamento do mesmo (evitação) bem como a resolução do caso no ambiente da APS por meio do aumento da capacidade de resolução do profissional local. Com isso, dois em cada três pacientes são mantidos na APS. Protocolos clínicos de teleoftalmologia e um manual técnico-operacional, construídos a partir da experiência do Projeto Olhar Gaúcho, foram disponibilizados ao Ministério da Saúde em 2018. Esses materiais visaram justamente oferecer a experiência adquirida como base para outras iniciativas no país e estão disponíveis em:

Link Drive – 01

Link Drive – 02