Projeto Toda a Saúde é Mental AD

Tabatinga/AM

A experiência “Toda Saúde é Mental AD” foi desenvolvida no município de Tabatinga-AM, situado na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. A região apresenta desafios únicos para a atenção à saúde mental, como o isolamento geográfico, a diversidade étnico-cultural (com presença significativa de populações indígenas e ribeirinhas), além da escassez de serviços e profissionais especializados. Diante disso, o projeto nasceu com o objetivo de estruturar um modelo de atenção psicossocial adaptado às realidades locais, garantindo acesso ao cuidado e evitando a dependência de serviços da capital.
O modelo proposto pelo projeto se fundamenta na organização de fluxos assistenciais claros, acolhedores e efetivos, com foco na triagem inicial realizada pela Atenção Primária à Saúde (APS), seguimento com suporte matricial e encaminhamentos apenas quando estritamente necessário. Um dos pilares da experiência é o matriciamento quinzenal realizado por médico psiquiatra, que orienta a equipe por meio de discussões de casos, capacitações e atendimentos compartilhados para aprimoramento técnico. Isso tem permitido uma qualificação contínua das equipes locais, tornando a atenção básica mais resolutiva e sensível às demandas em saúde mental.
Outro diferencial da iniciativa é a inclusão e valorização das práticas tradicionais de cuidado, respeitando a cultura e os saberes das comunidades indígenas e ribeirinhas. O projeto também promove a articulação intersetorial, envolvendo lideranças comunitárias, escolas, assistência social e outras redes de apoio, fortalecendo o cuidado em rede e o vínculo com o território.
Os resultados alcançados evidenciam o impacto positivo da proposta. Houve aumento significativo no acesso a atendimentos em saúde mental, redução nos encaminhamentos para a capital Manaus, melhora na identificação precoce de transtornos mentais e aumento da adesão ao tratamento por parte dos usuários. As equipes de saúde relatam maior segurança na condução dos casos e as comunidades demonstram maior engajamento nos cuidados.
A experiência mostra que é possível oferecer cuidado humanizado, integral e eficaz em saúde mental mesmo em contextos adversos, desde que se invista em capacitação, organização do processo de trabalho e valorização dos saberes locais. O projeto evidencia que a Atenção Primária pode ser protagonista na saúde mental, desde que fortalecida com suporte técnico e estrutura mínima adequada.
A continuidade e expansão do projeto “Toda Saúde é Mental AD” dependem do investimento contínuo em educação permanente, infraestrutura e políticas públicas que valorizem as especificidades dos territórios de fronteira. A experiência é replicável e pode servir de modelo para outros municípios da região amazônica e de difícil acesso no Brasil.

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