O território da UBASF Barra Nova é formado por 3 microáreas – Barra Nova, Barra Velha e Riacho Fundo II. Temos as praias de Barra Nova e Barra Velha. Há famílias que moram tanto no perímetro urbano bem como na área rural. Na microárea de Barra Nova, deveríamos ter três agentes comunitários de saúde (ACSs), mas temos apenas duas, no momento. A maior parte da população sempre morou nesse território, mas temos cidadãos de outras cidades, principalmente de Fortaleza, CE, e também de outros países. A maior parte da população apresenta vulnerabilidade socioeconômica e é usuária do SUS. Por ser um território que possuiu praias e área rurais, temos pescadores, marisqueiras, comerciantes, artesãos, agricultores, professores, pessoas do lar, trabalhadores de fábricas, pessoas sem uma ocupação definida, as quais realizam trabalhos informais e temporários, como garçom nas barracas de praia.
A partir dos dados de cadastramento do PEC/E-SUS (junho/2025), temos 2287 cidadãos e 681 famílias.
Esta experiência foi o meu Trabalho de Conclusão de Curso, requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Saúde da Família, do Projeto UNA-SUS, da Universidade de Brasília, em 2023. O objetivo era construir um plano de intervenção ao identificar e analisar situações de saúde dos pacientes que são acompanhados pela UBASF Barra Nova. Para construção do plano de intervenção, a princípio foram selecionados 10 problemas de saúde, escolhidos a partir da observação de situações do território de atuação pela equipe da UBS e de dados dos atendimentos individuais (consulta médica) registrados no Sistema e-SUS AB com Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC). Dentre os problemas analisados, a ausência do mapa da área de abrangência da UBASF Barra Nova mostrou-se passível de intervenção. Durante a discussão e seleção dos problemas, a equipe de saúde apresentou conhecimento limitado sobre o processo de territorialização bem como a falta de visualização deste espaço dinâmico, já que não havia o mapeamento.
Assim, se a equipe não tem a representação e as informações referentes à sua área de atuação, ela terá dificuldades em criar estratégias para enfrentar os problemas/agravos do território.
1. Aprofundar os conhecimentos da equipe de saúde da UBASF Barra Nova sobre territorialização;
2. Estimular a equipe de saúde da UBASF Barra Nova a aprender sobre o Google Earth;
3. Construir o mapa do território de abrangência da UBASF Barra Nova, usando o Google Earth, em um processo dinâmico e participativo.
O mapeamento é uma ferramenta necessária no processo de territorialização da Atenção Primária à Saúde, para que os profissionais possam exercer suas atividades e analisar informações sobre as condições de vida e de saúde da população. As equipes podem trabalhar com mapas a partir de programas de geoprocessamento, como o Google Earth. Eu trabalho como médica na UBASF Barra Nova, em Cascavel, CE, pelo programa Mais Médicos para o Brasil desde 2021, e percebi que não existia o mapa da área de abrangência da minha unidade. A territorialização também não é um tema das nossas reuniões de equipe. Assim, observei que os Agentes Comunitários de Saúde (ACSs) não conseguiam informar, por meio de uma perspectiva histórica, como ocorreu o processo de territorialização; apenas dois deles tinham os mapas das suas microáreas que foram feitos em papel, antes de 2010. A partir disso, foi criado um projeto para desenvolver o mapa do nosso território. Para tanto, foi desenvolvido um estudo de intervenção prática apoiado no Planejamento Estratégico Situacional no período de junho a setembro de 2023, com a participação da gerente e dos ACSs. Eu fui a responsável em apresentar a plataforma Google Earth, a qual disponibiliza imagens de satélite, permite criar polígonos e delimitar regiões, marcar locais, criar camadas, permite o compartilhamento, então é uma ferramenta que poderia ser usada por todos os profissionais de saúde. Além disso, podemos imprimir o mapa, é gratuito, de fácil compreensão e interatividade. Assim, conseguimos construir um mapa da área de abrangência da UBASF Barra Nova por meio de um processo digital e multiprofissional. Na minha unidade, pretendo manter o mapa atualizado, identificando os pacientes acompanhados em programa de hipertensos e diabéticos, de visita domiciliar, gestantes, puericultura, pacientes que estão em tratamento para tuberculose e hanseníase, e marcar lugares do ambiente que possam ser foco de arboviroses, entre outras funções. Entre setembro a dezembro de 2024, foi feita uma revisão e ajustes do nosso mapa no Google Earth. Portanto, com o mapa do território, podemos fazer o reconhecimento do ambiente, das condições de vida e de saúde da nossa população.
A proposta de confeccionar o mapa permitiu a interação da equipe, a ampliação do olhar sobre o território além dos limites geográficos e o desenvolvimento de habilidades com o uso das ferramentas digitais. Foi necessário estimular a cooperação dos profissionais que já tinham mais facilidade em acessar páginas da internet e programas de computador e motivar a equipe sobre a importância das tecnologias para a formação profissional. O acesso a conexões de internet de qualidade, o tempo para conseguir fazer reuniões de planejamento com toda a equipe, com a necessidade de reorganizar a agenda de atendimentos, e o medo de alguns profissionais em usar o programa Google Earth foram os fatores superados neste trabalho.