APSREDES

Prevenção entre pares (Novo Hamburgo)

 

MULTIPLICADORES ADOLESCENTES DO PROGRAMA SAÚDE NA ESCOLA: A PREVENÇÃO ENTRE PARES-PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVO HAMBURGO – RGS

Cristine Schuler, educadora em saúde mental coletiva; Carla Beatriz Watte, assistente social; Márion Fernanda Sperb Schütz, psicopedagoga; Maria Celina Silva Ritter, assistente social; Stefann Nath, graduando em gestão pública; Viviane Karina Erthal, pedagoga; Gisele Pires da Silva, assistente social; Walkíria Silva da Silva, assistente social. O Programa de Saúde na Escola é uma política intersetorial da Saúde e Educação, instituído pelo Decreto Presidencial nº6.286 de 5 de dezembro de 2008, com a finalidade de promover saúde e educação integral às crianças, jovens e adultos. Para dar conta desse desafio, em Novo Hamburgo – RGS foi criado, em 2008, um grupo de trabalho para formação de multiplicadores (GTM) para planejar e executar políticas públicas voltadas para a saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes da cidade. Atualmente, o GTM conta com representantes das Secretarias Municipais de Saúde, Educação, Coordenadoria da Juventude e Organização Não Governamental Equipe Voluntária Brasil.O objetivo do grupo de trabalho é informar e orientar adolescentes sobre as temáticas contempladas no PSE, preparando-os para multiplicaremos conhecimentos adquiridos sobre a adolescência entre seus pares, incentivando o protagonismo juvenil, através de ações de prevenção diretamente nos territórios.A primeira estratégia utilizada pelo GTM foi a de buscar o acesso e a sensibilização dos profissionais da rede de atendimento, através de ações de educação permanente com as temáticas da adolescência e sexualidade. Procurou-se sensibilizar os profissionais que ainda apresentavam dúvidas e resistências em relação ao desenvolvimento do tema da sexualidade nos espaços destinados aos jovens.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/1996 foi um referencial para este trabalho, visto que norteia a ampliação da temática da sexualidade no ambiente escolar, mencionando-a como um Tema Transversal. Os profissionais destes espaços, instituições de ensino, atenção básica, serviço de acolhimento institucional, entre outros, são os que orientam sobre os cuidados com a saúde e incentivam as ações protagonistas. Constatou-se que a relação com os profissionais nos espaços de circulação dos adolescentes foi se tornando cada vez mais potente para ampliar o diálogo sobre a sexualidade humana.

Como atividade complementar ao trabalho, em 2010, o GTM iniciou a implantação da Caderneta de Saúde do Adolescente, em ação vinculada à política interministerial entre a Saúde e Educação. Uma das intervenções mais importantes em meio a este processo foi o envolvimento dos profissionais que poderiam desenvolver os conteúdos da caderneta com os adolescentes. Os espaços de formação se constituíram com o intuito de estudar, conhecer e dialogar sobre a caderneta e a política pública que orientava o programa de trabalho. A intenção foi a de oportunizar aos profissionais a apropriação do processo de implantação da caderneta para orientação aos adolescentes.

Ao longo destes anos, o grupo passou a receber de forma progressiva um número cada vez maior de solicitações de palestras para abordar a temática da sexualidade na comunidade. Aos poucos, percebeu-se que a estratégia inicial de formação de profissionais não era suficiente para levar a informação e garantir a participação dos adolescentes no debate. Ficou evidente para o GTM que, para trabalhar as políticas públicas sobre a adolescência e sexualidade, era necessário envolver os próprios adolescentes. Percebeu-se que dar voz aos adolescentes era igualmente potente para que fossem escutados pelos profissionais e adultos. Assim, foi se dando a criação do grupo de multiplicadores como uma premissa do PSE.

Ressalta-se que a metodologia adotada pelo GTM do PSE é a formação no campo da saúde coletiva, guiado pelos princípios de igualdade, intersetorialidade e integralidade, incluindo a educação inclusiva e socializadora dos sujeitos e dos saberes constituídos na orientação do seu trabalho.

O Grupo de Multiplicadores se tornou a nova frente de ação do GTM. Contando com a participação de 20 adolescentes com idades entre 12 e 18 anos, eram inicialmente oriundos das redes de atenção nos campos da saúde, educação e assistência social. Nessa proposta, foram criados alguns critérios e procedimentos que balizam a estrutura e funcionamento da intervenção.

Para participar, o adolescente precisa ser indicado pela rede de atendimento ou por um participante. Ele precisa contar com a presença de um responsável em, pelo menos, um encontro do grupo, juntamente com a autorização. Nos meses de fevereiro, ocorrem encontros entre os adolescentes participantes do ano anterior para planejamento e divulgação das vagas para o ano seguinte. A partir de março, os encontros acontecem uma vez por semana, no contra turno escolar, durante o período letivo.

O espaço dos encontros é cedido pela ONG Equipe Voluntária Brasil na área central da cidade. Os participantes recebem material didático, vale-transporte e lanche e são acompanhados pelos profissionais do GTM. Inclui-se atividades diferenciadas com profissionais convidados para realizar oficinas sobre os temas previstos. Quando se sentem seguros, os adolescentes multiplicadores começam a participar de atividades como oficineiros e palestrantes, mediante convites.

Os multiplicadores vêm recebendo expressivo reconhecimento pelo trabalho desenvolvido, com participação em vários segmentos. Ao fazer as palestras e oficinas, o grupo é acompanhado por um profissional do GTM ou “padrinhos” escolhidos pelos mesmos. A figura do “padrinho” ou “madrinha” foi criada para dar suporte às ações desenvolvidas. Depois de certo tempo no grupo, os adolescentes demonstram o seu protagonismo e passam a organizar outras ações em seus territórios, passando a ocupar um lugar de referência na sua comunidade para tratar da temática da adolescência e sexualidade.

Nos encontros semanais de formação, ocorrem oficinas com conteúdos escolhidos pelos adolescentes e sugeridos pelo GTM. O conteúdo programático apresenta os seguintes temas: Construção de Projeto e Pesquisa, Projeto de Vida, Sexualidade e Prazer, Valores e Relações Familiares, Anatomia e Fisiologia dos Aparelhos Reprodutores Feminino e Masculino e Mudanças do Corpo na Adolescência, DST, Preservativos, Gestação Juvenil, Direitos Sexuais e Reprodutivos e Anticoncepção, A cidade e seus Territórios, Álcool e outras Drogas, Juventude Viva/Cultura da Paz/Violências, Políticas de Atenção a Saúde de Jovens e Adolescentes, O Programa Mais Médicos, Violência e Gênero, O uso da Internet, Expressão corporal, Oratória e Dicção. Todos os encontros são avaliados pelos participantes e são registrados no portfólio do grupo e/ou na página do Facebook. OBS – inserir imagem – pegar o endereço eletrônico

Os recursos para a realização das atividades são previstos no Plano de Ações e Metas – PAM, instituído pela Portaria Ministerial nº2313/02, que estabelece a Política de Financiamento das ações em HIV/AIDS e outras DST. O Grupo de Multiplicadores também é patrocinado pela DKT International e Preservativos Prudence, através da parceria com a ONG Equipe Voluntária Brasil.

RESULTADOS

Como resultados positivos destacam-se o sucesso de que o grupo de multiplicadores adolescentes vem fazendo, já completando três anos de história, e vem sendo reconhecido por seus pares, profissionais e familiares. Desde o primeiro semestre de 2012, os multiplicadores participam como palestrantes em encontros de formação na área da saúde, educação básica e, até mesmo, de ensino superior como, por exemplo, nas Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde-VERSUS.

Em 2013, o grupo retomou as atividades, realizando inúmeros bate-papos em escolas das redes de ensino, debates e oficinas nos espaços de educação, de saúde, de assistência social, eventos voltados para jovens e profissionais, programas de rádio da cidade, entrevistas para jornal e diversas “Blitz da Prevenção” (ação de conscientização com entrega de preservativos e material informativo).

Durante as férias de janeiro de 2014, foi criado um grupo de conversa pelo WhatsApp e os adolescentes resolveram expandir suas atividades através da criação de uma página no Facebook intitulada “Sou Multiplicador”.

O grupo no WhatsApp (OBS _ INSERIR IMAGEM DO BATE PAPO) tem sido importante ferramenta na escuta e aconselhamento de adolescentes na cidade. No grupo de conversa, participam somente multiplicadores e profissionais do GTM. A expressão “uma amiga me perguntou” no contexto do grupo é verdadeira e traz contribuição no encaminhamento de diversas situações de saúde, envolvendo os adolescentes multiplicadores.

Ao serem conhecidos como multiplicadores, os adolescentes e jovens ocupamum lugar de referência entre seus pares e a potencialização pela internet estreita esta comunicação. Os multiplicadores repassa mais perguntas ao grupo do WhatsApp e os profissionais do GTM auxiliam na melhor forma de encaminhar cada caso.

Além deste recurso, no terceiro ano, os jovens multiplicadores continuaram a realização de oficinas, campanhas e apresentação do trabalho em diversos eventos. Ainda neste ano, o Grupo de Multiplicadores inspirou a Unidade de Saúde da Família Morada dos Eucaliptos e a Escola Municipal de Ensino Fundamental Francisco Xavier Kunst, do Bairro Canudos, a criar o Grupo de Adolescentes Multiplicadores em Saúde – GAMS, que propõe ações de saúde ampliadas no seu território e na cidade.

Através de relatos, percebe-se que as ações dos multiplicadores interferem em espaços que vão para além da escola, como a melhora do diálogo em casa e entre amigos, disponibilização do preservativo masculino e feminino e caderneta de saúde do adolescente, aproximação dos profissionais da rede de atendimento e protagonismo juvenil. Um jovem que saiu do grupo para trabalhar disse a seguinte frase:É uma pena que vou ter que sair do grupo, mas uma vez multiplicador sempre multiplicador”

Outros ex-participantes permanecem contatando e solicitando material para realizar ações nos seus espaços de estudo e/ou trabalho durante todo o ano, demonstrando que a proposta gera vínculos permanentes e mudança de postura dos participantes em relação a sua própria vida. Aqueles que não participam mais dos encontros semanais, permanecem acompanhando os multiplicadores nas ações de final de semana. Alguns adolescentes foram encaminhados ao grupo por demonstrarem dificuldades na escola e passaram a ser elogiados por seus professores, demonstrando outros bons resultados da proposta.

Muitos adultos ainda demonstram dúvidas e insegurança na realização do debate sobre a sexualidade, mas os adolescentes vêm mostrando que é possível multiplicar.

INOVAÇÃO

O GTM promove a garantia dos direitos previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação e também busca a implantação efetiva da Caderneta de Saúde do Adolescente, através da criação de espaços de formação e prevenção.

Entretanto, faz-se perceptível a rapidez com que a experiência do Grupo de Multiplicadores atinge visibilidade e se multiplica na cidade, envolvendo uma grande rede juvenil e adulta. A participação dos multiplicadores em eventos voltados para profissionais parece despertar grande interesse e fascínio nos adultos. Os adolescentes têm algo a dizer, eles ocupam os espaços, passando seu recado, sensibilizando a todos com a simplicidade e responsabilidade que lidam com as questões da sexualidade. Entre os pares, os multiplicadores também fazem muito sucesso, provavelmente por sentirem-se mais à vontade, além de apresentarem uma linguagem própria, facilitando a comunicação e a troca de informações.

A experiência dos multiplicadores, associada aos demais componentes do PSE ,tem garantido abertura para o diálogo e acesso aos serviços da rede no cuidado integral aos adolescentes.

Sugere-se que as ações inovadoras em educação, como, por exemplo, criação de grupos de multiplicadores, poderão, progressivamente, ser incorporadas ao Projeto Político Pedagógico das escolas e para isso são necessários sensibilização e comprometimento dos profissionais.

O acolhimento dos adolescentes nos espaços de saúde deve respeitar a orientação de que o adolescente tem direito à privacidade, ou seja, de ser atendido sozinho, em espaço privado de consulta, se assim o desejar. Esta orientação está entre as diretrizes relacionadas à saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes e também vem legitimar a possibilidade de enunciação do adolescente.

Além disso, é importante destacar que o sucesso do GTM se dá pela junção do potencial dos adolescentes participantes e pela estrutura de profissionais que sustentam a proposta, encontrando-se semanalmente para planejar e avaliar as ações do PSE e do Grupo de Multiplicadores. Este grupo de trabalho necessita ter composição intersetorial, possibilitando as costuras pela rede nas andanças do grupo, através dos diversos olhares. Portanto, a implicação da Gestão se faz fundamental, nomeando os profissionais, acompanhando o trabalho do GTM, incluindo o Grupo de Multiplicadores nos eventos oficiais da cidade e divulgando suas ações nos meios de comunicação, sendo reconhecido como importante interventor social.

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