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UNIFICACEO produzindo sentidos e qualificando o serviço: um relato de experiência na Educação Permanente

Identificação do autor responsável
Nome Município
Graziane Ribeiro Couto Aracaju
Autores do relato
Nome Município
Graziane Ribeiro Couto Aracaju
Claudia Lisboa Rodrigues Aracaju
Willianne Gonçalves Barreto Aracaju
Mirabel Martins De Santana Aracaju
Sheilla da Silva Barroso Aracaju
Contextualização/introdução

Os Centros de Especialidades Odontológicas são estabelecimentos de saúde criados para ampliar, complementar, fortalecer e qualificar os cuidados em saúde bucal. Os pacientes são atendidos na atenção primária e referenciados aos Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs), responsáveis pela atenção secundária em odontologia no Sistema Único de Saúde (SUS). Os CEOs fazem o tratamento clínico especializado, com atividades de diagnóstico bucal (com ênfase para o diagnóstico de câncer bucal), periodontia, cirurgia oral em tecidos moles e duros, endodontia, e atendimento odontológico a pessoas com deficiência (BRASIL, 2006).
Os CEOs são classificados em três tipos: Centros de Especialidades Odontológicas tipo I (três cadeiras odontológicas), Centros de Especialidades Odontológicas tipo II (com quatro ou mais cadeiras), e Centros de Especialidades Odontológicas tipo III (possuem, no mínimo, sete cadeiras). O quantitativo de funcionários é variável de acordo com o tipo de CEO, porém seu funcionamento é de 40 horas semanais (BRASIL, 2006). Os profissionais que fazem parte do CEOs precisam ser motivados e comprometidos para com as propostas idealizadas no SUS, e para isso é necessário a utilização de espaços de Educação Permanente (EP) e atualização profissional.
A ação do Unificaceo ocorre na cidade de Aracaju, capital de Sergipe. Localizado a leste do Estado, cortada pelos rios Sergipe e Poxim. De acordo com dados do IBGE o Índice de desenvolvimento humano (IDH) de 0,770 e densidade demográfica de 3.140,65 hab/km² (IBGE-2020). Essa ação se dirige aos odontólogos, gerentes das unidades, auxiliares de saúde bucal e assistentes administrativos dos centros de especialidades odontológicas estaduais de Sergipe. A ação foi idealizada para que cada especialidade tivesse um momento de Educação Permanente (EP), desta forma o planejamento e a proposta do Unificaceo ocorreu no período de 11 a 15 de julho de 2022.
O Unificaceo contou com a colaboração dos especialistas, Maria Amália Gonzaga Ribeiro, Breno Ferreira Barbosa, Thadeu Roriz Silva Cruz, Gabriela Mancia de Gutierrez, Juliana Ribeiro Lopes Giansante, Sthephany Araujo Barreto e Lavínia Aragão Trigo de Loureiro. No primeiro dia do evento foi realizada a discussão sobre sessão única ou múltipla sessão para tratamentos na especialidade endodontia. Nas discussões apresentadas observou-se que existem vantagens e desvantagens em ambas as técnicas, onde o profissional precisa avaliar caso a caso, considerando os materiais que serão utilizados, as intercorrências, tempo clínico (sendo este a maior problemática), preferência do profissional e do paciente. Dentre as vantagens apontadas está a taxa reduzida de dor, menor número de procedimentos, menor risco de fratura dentária, preferência dos pacientes e redução dos cursos.
Ainda neste dia, porém no turno da tarde, a professora Juliana Lopes vem apresentar as implicações que podem ocorrer quando o prontuário odontológico não é preenchido de forma completa ou com uma letra legível. Assim, os profissionais devem sempre inserir todas as informações, fazer a evolução do paciente, atualizar o prontuário a cada atendimento com a letra legível, sem uso de abreviações e nomenclaturas que apenas o especialista conheça. Outro ponto abordado refere-se ao uso de imagem de pacientes, no qual o profissional precisa ter autorização por escrito através da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) que precisa ser claro, informativo e o participante assinar com total liberdade. No que se refere a falsidade de atestado existe no código penal art. 299 no qual o cirurgião dentista pode ser enquadrado, tendo como pena 1 a 5 anos de reclusão. Ademais, em relação ao tempo de guarda dos prontuários este deve ser guardado por 10 anos, após este período os mesmos podem ser digitalizados e a cópia impressa descartada de forma que os dados dos pacientes não sejam expostos. Vale ressaltar que a palestrante Juliana esteve no evento todas às tardes de segunda a quinta-feira trazendo a fala sobre o prontuário. Desta forma, todas as especialidades tiveram acesso e escuta sobre o referido tema.
No segundo dia do evento no turno da manhã o palestrante Breno Barbosa traz em sua vivência do PSF um relato de experiência, no qual dois pacientes tiveram o diagnóstico de carcinoma na mesma região. Ao descrever o seu relato de experiência o cirurgião dentista apresenta dois casos de diagnóstico do câncer, com os mesmos encaminhamentos, a diferença relatada foi o apoio da família, um dos pacientes em pouco tempo veio a falecer em condições subumanas, contando apenas com o apoio do especialista para higienização do local da lesão, isolado em um cercado antes utilizado para guardar os cavalos criados pela família. Enquanto o outro paciente recebeu o apoio familiar, hoje encontra-se em processo de remissão do carcinoma, no entanto, está retornando aos velhos hábitos que o prejudicaram anteriormente. No relato do palestrante fica evidente como o acolhimento do paciente pode fazer a diferença no tratamento.
No terceiro dia o professor Thadeu Roriz traz em sua explanação como a sedação inalatória traz conforto ao paciente. E o questionamento é quando indicar a sedação inalatória? (i) paciente que necessita de cuidados urgentes e possui movimentos descontrolados, que colocam em risco a segurança do paciente, da equipe de saúde bucal ou dos seus responsáveis legais e nesse caso sem a necessidade de realizar a estabilização protetora; (ii) pacientes com a necessidade de um diagnóstico imediato e/ou tratamento de urgência e não pode cooperar devido a comprometimento de níveis de desenvolvimento (emocional ou cognitivo), falta de maturidade, por condições mentais ou físicas afetadas; (iii) paciente anteriormente cooperativo que rapidamente se torna não cooperativo e precisa concluir um procedimento que já havia sido iniciado; (iv) paciente não cooperativo que requer tratamentos pontuais e não pode não está indicado sedação medicamentosa ou atendimento sob anestesia geral.
Um ponto importante é que durante a evolução do atendimento executado no prontuário odontológico, nenhuma informação é demais, assim deve-se transcrever a indicação e o tipo de estabilização, avaliação/classificação do comportamento durante a estabilização, resultados indesejáveis, a exemplo de marcas na pele, dosagem dos medicamentos utilizados, além disso, na abordagem odontológica, deve-se atentar-se para organização do consultório, onde este já deve estar limpo, organizado e com todo o material separado antes da entrada do paciente.
A palestrante Gabriela Gutierrez traz em sua abordagem os objetivos, quando indica o uso e os cuidados que os profissionais precisam ter durante o uso do Estabilizador de Godoy. Assim, os objetivos do uso do Godoy incluem reduzir ou eliminar movimentos involuntários, proteger o paciente, a equipe de saúde bucal, os responsáveis legais ou acompanhantes; facilitar a execução de um atendimento odontológico com qualidade. O uso do Godoy é indicado para paciente que necessita de um tratamento urgente e não pode cooperar devido a níveis de desenvolvimento (emocional ou cognitivo) comprometidos. O odontólogo e a equipe precisam observar as condições médicas que podem comprometer a função respiratória; estabilizar em torno das extremidades ou do tórax sem restringir ativamente a circulação ou a respiração; observar a linguagem corporal e a avaliação da dor devem ser contínua; a duração de estabilização deve ser em um curto tempo em que deve-se finalizar o atendimento o mais rápido possível com o objetivo de prevenir possíveis traumas físicos ou psicológicos.
No quarto dia, o professor Thadeu Roriz traz o relato de experiência de uma pesquisa desenvolvida dentro da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em um hospital público do Estado de Sergipe durante o período de pandemia da COVID-19. Salienta que a pandemia trouxe mudanças no processo de trabalho da equipe de saúde bucal e no uso dos equipamentos que produzem aerossóis, a exemplo do uso do ultra som no centro cirúrgico, que pode manter o vírus da COVID-19 suspenso no ar por um período em torno de 3 horas, do jato de carbonato e da caneta de alfa rotação como exemplo. O palestrante relata que as doenças periodontais têm uma relação muito potente com a saúde sistêmica, realizando o processo de convencimento com os gestores sobre a importância da presença do cirurgião dentista em ambiente hospitalar. Sabe-se que, hoje, um periodontista dentro do hospital significa economia imediata e não gasto. Desta forma, o tratamento preventivo dentro da UTI significa redução de gastos para os cofres públicos. O palestrante salientou que no Estado de Alagoas por lei existe a obrigatoriedade do cirurgião dentista nos hospitais sejam públicos ou privados. As doenças periodontais podem ser crônicas, realizando modificações no curso da doença sistêmica. O fator determinante é o aparecimento da placa bacteriana (biofilme). Na literatura o índice aceitável de biofilme é de 10 a 20%. Estudos avaliados demonstraram que as comorbidades apresentadas pela COVID-19 são semelhantes à doença periodontal. Alguns marcadores inflamatórios como proteína C reativa, citocinas, prostaglandina, interleucinas, fator de necrose tumoral geram o processo inflamatórios podendo agravar as doenças periodontais. Assim, o periodontista deve ficar alerta aos pacientes que têm alguma doença sistêmica para não agravar ainda mais a saúde do paciente.
No quinto dia e último dia do evento a educadora Lavínia Aragão traz em sua explanação pontos importantes sobre a responsabilidade da Administração Pública, fomenta sobre o crescimento da instituição, que existe a diferença entre o gestor querer e/ou poder. Durante a conversa sobre o conceito de gestão, os participantes trazem na fala que gestão é gerir, acompanhar, acolher e conduzir os recursos públicos de maneira que o serviço funcione. Assim, o serviço precisa estar conectado com o outro (rede) em ato vivo, todos conectados, funcionando para que o usuário não sofra. Desta forma, o acesso torna-se igualitário entre todos, onde todos precisam ser acolhidos. Em uma das falas é feita a reflexão sobre responsabilidade enquanto trabalhador do SUS, onde a mínima ação pode gerar um nó crítico muito grande para todos os envolvidos naquele local de trabalho. Um dos exemplos trazidos foi citado por uma das palestrantes sobre a guarda de documentos, evolução dos prontuários, emissão e/ou uso de atestados falsos, que pode gerar grandes problemas referente a processos tanto na esfera civil quanto penal.

Justificativa

Considerando que a Escola de Saúde Pública de Sergipe (ESP-SE) / Fundação Estadual de Saúde (FUNESA) se apresenta como instituição foco no aprimoramento de competências, habilidades e na disseminação dos momentos de educação permanente em saúde (EPS). A ação intitulada Unificaceo foi idealizada a partir do movimento realizado pela Coordenação dos Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs) no decorrer das visitas técnicas/operacionais realizadas durante o Planejamento Estratégico Situacional (PES) nos CEOs, na qual foi realizada a escuta qualificada dos profissionais. Desta forma, essa ação foi planejada ocorrendo assim um movimento de interação com rodas de conversas, trocas de experiências e esclarecimentos sobre temáticas da odontologia e da gestão em saúde bucal.

Objetivo(s):

Proporcionar a unificação dos saberes através do movimento de Educação Permanente (EP) para os profissionais dos CEOs estaduais em Sergipe.

Elaborar um protocolo interno com diretrizes unificadas para os procedimentos realizados nos CEO’s estaduais em Sergipe.

Melhorar a qualidade do atendimento ao usuário dos CEOs estaduais de Sergipe, mediante processo educativo, permanente e vinculado à prática do trabalho.

Fortalecer o processo de trabalho das equipes dos CEOs estaduais do Estado de Sergipe.

Metodologia e atividades desenvolvidas

Foi utilizado na ação metodologias ativas em que inicialmente foi realizado o diagnóstico situacional através das reuniões colegiadas, do planejamento estratégico situacional, das visitas técnicas com o objetivo de levantar as principais dificuldades ou sugestões para o melhor andamento do atendimento aos usuários dos CEOs.
As atividades pedagógicas propostas para essa ação objetivam fortalecer e estimular a participação dos profissionais no processo de ensino aprendizagem, por meio dos conhecimentos prévios, das emoções e das vivências em seu dia a dia no processo de trabalho.
A ação do Unificaceo ocorreu no período de 11 a 15 de julho de 2022, durante 5 (cinco) dias, nos turnos manhã e tarde. Dentre as atividades desenvolvidas nesta ação houve a aplicação de dinâmicas de grupo, momento de relaxamento, roda de conversa, exposição prática de alguns procedimentos, apresentação teórica e relatos de experiências. Os conceitos teóricos e a práticos foram abordados com foco nos serviços desenvolvidos pelos profissionais tendo como base especialidades que são ofertadas nos CEOs, como também foi explanado a temática da gestão em saúde bucal.
Estes movimentos de EP durante o processo de trabalho configuram-se com momentos de discussão teórica, experiências vivenciadas no trabalho, relatos de caso, dificuldades, limitações e frustrações. Assim, a ação Unificaceo traz momentos flexíveis, validando a demanda e desejo de cada profissional. Ao final da ação uma ficha de avaliação para avaliar o nível de satisfação e possíveis sugestões foi aplicada a cada um dos profissionais que participaram desta ação. Os conceitos utilizados na ficha de avaliação são ótimo, bom, regular, ruim e inadequado.

Quais os resultados alcançados

Uma pesquisa de satisfação em relação ao Unificaceo foi realizada com os participantes. No que diz respeito aos objetivos alcançados, 79% dos participantes consideraram o evento ótimo, enquanto 20% avaliaram como bom. Para o item metodologia utilizada e o conteúdo trabalhado, 83% dos participantes avaliaram como ótimo e 16% como bom. No que se refere ao tempo para realização da ação educacional 67% consideram o tempo ótimo, 28% como bom e 5% regular.
Outro item avaliado foi o material didático onde 77% dos participantes consideraram ótimo e 22% bom. No tocante ao domínio do conteúdo e clareza na explanação 87% avaliaram como ótimo e 12% como bom. Participação da turma 64%, 30% e 2% (ótimo, bom e regular, respectivamente) e participação individual 69%, 25% e 5 % (ótimo, bom e regular, respectivamente). Ao observar o aspecto organização, espaço físico e acesso ao local do curso os participantes elencaram para organização 81% ótimo e 19% bom. Para o espaço físico 66% ótimo, 25% bom, 7% regular e 1% ruim. Em relação ao acesso ao local da ação, 70% ótimo, 27% bom, 2% regular e 1% ruim. Observou-se que de maneira geral mais de 65% dos participantes consideraram o evento como ótimo e aproximadamente 20% como bom e 5% regular.

Considerações finais

A ação do Unificaceo foi importante porque permitiu a interação entre os profissionais dos CEOs e com os professores convidados, o que possibilitou uma troca de experiências e o aprendizado de novos conhecimentos com o objetivo de garantir a harmonização, a qualificação e o alinhamento no processo de trabalho realizado nos CEOs estaduais de Sergipe. Além disso, vários especialistas no processo de avaliação descreveram a necessidade de realização de mais ações similares a essa, pois tal troca de conhecimentos qualifica muito o atendimento odontológico que é ofertado aos usuários da atenção especializada em saúde bucal.
É sabido que desde 2009 os CEOs passam por transformações. Entretanto, observou-se a necessidade de inovar e evoluir a partir do momento que foi percebido uma carência de padronização nos fluxos existentes. A ação Unificaceo veio inovar e garantir um melhor ambiente de trabalho, uma vez que propôs a escuta qualificada dos profissionais, bem como a discussão de temas atuais e de extrema relevância dentro do âmbito da odontologia.
Analisando o desenvolvimento e eficácia da ação é fato que existe a real possibilidade de se aplicar tal proposta para outros locais ou instituições, para isso é necessário fazer a escuta qualificada dos seus profissionais associada com a análise dos fluxos existentes na condução do processo de trabalho, em posse dessas informações planeja a ação com o objetivo de qualificar o atendimento aos usuários e padronizar as atividades que são executadas diariamente. Desta forma, destacando que o fator mais importante da ação foi proporcionar uma boa execução dos serviços de saúde bucal oferecidos nos CEOs, observou-se que as principais dificuldades encontradas foram o deslocamento dos profissionais de seus municípios de lotação e o tema a ser discutido na ação, frente aos obstáculos destacados as estratégias de enfrentamento foi proporcionar um dia prazeroso para o profissional, com ações dinâmicas e momentos de confraternização, bem como oferecer a troca de escalas e uma contribuição simbólica através de diárias para amenizar os custos do deslocamento.

REFERENCIAL
BRASIL. PORTARIA Nº 599/GM DE 23 DE MARÇO DE 2006. Define a implantação de Especialidades Odontológicas (CEOs) e de Laboratórios Regionais de Próteses Dentárias (LRPDs) e estabelecer critérios, normas e requisitos para seu credenciamento. bRASILIA. MINISTÉRIO DA SAÚDE. DISPONÍVEL EM https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt0599_23_03_2006.html ACESSO EM 26/07/2022.

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