As práticas alimentares no ambiente de trabalho têm um papel muito além da função fisiológica de fome. O ambiente, o tempo, as refeições disponíveis, o conhecimento acerca dos alimentos, das suas combinações e da segurança dos alimentos, dentre outras questões, são fatores que estão diretamente relacionados às práticas alimentares mais ou menos saudáveis. A pandemia, instalada em março de 2020, alterou basicamente toda a rotina de vida das pessoas, das famílias, e nesse caso do local de trabalho. O retorno das atividades presenciais foi marcado por diversas adaptações, e uma muito importante foi nas práticas alimentares no ambiente de trabalho. As diferentes jornadas de trabalho, a mudança no refeitório (de um local fechado e com equipamentos, para um local aberto e com distanciamento) e o medo em relação ao consumo de alimentos em ambiente coletivo, são alguns fatores que provocaram mudanças importantes na rotina alimentar dos colaboradores da UNIRUY. Mudanças essas que poderiam trazer resultados negativos à qualidade de vida deste público. Neste sentido foi montado um projeto de intervenção que tinha como pilares o diagnóstico da realidade e a proposição de estratégias que empoderassem os sujeitos em relação as suas práticas alimentares. A experiência aqui relatada aconteceu em 2 etapas: diagnóstico e intervenção.
O diagnóstico tinha 2 finalidades importantes: uma foi de fornecer dados para o planejamento das intervenções a curto prazo que seriam realidades naquele momento e uma segunda foi fornecer dados para a instituição pensar e organizar o ambiente e os serviços ofertados aos colaboradores, como por exemplo, a organização do Núcleo Integrado de Saúde, que conta com o serviço de Nutrição.
O diagnóstico foi feito seguindo dois métodos: 1 – a aplicação de um questionário em plataforma virtual contendo questões que caracterizavam as práticas alimentares dos colaboradores e buscava identificar os problemas apontados por cada um deles em relação a esta temática. O questionário foi construído e analisado pela supervisão e preceptoria de estágios. 2 – Observação da realidade seguindo um roteiro pré-estabelecido pelo grupo (supervisão e preceptoria de estágios, estagiários, alunos da disciplina Educação Alimentar e Nutricional).
O resultado do questionário apontou uma principal questão: falta de conhecimento sobre alimentação saudável (alimentos e suas combinações) e sobre armazenamento e transporte de refeições. A observação da realidade apontou falta de estrutura física para práticas alimentares saudáveis e seguras.
A partir desses dois resultados foi montado um esquema de intervenção que incluiu:
1.E-book: material interativo contendo informações e estratégias que auxiliassem os colaboradores em suas práticas alimentares no ambiente de trabalho;
2.Oficina de montagem de marmita (momento prático, com uma amostra de colaboradores que se inscreveram de forma antecipada). Os estagiários e preceptores apresentaram aos colaboradores diversas possibilidades de montagem de marmitas que fossem adequadas a estrutura, tempo para a refeição e tempo de deslocamento de caso ao trabalho, dentre outras questões. Na ocasião ainda se falou dos tipos e cuidados com as bolsas térmicas ou outras formas de transportar os alimentos;
3.Varal de receitas: foi disponibilizado nos corredores da instituição um “varal” com algumas receitas de pratos que fossem práticos, saudáveis e adequados a realidade dos colaboradores em relação às suas práticas alimentares. Cada colaborador poderia destacar e levar a receita de interesse;
4.Grupo focal: abriu-se as inscrições para os colaboradores que quisessem participar. O tema central desta atividade foi “determinantes do consumo alimentar” e utilizou-se como estratégia principal a roda da vida, adaptada para consumo alimentar. A atividade durou em torno de 3 horas.