Introdução: A Educação Alimentar e Nutricional (EAN) configura-se como um dos pilares do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e enquanto campo teórico e prático, potencializa a promoção de sujeitos autônomos e críticos no que tange a alimentação e nutrição. A Jornada de Educação Alimentar e Nutricional (JEAN), promovida pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), atua como impulsionador da qualificação e multiplicação das ações, além de garantir a visibilidade daquelas já realizadas pelo país. Cada edição, lançada anualmente, é composta por quatro temas pertinentes à alimentação escolar. Objetivo: construir caminhos possíveis para a inclusão da EAN nos processos de ensino aprendizagem de pré escolares bem como o envolvimento de diferentes atores sociais do PNAE na construção coletiva e contextualizada das ações. Métodos: Realizou-se um conjunto de ações de EAN como parte dos temas 1 e 2 da 4ª edição da JEAN, desenvolvida com uma turma de 22 pré escolares do Centro Municipal de Educação Infantil (CEMEI) Professor Pedro Paulo Csizmar de Oliveira do município de Alfenas-MG durante os meses de março a junho de 2022. A construção do caminho metodológico foi realizada de maneira coletiva, a partir do diálogo entre a nutricionista Responsável Técnica do município, discentes do curso de nutrição da Universidade Federal de Alfenas que atuam como estagiários no setor de alimentação escolar, bem como a gestora e a equipe pedagógica do CEMEI. As ações foram pensadas de forma a envolver diferentes atores sociais no âmbito do PNAE para além da equipe de nutrição tais como professores, agricultores familiares, merendeiras e o Conselho de Alimentação Escolar (CAE). Outro eixo importante foi garantir a transversalidade com o currículo escolar, alinhando às atividades cotidianas dos estudantes e considerando os princípios para ações segundo o Marco de Referência de EAN para as políticas públicas. Foram desenvolvidas atividades que contemplaram um ciclo de diagnóstico, planejamento, execução e avaliação, divididas em 6 etapas em cada tema. O tema 1 incluiu ações relacionadas ao caminho que o alimento percorre do campo à escola. A etapa 1, diagnóstica, englobou roda de conversa embaixo do abacateiro da escola, que tem valor simbólico para as crianças e que dialoga com a sazonalidade, pois o abacate estava sendo oferecido nos cardápios na semana em questão. Foi um momento de averiguar o conhecimento dos alunos sobre o papel das nutricionistas, das merendeiras e também das agricultoras e agricultores no cuidado com os alimentos e como esses chegam até a escola. Além de conhecer um pouco sobre a aceitabilidade dos alimentos oferecidos. Para tanto, os alimentos in natura foram utilizados como ferramenta pedagógica. A etapa 2 foi uma reunião com os familiares, com a apresentação da jornada e socialização de um vídeo explicativo e diálogo sobre as possibilidades. Na etapa 3 foi utilizado o jogo “Caminho das frutas”, que tinha como objetivo trabalhar, de forma lúdica, a identificação de frutas e seus benefícios, bem como características que diferenciam uma fruta de outra tais como azeda ou doce; presença de semente ou não; se era cultivada no chão ou em árvores, dentre outras características. Após a atividade, as crianças degustaram amora diretamente no pé e laranja da merenda e ilustraram a atividade através de desenho livre. A etapa 4 foi constituída por uma visita à propriedade de agricultores familiares vinculados ao PNAE, por meio do qual os estudantes puderam degustar e conhecer mais sobre como esses alimentos são cultivados. A visita contou com o acompanhamento do CAE e de TV local. Já a etapa 4 culminou em uma oficina culinária, com a elaboração de Pão de mandioca e guacamole, além de suco de acerola com laranja, a partir da utilização de alimentos provenientes da agricultura familiar local e da horta comunitária do CEMEI, alimentos observados durante as demais atividades e atendendo as necessidades alimentares especiais dos estudantes e a participação da cozinheira do CEMEI. As etapas 5 e 6, avaliativas, incluíram a aplicação de teste de aceitabilidade com a utilização de urnas lúdicas em consonância com o Manual para Aplicação do Teste de Aceitabilidade do FNDE. Além disso, a professora e a ADH responsáveis pela turma levaram imagens para que os alunos pudessem realizar a identificação dos alimentos e suas características baseado nas atividades realizadas anteriormente. Foi proposta a elaboração de desenho livre sobre a jornada e a partir dos desenhos foi confeccionado um mural com todas as etapas do tema 1. O mural ficou exposto no pátio da CEMEI durante alguns dias e os alunos puderam explicar para outras turmas sobre suas vivências a partir de suas próprias percepções. O tema 2 da JEAN, por sua vez, foi direcionado no sentido de possibilitar que os professores incluíssem a alimentação e nutrição no processo de ensino aprendizagem de forma crítica e contextualizada. Na etapa 1, diagnóstica, foi realizada análise e atualização do Projeto Político Pedagógico (PPP), com a inclusão do tema EAN transversalmente e de forma integrada à realidade do CEMEI. A etapa 2 consistiu na realização da “Oficina: Professoras em Ação”. Foram utilizadas metodologias participativas, pensadas a partir da análise do PPP e tendo como referência o Caderno de atividades “Promoção da Alimentação Adequada e Saudável: Educação Infantil”, elaborado pelo Ministério da Saúde. Foi realizada uma mística de abertura com uma prática de Mindful Eating, utilizando a uva passa como ferramenta pedagógica e tendo no horizonte a necessidade de abordar o princípio de EAN da promoção do autocuidado e da autonomia. Nesse sentido, foi problematizado de forma lúdica a importância de criar a consciência crítica de comer e respirar com atenção plena, respeitando os sinais de fome e saciedade e os significados entorno da comida. A dinâmica 2 da oficina “Alimentos e seu processamento” teve por objetivo dialogar sobre o processamento dos alimentos, a partir dos conhecimentos prévios do grupo e problematizar a importância de utilizar o Guia Alimentar para a População Brasileira como Referência nas atividades educativas. Para tanto, foi utilizado como ferramenta pedagógica o milho (in natura, processado e ultraprocessado). Na dinâmica 3 “A Alimentação e os campos de experiência do PPP” foi entregue ao grupo 5 cartolinas com os 5 campos de experiência propostos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e contemplados do PPP. O grupo discutiu e elencou ideias de atividades (palavras-chave) relacionadas à alimentação, de forma contextualizada com a realidade alimentar dos alunos dentro e fora da escola. A discussão foi sistematizada através da construção de material educativo que foi entregue ao CEMEI para ser socializado com toda a comunidade escolar. A etapa 3 foi dedicada às professoras enquanto protagonistas. A partir do entendimento construído durante a oficina, as professoras montaram um plano de aula e aplicaram. A atividade consistiu em discutir sobre o processamento dos alimentos a partir da utilização da fruta in natura e o suco em pó e a preparação do suco de abacaxi com hortelã com as crianças, explorando vários campos de experiência, os números já estudados (0,1,2, 3 e 4) introdução do número 5, os sentidos e a letra A. A atividade foi finalizada com a elaboração de um gráfico para explorar a questão dos números. Na etapa 4 os alunos foram levados a uma visitação na agroindústria da Associação de Mulheres Agricultoras e Artesãs da Comunidade dos Bárbaras (AMACOORB), que produzem polpas, que são adquiridas para a alimentação escolar de Alfenas. As crianças puderam observar o pomar e entender, a partir do olhar das agricultoras, questões tais como a sazonalidade das frutas e observar de perto como as polpas são processadas e embaladas antes de chegarem à escola. Na etapa 5 foi realizada uma oficina culinária, tendo como protagonistas as professoras e as merendeiras. A receita escolhida por elas foi “Cookie de banana com aveia” e “Suco da polpa de frutas”, no intuito de relacionar as demandas da nova resolução do PNAE com os alimentos observados nas atividades anteriores e a realidade de oferta da alimentação escolar. A preparação foi composta apenas por ingredientes in natura e minimamente processados. A etapa 6, avaliativa, aconteceu entre as diversas ações e utilizando diferentes estratégias. Foi realizada roda de conversa com os alunos com o intuito de rememorar os saberes, experiências e os sentimentos vivenciados durante o tema 2 da JEAN. Para tanto, cada aluno compartilhou o que foi mais marcante para si. Houve também o diálogo com a equipe do CEMEI para discutir sobre a viabilidade de continuidade da articulação com a temática da alimentação e foi observado grande potencial pedagógico. Foi possível perceber, ainda, que as atividades desenvolvidas foram significativas tanto para os alunos quanto para as educadoras. Além disso, o teste de aceitabilidade foi aplicado após a realização da aula que contemplou a Oficina dos sucos e após a oficina culinária do Cookie de Banana com aveia. O novo PPP, bem como as atividades propostas serão utilizados como projeto piloto para aplicação nas demais escolas e para subsidiar o planejamento de um curso direcionado aos demais educadores de toda a rede municipal de ensino. Todas as ações foram divulgadas no Instagram® da alimentação escolar de Alfenas (@alimentacaoescolaralfenas). Resultados: A aceitabilidade das preparações elaboradas durante as oficinas culinárias, baseadas em alimentos vinculados às diversas ações realizadas não obtiveram 85% preconizado pelo FNDE na aplicação dos testes de aceitabilidade. Sendo assim, faz-se necessário realizar alguma inovação nas receitas para reaplicação do teste. É válido elencar o fator limitante referente ao número de pessoas entrevistadas, onde o recomendado seria de 100 pessoas ou mais e, aqui, o teste de aceitabilidade foi aplicado em apenas 22 pessoas. Entretanto, foi possível perceber que as atividades desenvolvidas foram significativas tanto para os alunos quanto para as educadoras e que ambos os grupos caminharam no sentido de criar mais autonomia e senso crítico em relação à alimentação. Além disso, é importante enfatizar que a educação é um processo e logo os resultados demandam o tempo certo de maturação e desenvolvimento. Os saberes e sabores cultivados durante os temas 1 e 2 da JEAN potencializarão o florescimento das ações para os próximos temas propostos no âmbito da JEAN. Conclusão: O processo de planejamento, execução e avaliação de ações de EAN quando realizado de uma perspectiva viva, acolhedora e amorosa e a partir do envolvimento de diversos atores sociais, cenários de prática e estratégias viabiliza a sustentação e continuidade das ações.
Documento da experiência “Como o educador pode inserir o tema Alimentação Saudável no currículo da Educação Infantil”: https://drive.google.com/file/d/1lt2aFunVJnFuF4rrxtxrFKOdrruHD_pj/view?usp=sharing
Referências:
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de atividades: Promoção da Alimentação Adequada e Saudável : Educação Infantil / Ministério da Saúde, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. – Brasília: Ministério da Saúde, 2018. 92.
BRASIL. Resolução CD/FNDE nº 6, de 8 de maio de 2020. Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar aos alunos da educação básica no âmbito do Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 maio 2020. Seção 1, p. 38. Lei nº 13.666, de maio de 2018.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed., 1. reimpr. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014.