Entre o período de setembro de 2020 a outubro de 2021 foi implementado em
uma Unidade Socioeducativa do Distrito Federal o Projeto Semear para a Vida,
conhecido entre os adolescentes como “Oficina de Horta”. Participaram das atividades
apenas adolescentes do gênero masculino, com faixa etária compreendida entre 13 e
19 anos, sendo selecionados aqueles que tinham experiência no trabalho com hortas ou
jardinagem ou, ainda, interesse pelo manejo da terra e a produção de alimentos, não
possuíam histórico de ocorrências ou faltas disciplinares na Instituição e eram
recomendados pela equipe técnica de psicólogos, pedagogos, assistentes sociais ou
enfermagem.
Estes adolescentes eram organizados em equipes de até três pessoas, para
garantia da segurança e da viabilidade do serviço. Todos os equipamentos e materiais
utilizados para as Oficinas foram adquiridos via doação ou, ainda, mediante a
comercialização de hortaliças que garantia recursos para aquisição de insumos, como
sementes e materiais de consumo. Destaca-se que grande parte dos materiais utilizados,
como a composteira e a estufa, foram confeccionados pelos adolescentes.
Ao longo desses 13 meses, estima-se que o número de adolescentes que
participaram das atividades do Projeto tenha se aproximado de 250 e foram realizados
diferentes plantios e uma grande diversidade de colheitas. Foram plantados e colhidos
os seguintes alimentos: alface crespa, alface americana, repolho, tomate-cereja,
cebolinha, coentro, salsinha, manjericão, cenoura, beterraba, rabanete, alho, pimenta,
abobrinha, abóbora, melão, melancia, mamão, maracujá, cajá e pitaya, dentre outros.
Nos encontros realizados entre os dias 13 e 20 de outubro de 2021, a facilitadora
das Oficinas convidou 15 adolescentes a participarem de uma pesquisa, com vistas a
ouvi-los e compreender os impactos que as atividades poderiam causar em suas vidas,
tendo havido autorização da gestão da Unidade. Considerando que a maioria dos
adolescentes possui dificuldades relacionadas ao ensino tradicional, como a evasão
escolar ou reprovações frequentes, foram elaboradas cinco perguntas, com linguagem
simples e clara: 1) Você já possuía alguma experiência no trabalho com hortas?, 2) Você
gosta de participar das oficinas do Projeto?, 3) O que participar das oficinas do Projeto
significa para você?, 4) Você acredita que os conhecimentos adquiridos nas oficinas tem
aplicação prática na sua vida? e 5) Você tem interesse em continuar trabalhando com
hortas após o desligamento desta Unidade?.
Dos 15 participantes, nenhum se recusou a responder. Em relação à experiência
no trabalho com hortas, 60% dos adolescentes responderam possuir alguma experiência
no manejo com a terra, jardinagem ou plantio de hortaliças, sendo que 15% relataram
que esse contato com as hortas havia ocorrido em outros momentos, em Unidades do
Sistema Socioeducativo. Aproximadamente metade dos adolescentes responderam que
faziam uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos e que não sabiam ser possível realizar
o plantio de alimentos sem a sua utilização. Sobre gostar ou não de participar das
oficinas do Projeto, todos responderam afirmativamente.
Quando questionados sobre o que significava participar da Oficina de Horta, os
adolescentes responderam partindo de diversas perspectivas e, portanto, optou-se por
manter o registro de suas falas, que foram posteriormente apresentadas à gestão local.
Quanto à possível aplicação prática que os conhecimentos adquiridos nas
oficinas poderiam ter em suas vidas, todos responderam acreditar que sim, tendo um
deles afirmado que “sim, no futuro vai ter, porque um dia a gente colhe o que planta”.
Por fim, em relação ao interesse em continuar trabalhando com hortas após o
desligamento da Unidade, aproximadamente 75% responderam que sim, sendo que
alguns dos que responderam negativamente, informaram que os motivos da negativa
estavam na falta de espaço em suas casas, na ausência de oportunidades fora da
Instituição ou na incerteza sobre aconteceria daquele momento em diante.