A experiência “Comida de República e as Práticas Alimentares de Universitários(as)” constitui uma ação de EAN, promovida como curso de extensão (curta duração/gratuito) pela Coordenação de Atenção à Saúde do Estudante da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da Universidade Federal de São Paulo (PRAE-Unifesp), modalidade Educação a Distância (EaD). O público-alvo é formado por estudantes universitários da Unifesp e de outras instituições brasileiras de ensino superior públicas e privadas. É desenvolvido no Moodle da PRAE-Unifesp (Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA) desde 2015 e, em 2022, terá sua décima edição. Também se estabelece como pesquisa-ação participativa, cujos objetivos são: investigar práticas alimentares de universitários no contexto do curso e avaliar sua viabilidade, processo e efetividade como intervenção baseada na internet.
O Curso “Comida de República” promove um espaço educativo baseado no diálogo, no pensamento crítico e sistêmico e na problematização de questões que permeiam a alimentação no contexto da vida universitária. O curso promove reflexões e conhecimentos sobre a diversidade e a complexidade das dimensões que envolvem o ato de comer na contemporaneidade, com ênfase para o compartilhamento de vivências e práticas no cotidiano da vida universitária, especialmente em moradias estudantis (“repúblicas”). As últimas edições (2020 e 2021) também abordaram os impactos da pandemia de COVID-19 na alimentação universitária, assim como os contextos sociais e alimentares diante da retomada das aulas presenciais.
As atividades propostas no AVA (Moodle) são essencialmente assíncronas (imagens, vídeos, apresentações, leitura de textos, participação em fóruns, produção de materiais), mas algumas edições contaram com atividades síncronas pelo Google Meet (rodas de conversa entre cursistas, professores e tutores). Os(as) professores(as) são nutricionistas e assistentes sociais da Universidade, responsáveis pelos conteúdos, estratégias pedagógicas e apoio técnico-científico aos tutores(as); estes últimos são estudantes universitários (bolsistas, voluntários, cursistas em edições anteriores) responsáveis pela interação direta com os(as) cursistas ao longo do percurso formativo. As práticas educativas são orientadas pelos princípios da Educação Popular Freireana e têm como referencial teórico-metodológico o Marco de Referência em Educação Alimentar e Nutricional para Políticas Públicas e o Guia Alimentar para a População Brasileira. As atividades estão organizadas em um módulo de apresentação e cinco módulos temáticos, desenvolvidos ao longo de oito semanas (total de 20 horas), e estão detalhadas em publicação científica (Vedovato GM, Leonardi FG. The “Comida de República” web-based course to promote healthy eating among college students. Revista de Nutrição. 2021;34). Resumidamente, o módulo 1 introduz a ideia de que a alimentação é mais do que a ingestão de nutrientes e contextualiza as diversas dimensões do comer e da comida; ao final, o cursista é estimulado a relatar seu contexto de vida e rotina alimentar. O módulo 2 explora a oferta e a escolha de alimentos e refeições, bem como as relações do cursista com seu universo de vivência e moradia, assim como propõe conhecer e dialogar com outras realidades de colegas do curso. Nestes primeiros módulos a proposta é criar uma atmosfera de reflexão e análise sobre o ato de comer na vida universitária. O módulo 3 apresenta os dilemas estruturais e conjunturais dos sistemas alimentares atuais e como eles incidem sobre as nossas escolhas alimentares e a saúde; com destaque para a problemática dos ultraprocessados. O módulo 4 encoraja os cursistas a se aventurarem na cozinha e produzir uma preparação culinária sob os princípios do Guia Alimentar para a População Brasileira. Neste módulo também são trabalhados os conceitos “gastro-anomia” e “comensalidade”. O módulo 5 é o momento de sistematização final da experiência, no qual os cursistas são estimulados a (re)conhecerem o ambiente alimentar da comunidade, dos comércios e da universidade e a identificarem as principais questões, barreiras e facilitadores para uma alimentação adequada e saudável. Sob essa perspectiva, os cursistas produzem portfólios criativos ou “photovoice”. Ainda, o Curso apresenta um componente transversal, o “Caldeirão de Dicas”, no qual os cursistas compartilham, de forma lúdica e interativa, suas experiências, receitas, ideias, inovações e estratégias (imagens, vídeos, textos) para facilitar a rotina alimentar e apoiar colegas em seus contextos de vida e moradia. O compilado das publicações no “Caldeirão de Dicas” das edições do curso constitui um acervo relevante para apoiar processos educativos em EAN. A partir das interações em fóruns e dos materiais produzidos pelos cursistas, os tutores problematizam questões acerca do acesso aos alimentos (físico, financeiro, geográfico), da disponibilidade de recursos (como meios de transporte para compra de alimentos, equipamentos e utensílios para cozinhar) e as dinâmicas relacionadas às práticas alimentares (cozinhar, comer junto, influências e determinantes) nos diversos contextos de vida e moradia. Estimula-se o pensamento crítico, complexo e sistêmico para “o comer” e a comida, assim como suas relações com o processo saúde-doença de indivíduos e coletividades. O curso busca também incentivar o desenvolvimento de habilidades culinárias, o espírito coletivo e colaborativo para comprar e preparar alimentos “in natura” e minimamente processados, o apoio a sistemas alimentares mais justos e sustentáveis e a comensalidade nas moradias estudantis.