O Transtorno Depressivo Maior (MDD, sigla em inglês para Major Depressive Disorder) é uma das principais causas de incapacidade global, frequentemente subdiagnosticada e subtratada, especialmente em pacientes com doenças crônicas como o diabetes mellitus. A Organização Mundial de Médicos de Família (WONCA), em colaboração com a Mosaica Solutions, lançou o Projeto MDD Minds, visando aprimorar a qualidade do atendimento a pacientes com MDD em regiões como África, Oriente Médio, Ásia e América Latina. Alinhando-se a essa iniciativa, implementamos uma intervenção para integrar o rastreamento de depressão e ansiedade em pacientes diabéticos na Atenção Primária à Saúde (APS) no Ceará, Brasil. Trata-se de um estudo de intervenção prática, fundamentado no Planejamento Estratégico Situacional, realizado entre setembro e novembro de 2024 em duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) no Ceará: UBASF Barra Nova, em Cascavel, e UBS Buriti, em Pacajus. As médicas das equipes conduziram capacitações utilizando vídeos educativos sobre saúde mental para enfermeiros, técnicos de enfermagem, dentistas e agentes comunitários de saúde. Os profissionais foram orientados a aplicar o Questionário de Saúde do Paciente-9 (PHQ-9) para rastreamento de depressão e ansiedade em pacientes diabéticos. A equipe estruturou um diagrama de raias para descrever o fluxo do processo e os profissionais envolvidos e pactuar a aplicação do questionário pela equipe multiprofissional. A intervenção permitiu ampliar significativamente a triagem de transtornos mentais, atingindo 70% dos pacientes diabéticos rastreados, superando a meta de 50%. Entre os rastreados, 18% apresentaram resultado positivo para depressão ou ansiedade , evidenciando que a inclusão de critérios clínicos mais precisos pode reduzir falsos positivos em comparação com a percepção clínica inicial. O projeto também possibilitou a reavaliação do tratamento medicamentoso de pacientes em uso prolongado de antidepressivos e ansiolíticos. Desafios foram identificados, como a falta de apoio matricial e o acesso limitado a serviços psicológicos, dificultando a continuidade do cuidado para pacientes com diagnóstico confirmado. Portanto, com a introdução de critérios clínicos mais rigorosos e ferramentas padronizadas, a classificação de quem realmente apresenta depressão ou ansiedade se torna mais precisa, possibilitando acompanhamento regular e abordagem terapêutica adequada.