As unidades básicas de saúde (UBS) estão sendo motivadas pela Política Nacional da Atenção Básica a implantar o acesso avançado, que busca pelo atendimento às necessidades do usuário no mesmo dia ou em até 48 horas, visando ampliar o acesso dos usuários ofertando 70% das vagas de consulta para os atendimentos da demanda espontânea dos usuários e 30% para os de grupos prioritários já atendidos.
Porém diversas UBS executam o Modelo de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (MACC) no seu dia a dia, que consiste em uma agenda programática por atendimentos a grupos prioritários como portadores de doenças crônicas, com ofertas de vagas para consultas de demandas espontâneas restritas na semana.
Esta experiência, desenvolvida pela prefeitura de São Paulo em parceria com o Instituto Israelita de Responsabilidade Social Albert Einstein, comparou esses dois modelos de cuidado e oferece subsídio para a discussão sobre a forma de implantação do acesso avançado na APS, visto que há pouco conhecimento acumulado sobre o assunto.
A experiência foi desenvolvidas em duas UBS do bairro de Campo Lindo, zona Sul de São Paulo. Ambas UBS trabalhavam com uma agenda programática por atendimento a grupos prioritários com oferta de vagas de demanda espontânea somente em determinados dias e períodos de tempo. O tempo de espera para consulta médica era de 45 dias, o que gerava uma alta taxa de absenteísmo; uma alta procura por serviços de urgência e emergência e um atendimento realizado por diferentes profissionais com respostas a queixas pontuais e desarticuladas de um plano de cuidado, pois o atendimento nem sempre era realizado pela equipe de referência dos usuários.
Depois de ampla discussão entre os profissionais de saúde sobre a reorganização do processo de trabalho, a UBS A optou em ampliar o acesso dos usuários por meio do modelo de acesso avançado. Já a UBS B decidiu prosseguir utilizando o MACC porém mais flexível, um modelo de agenda para médicos e enfermeiros que contemplasse cinco grupos prioritários para agendamento programático (hipertensos; diabéticos e saúde mental, criança e gestante) mas mesclando horários para o atendimento de demandas do dia, onde qualquer usuário poderia ser atendido, pertencentes ou não aos grupos prioritários.
Os resultados mostraram que quando comparado a UBS A com a UBS B, a estratégia de organização da UBS B, que priorizou em um primeiro momento a organização da agenda e oferta de serviços para usuários crônicos, apresentou crescentes percentuais de ampliação do acesso. A equipe se organizou, de acordo com o perfil do território, para que o usuário em condição crônica tenha assegurado o seu cuidado, visto que esta era, anteriormente, uma das queixas mais frequentes de busca do atendimento em demanda espontânea. A partir da reformulação da agenda, as vagas disponíveis da consulta do dia passaram para os outros usuários.
A UBS A tem destaque na ampliação do acesso por meio da abertura de vagas para o atendimento no dia, o que reflete no menor uso dos serviços de urgência e emergência, mas ainda tem desafios com o usuário “hiperutilizador”, o que pode ser um dos limitadores para a ampliação para o atendimento de pessoas distintas. Além disso, no que se refere à garantia do cuidado continuado dos pacientes crônicos, observa-se a necessidade de melhorias tecnológicas com a introdução do modelo de acesso avançado, como o desenvolvimento de ferramentas que auxiliem as equipes de saúde no monitoramento dos crônicos e que estejam disponível as equipes, de forma oportuna, no momento do atendimento.
Experiência comparou acesso avançado ao Modelo de Atenção às Doenças Crônicas Não Transmissíveis – MACC-DCNT.
Equipe de Saúde da Família de São Paulo-SP em Campo Lindo Zona Sul de São Paulo.
Campo Limpo possui 227.235 habitantes. O Índice de Desenvolvimento Humano da região é de 0,783 e a principal causa de óbito é por doenças isquêmicas do coração e doenças cerebrovasculares, seus coeficientes de mortalidade são 62,4 e 40,5, respectivamente. A maioria da população é SUS dependente (58,9%), feminina (52,1%), com apenas 11,3% de idosos e com 28,4% de adolescentes, o fenômeno da gravidez antes dos 20 anos destaca-se, comparado ao município de São Paulo. A região possui um alto taxa de homicídio juvenil (63,59 por 100.000 habitantes).
A Experiência foi desenvolvida em duas unidades de Saúde de Campo Limpo, identificadas como Unidade Básica de Saúde – UBS A (Jardim Mitsutani) e UBS B (Jardim Helga), gerenciadas em uma parceria entre o Instituto Israelita de Responsabilidade Social Abert Einstein e prefeitura de São Paulo.
A UBS A é composta por 11 equipes de saúde da família, 1 Núcleo de Apoio de Saúde da Família (NASF), 3 equipe de saúde bucal, totalizando 140 profissionais que são responsáveis pelo atendimento de aproximadamente 55.000 mil pessoas (36.000 mil pacientes cadastrados).A UBS B composta por quatro equipes de saúde da família e um NASF atuando em de 18.000 mil pessoas (13.400 pessoas cadastradas). Ambas estão localizadas em uma região de vulnerabilidade e possuem perfis demográficos e epidemiológicos semelhantes. Estão em áreas urbanas, possuem favelas; áreas de ocupação; coleta de lixo; acesso à água filtrada e luz. As pessoas que moram mais distantes da Unidade possuem transporte público. A maioria da população é dependente do Sistema Único de Saúde e possui o benefício Bolsa Família.
Ambas as UBS apresentavam uma agenda programática por atendimento a grupos prioritários com oferta de vagas de demanda espontânea somente em determinados dias e períodos de tempo. O tempo de espera para consulta médica era de 45 dias, o que geravam: uma alta taxa de absenteísmo; uma alta procura por serviços de urgência e emergência e um atendimento realizado por diferentes profissionais com respostas a queixas pontuais e desarticuladas de um plano de cuidado, pois o atendimento nem sempre era realizado pela equipe de referência dos usuários. Assim, diante deste cenário, as UBS reorganizaram o seu processo de trabalho para ampliação do acesso de diferentes formas como serão apresentadas a seguir.
Iniciada em 01/04/2016
Na UBS A: de janeiro a abril de 2016 durante as muitas reuniões com as equipes de saúde, NASF, assistentes administrativos, apoiadores técnicos e gestor, foram feitas várias aproximações com a temática de melhoria de acesso. Neste espaço, os profissionais puderam discutir coletivamente, contribuir com experiências profissionais anteriores, tirar dúvidas; compartilhar angustia e propor sugestões para a reorganização do acesso na UBS. Foi utilizado nesses encontros o Canvas, que consiste em um modelo de gestão de projeto criado a partir de mapas mentais que facilita a participação de vários membros de uma equipe na construção de um produto final. Foram estruturadas as justificativas, objetivos, produto, premissas, requisitos, benefícios futuros; restrições e riscos da proposta do acesso avançado. Ao final, a equipe optou pelo modelo do Acesso Avançado, que busca pelo atendimento à necessidade do usuário no mesmo dia ou em até 48 horas. No início de 2017, as equipes passaram a ofertar 70 % das vagas de médicos e enfermeiros para atendimentos do dia e 30% para Agendamentos para crianças e gestantes.
Na UBS B: o processo de mudança ocorreu a partir do desenvolvimento de seis oficinas com todos os profissionais da UBS, entre março de 2016 a setembro de 2017, que trabalharam: redes de Atenção â Saúde; APS; territorialização; vigilância em saúde; abordagem familiar; organização dos processos de trabalho da Unidade e sistemas de informação e a análise da situação de saúde. Como um dos produtos oriundos das oficinas foi construído e iniciado em outubro de 2016 um modelo de agenda para médicos e enfermeiros que contemplasse cinco grupos prioritários, sendo eles: hipertensos; diabéticos e saúde mental, criança e gestante para agendamento programático, mesclando com horários para o atendimento de demandas do dia, onde qualquer usuário poderia ser atendido, pertencentes ou não aos grupos prioritários.
Foi necessário planejamento das escalas dos profissionais para o maior número de profissionais participarem dos encontros e nenhum setor na Unidade ficar descoberto. Assim como a seleção do material teórico para embasar as discussões. Recursos materiais: sala grande; datashow; computador; post it; flip chart; canetões; sulfite e todos os consultórios equipados para atender qualquer tipo de demanda. Foi instalado nos computadores da UBS A, o Hangout, ferramenta do Google para facilitar a comunicação entre os profissionais do serviço.
Na UBS A O indicador “Percentual de Consulta Dia’ em Janeiro de 2016 era de 37% passando a 65% no inicio do acesso avançado em 2017 e atingindo 90% em junho de 2018. Quando analisamos o “percentual de pessoas distintas’ atendidas no mesmo período, verificamos que ele é crescente no decorrer dos meses, mas vem caindo no decorrer dos anos (gráfico 1, anexo). Além disso, outro importante indicador é o “Índice de atendimento por condição de saúde avaliado’ que mensura a quantidade de atendimentos (médico e enfermeiro) realizados em relação â demanda das condições crônicas selecionadas (Hipertensão Arterial Sistêmica, Diabetes Mellitus, Obesidade e Depressão) existentes no território, e quando igual a 1 indica que para cada condição selecionada existente no território, foi realizado um atendimento, no período. Na UBS A este índice foi de 0,06 em janeiro de 2017(início do acesso avançado) e atingiu 0,09 em agosto de 2017, mantendo 0,05 em abril, maio e junho de 2018. A proporção de atendimentos gerados com os usuários nos serviços de urgência e emergência como a AMA diminuiu em 1,4% de 2016 (5,4%) a 2018 (4,0%) – gráfico 2.
Quando comparamos a UBS A com a UBS B, notamos que a estratégia de organização da UBS B, que priorizou em um primeiro momento a organização da agenda e oferta de serviços para usuários crônicos, apresenta crescentes percentuais de ampliação do acesso. A equipe se organizou, de acordo com o perfil do território, para que o usuário em condição crônica tenha assegurado o seu cuidado, visto que esta era, anteriormente, uma das queixas mais frequentes de busca do atendimento em demanda espontânea. A partir da reformulação da agenda, as vagas disponíveis da consulta do dia passaram para os outros usuários.
A UBS A tem destaque na ampliação do acesso por meio da abertura de vagas para o atendimento no dia, o que reflete no menor uso dos serviços de urgência e emergência, mas ainda tem desafios com o usuário “hiperutilizador”, o que pode ser um dos limitadores para a ampliação para o atendimento de pessoas distintas. Além disso, no que se refere à garantia do cuidado continuado dos pacientes crônicos, observa-se a necessidade de melhorias tecnológicas com a introdução do modelo de acesso avançado, como o desenvolvimento de ferramentas que auxiliem as equipes de saúde no monitoramento dos crônicos e que estejam disponível as equipes, de forma oportuna, no momento do atendimento.
As experiências contribuem com informações sobre a forma de implantação do acesso avançado, visto que não existem muitas experiências relatadas em território Nacional e que compare esse modelo com o modelo mais comumente adotado, de MACC, por exemplo. Foram construções desenvolvidas coletivamente com os trabalhadores e usuários, permitindo a reflexão sobre sua prática profissional e o desenvolvimento da cidadania. Ações como essas vão ao encontro dos princípios do SUS (Universalidade, Equidade e Integralidade) e os 4 Atributos Essenciais da APS (Primeiro contato; Longitudinalidade; coordenação do cuidado e Integralidade).
Ambas experiências têm potencial de expansão em territórios com perfis semelhantes. No próprio território, já possibilitaram a ampliação dessa discussão junto a outras 11 UBS de Campo Limpo, por meio de uma ação denominada “Qualifica APS”, que foi composta por seis oficinas de trabalho com gestores, apoiadores técnicos e enfermeiros responsáveis técnicos, com o objetivo de discutir e refletir sobre a prática atual de organização da agenda e os modelos existentes para a melhoria do acesso das demais UBS.
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |