Métodos
Estudo de abordagem quantitativa e qualitativa, utilizando-se para seu desenvolvimento a metodologia de pesquisa-ação. Este tipo de estudo tem por objetivo possibilitar aos participantes e pesquisadores, com maior eficiência e com base em uma ação transformadora, os meios necessários para responder a problemas que vivenciam na prática profissional (THIOLLENT, 2011).
Todas as etapas descritas a seguir foram realizadas pelo nutricionista residente pertencente ao Programa de Residência Multiprofissional em atenção hospitalar com ênfase em gestão do cuidado localizado no município de Garanhuns.
Desta feita, a população da pesquisa teve como base os profissionais que atuam no CAPS III do município de Garanhuns (n=14). No entanto, a amostra constituiu-se de 6 profissionais, os Técnicos de Referência. Foram incluídos no estudo os profissionais que atuavam no serviço por um período igual ou superior a três meses e que realizam grupos terapêuticos juntos aos usuários, este corte temporal foi definido pelos autores por se acreditar que este seja o tempo mínimo necessário para que esse TR tenha conhecimento das necessidades do serviço. Os critérios de exclusão abrangeram aqueles que não se enquadraram no recorte temporal, os profissionais que não realizam grupos terapêuticos e usuários que frequentam o serviço bem como seus respectivos acompanhantes.
Neste estudo os Técnicos de Referência do CAPS III foram introduzidos à temática da Educação Alimentar e Nutricional e, posteriormente, capacitados acerca de estratégias de EAN. O desenvolvimento da pesquisa foi executado em quatro momentos (planejar, agir, descrever e avaliar) conforme proposto por Tripp (2005).
Após um período de dois meses da realização da intervenção (capacitação e desenvolvimento e entrega da cartilha), os profissionais foram submetidos a aplicação de um novo questionário semiestruturado composto por duas questões (uma de múltipla escolha e outra com resposta semi aberta), com objetivo de avaliar se houve alguma dificuldade na realização das atividades propostas no material disponibilizado. As atividades a serem colocadas em prática constavam na cartilha disponibilizada e a sua frequência de realização bem como a quantidade de atividades realizadas nos grupos ficaram a critério dos TRs.
Para a análise dos dados utilizou-se o método de análise de conteúdo bem como a análise descritiva. Para a análise de conteúdo, optou-se por tomar como norteadoras deste estudo, as etapas da técnica propostas por Bardin (2011), uma vez que, é a obra mais citada em estudos qualitativos que se utilizam desse tipo de análise. Já para a análise descritiva, os dados referentes ao cabeçalho de identificação (sexo, idade, profissão, escolaridade, tempo de atuação no CAPS, turno de trabalho/carga horaria) foram tabulados em planilhas do Microsoft Excel 2016©, para a elaboração de frequências relativas e absolutas das variáveis de pesquisa. As informações foram agrupadas e dispostas em tabelas com o objetivo de coletar dados específicos do trabalho.
Resultados
O grupo investigado foi composto por um homem (16,67%) e cinco mulheres (83,33%), com idade média de 39,8 anos. Com relação à escolaridade, um possuía ensino médio completo e cinco, ensino superior completo. A respeito da atividade laboral, exerciam suas atividades como TR no CAPS III por um período que variou de oito meses a 10 anos, a maioria com mais de dois anos, o que indica boa experiência dos mesmos e provável engajamento com a proposta pós reforma psiquiátrica e com a saúde mental; com carga horária variando entre 20 a 40 horas/semanais. Ademais, os TRs foram questionados, na etapa 1, sobre quais as principais queixas relacionadas a Alimentação e Nutrição que os usuários mais apresentam e/ou relatam durante a realização dos grupos terapêuticos e observou-se que de acordo com o apontado pelos profissionais, grande parte dos usuários demonstram queixas relacionadas ao consumo alimentar e ao ganho excessivo de peso.
Com base nas questões de resposta aberta e semi aberta apresentadas no questionário aplicado na etapa 1, construíram-se duas categorias, fundamentadas na análise de conteúdo (BARDIN, 2011): 1 – “Percepção dos profissionais acerca do conceito de EAN” e 2 – “A utilização da EAN na prática dos profissionais”.
Categoria 1 – Percepção dos profissionais acerca do conceito de EAN:
No questionamento sobre o que entendem por EAN, todos os TRs relataram que já ouviram falar e/ou já se depararam com o tema durante o exercício profissional. Porém, apesar disso, verificou-se nas respostas emitidas pelos profissionais a presença de uma ideia central: a de que os profissionais, apesar de terem contato possuem uma percepção equivocada acerca do conceito de EAN (relacionando-a preferencialmente com a ingestão de nutrientes e a um modelo biomédico).
Categoria 2 – A utilização da EAN na prática dos profissionais:
Dos TRs pesquisados, 66,67% (n=4) afirmaram já terem utilizado estratégias de EAN em sua prática profissional no CAPS III. Apesar de a maioria dos profissionais terem afirmado trabalhar a temática de alimentação e nutrição junto aos usuários durante os grupos terapêuticos, o ideal seria que todos trabalhassem periodicamente com o tema e que este fosse trabalhado de forma transversal e não somente como prática isolada. Cabe ressaltar que os profissionais apontaram a utilização da Educação Alimentar e Nutricional principalmente quando há o aparecimento de inquietações durante a realização dos grupos terapêuticos e escutas individuais, ou seja, a demanda muitas vezes parte do usuário, não sendo antecipada pelo profissional.
Realização de atividade de educação permanente em saúde junto aos TRs:
Em novembro de 2021, no espaço físico do CAPS III, ocorreu a realização de capacitação junto aos Técnicos de referência do serviço acerca das estratégias de EAN apresentadas. Esse momento preencheu as lacunas observadas nos discursos presentes nos questionários, com vistas a aprofundar o conhecimento dos profissionais para temas relacionados à alimentação e nutrição e fomentar a educação permanente em saúde.
Estratégias recomendadas para utilização nos grupos terapêuticos junto aos usuários do CAPS:
Semáforo da alimentação;
Reconhecendo os alimentos através dos sentidos;
O que é o que é?;
Trabalhando com sementes;
Vamos às compras?;
Relacionando as frutas/chás e seus benefícios;
Alimentação saudável;
Classificação dos alimentos;
A influência da mídia na alimentação;
Sal, açúcar e óleo nos alimentos.
As atividades propostas consideraram o conceito da EAN abordado anteriormente para seu desenvolvimento, priorizando a fácil execução e a utilização de baixo recurso financeiro, tendo em vista as condições socioeconômicas dos usuários e dos TRs e a escassez de recursos no próprio local de desenvolvimento da pesquisa, objetivando minimizar os entraves que poderiam ocorrer no decorrer do planejamento e execução das práticas propostas.
Apresentação da cartilha e processo avaliativo:
Como produto obtido a partir da capacitação realizada junto aos Técnicos de Referência do CAPS III elaborou-se uma cartilha que abordou os mesmos eixos trazidos na capacitação, por considerá-los norteadores, para que os TRs pudessem conduzir as estratégias de EAN da forma adequada. O material construído teve como título “Ações de Educação Alimentar e Nutricional no âmbito da Saúde Mental”. A cartilha foi realizada em tamanho A4, possuindo 25 páginas, com imagens ilustrativas coloridas e quadros explicativos.
Como observações dos profissionais durante a apresentação da cartilha, destaca-se primordialmente a necessidade que os usuários têm de serem cuidados e vistos como indivíduos para além do sofrimento psíquico e que este material possibilita o reconhecimento desses indivíduos enquanto sujeitos de direito.
Após um período de dois meses desde a realização da intervenção (capacitação e desenvolvimento e entrega da cartilha), os profissionais participantes foram questionados acerca das possíveis dificuldades encontradas na prática para a realização das estratégias de EAN junto aos usuários.
Do grupo de seis TRs investigados, 66,67% (n=4) afirmaram que conseguiram executar alguma das estratégias contidas no material disponibilizado sem nenhuma dificuldade. Os profissionais incluíram em seu processo de trabalho rotineiro a realização de uma das atividades sugeridas, não sendo necessário o usuário trazer a demanda durante a realização do grupo terapêutico. A outra parcela (33,33%) relatou não ter conseguido realizar o proposto pelo material por falta de tempo (n=2) e insegurança acerca da temática abordada (n=1).
Nessa perspectiva, pode-se inferir que de forma geral a intervenção proposta foi bem sucedida e o tema abordado foi bem absorvido pelos profissionais que participaram da capacitação, embora uma parcela ainda tenha apresentado dificuldades.