METODOLOGIA
A pesquisa em questão foi desenvolvida com alunos das 1as, 2as e 3as séries do Ensino Médio na Escola Estadual de Tempo Integral Professora Lecita Fonseca Ramos, localizada no bairro Monte das Oliveira zona norte de Manaus no Estado do Amazonas.
– Aprendizagem
Estudo das temáticas Horta PANC, agrofloresta e agroecologia, através de artigos científicos, vídeos e orientações com Professores, identificação por meio da morfologia e outros aspectos botânicos com tutoria do Professor de Biologia. Aprendizagem em pares onde aluno ensina aluno, desenvolvendo habilidades cognitivas e socioemocionais, aprendizagem baseada em projetos.
– Plantio e semeadura
Propagação dos espécimes já cultivados, por estacas ou sementes de ora-pro-nobis, chicória da amazônia, clitória, jambú e hibiscos (Pereskia bleo, Eryngium foetidum, Clitoria ternatea, Spilanthes oleracea e Hibiscus sp.). Verificação e identificação de PANC presentes em domicílio e/ou na comunidade, propagação das mudas por estaquia ou semente, para inserção na horta escolar. Iniciar o sistema agroflorestal, escolha da área, preparo do solo, inserção de matéria orgânica (folhas secas e resíduos orgânicos provenientes do refeitório escolar) e plantio de mudas e semeadura direta.
– Popularização das PANC na Escola
Produção de pratos gastronômicos em laboratório escolar, abordando sobre origem, informações nutricionais, formas de uso e benefícios para saúde; na etapa subsequente as PANC são adicionadas ao almoço escolar. Divulgação da oficina “Cozinhando PANC na Escola” nos perfis do Instagram do Inutilidades Filosóficas e EETI Prof.ª Lecita F. Ramos, doações de mudas, orientando quanto ao cultivo, propagação e formas de uso.
RESULTADOS
No ano de 2021, em fevereiro com a volta às aulas, o projeto encontrou um impasse devido ao crescimento de ervas daninhas e plantas ruderais nos canteiros e chão da horta, com isso alunos das primeira, segunda e terceira séries tiveram de realizar capinas, podas e preparo do solo; algumas plantas brotaram e germinaram espontaneamente sendo está uma característica das PANC. Em março com avanço da Pandemia da Covid-19 causada pelo SARS-Cov-2, as aulas presenciais foram suspensas, passando para o ensino remoto e posteriormente em agosto com ensino híbrido, quando foi possível dar continuidade as atividades; algumas plantas se perderam no processo, no entanto, elas foram utilizadas para produzir adubo para as novas mudas.
Durante o período de ensino híbrido foram identificadas nos domicílios dos discentes e introduzidas na horta e agrofloresta, mudas dos seguintes espécimes, 8 mudas de taioba (Xanthossoma taioba), 10 begônia (Begonia cucullata), 14 cariru (Talinum paniculatum) e 5 alfavacas cravo (Ocimum gratissimum), 7 capeba amazônica (Piper peltatum), 4 cana do brejo (Costus spicatus), 4 cipó alho (Mansoa alliacea), as quais foram plantadas na horta convencional e outras no sistema agroflorestal visando a recuperação do solo.
Quadro 1 – Plantas Alimentícias Não Convencionais, identificadas e introduzidas no espaço verde escolar.
Nome científico Nome Popular Local (AM)
Xanthossoma taioba Taioba
Aeollanthus suaveolens Catinga de mulata
Begonia cucullata Begônia
Piper peltatum Capeba (Amazônica)
Costus spicatus Cana do brejo
Talinum triangulare Cariru
Mansoa alliacea Cipó alho
Ocimum gratissimum Alfavaca cravo
Pereskia bleo Ora-pro-nobis
Eryngium foetidum Chicória (da Amazônia)*
Clitoria ternatea Clitoria
Spilanthes oleracea Jambú
Hibiscus sabdariffa Vinagreira
Hibiscus rosa-sinensis Papoula variegata
*Considerada PANC nas demais regiões do Brasil
Sob a tutela do Professor, os discentes realizaram a manutenção da agrofloresta e da horta escolar com a revitalização dos canteiros, através da criação e do plantio de novas mudas de plantas alimentícias não convencionais, utilizando materiais recicláveis e de fácil acesso como garrafas pet. O cultivo se mostrou satisfatório e produtivo, parte dessa colheita foi direcionada a complementação do almoço escolar diário oferecido pela Escola Estadual de Tempo Integral Professora Lecita Fonseca Ramos, outra parte foi utilizada na oficina “Cozinhando PANC na Escola”, nesta etapa do projeto os alunos veteranos produzem os pratos para degustação e apresentam aos discentes do primeiro ano do ensino médio, todos feitos com as PANC colhidas nos espaços verdes escolar; até o presente foram reproduzidas 14 receitas conforme Quadro 2. Através da confecção destes pratos os educandos puderam adquirir conhecimentos de temática PANC além de serem sensibilizados sobre questões como hábitos alimentares saudáveis, introdução de plantas não convencionais na alimentação diária e procura de soluções criativas e inovadoras na resolução de problemáticas atuais.
Quadro 2 – Pratos produzidos pelos discentes no decorrer do projeto.
ANO LETIVO
PRATOS DE 2021
Limonada com clitória
Mousse de begônia
Farofa de ovo com ora-pro-nobis
Picadinho com Taioba
Arroz com catinga de mulata e jambú
Bala de hibisco com maçã
PRATOS DE 2022
Feijoada com taioba
Risoto com capeba amazônica
Omelete com ora-pro-nobis
Suco detox com cana do brejo
Pudim com hibisco variegata
Tapioca com cana do brejo, cipó alho, cosmos e ora-pro-nobis
Iogurte de hibisco variegata
Salada com capeba, clitória e vinagreira
A Escola tem solo bastante compactado, pobre em nutrientes e absorve muita água, o que é comum uma vez em que boa parte das escolas das proximidades tem solo de aterro; deste modo aliar o modelo de cultivo agroflorestal a horta PANC, constituiu-se uma estratégia a ser empregada para recuperação da área, permitindo sua exploração na aplicação de atividades educacionais e práticas sustentáveis. Com inverno amazônico boa parte dos nutrientes lixivia e o solo tornasse ácido novamente, os alunos realizam a adubação, calagem e cobertura vegetal, o que disponibiliza matéria orgânica, nutrientes e regula o Ph do solo.
O espaço verde escolar tem recuperado através do plantio o total de 279 m2 de área, sendo 100 m2 em plantio de horta convencional, 155 m2 em transição para o sistema agroflorestal, que está em fase primária, possuindo até o presente uma área com 24m2, a intenção é expandir este sistema para as demais áreas da escola. Em 2021, durante o período de ensino híbrido 232 alunos participaram da oficina o total de alunos matriculados eram de 435, as oficinas não atingiram o público total, devido a outra parcela dos discentes permanecerem em ensino remoto; no primeiro semestre de 2022 as oficinas alcançaram 195 discentes do total de 415, a expectativa é que até o final do próximo semestre todos tenham participado; atualmente o projeto conta com total de 12 espécies consideradas PANC na região Norte do Brasil (Quadro 1).
O preparo de plantas não convencionais na alimentação escolar diária é feito pela equipe de cozinha, realizando a implementação alimentar junto com plantas convencionais, o que têm proporcionado o aumento nos valores de cálcio, magnésio, potássio, fósforo, ferro, vitamina C e vitaminas do complexo B, além de dobrar o valor de fibras e proteínas ingeridas pelos estudantes, e por serem cultivadas dentro do próprio ambiente escolar geram uma reserva financeira que pode ser reinvestida na elaboração de outros projetos, além de proporcionarem aos educandos aulas dinâmicas com abordagem de conteúdos interdisciplinares como saúde, meio ambiente, ecologia, bioeconomia, agronomia, logística e gastronomia.
Através destas aulas e de grupos de estudos feitos pelos próprios alunos, eles compartilham ideias, discutem e desenvolvem soluções treinando suas habilidades, após esses processos replicam esse conhecimento para outras turmas e também para comunidades fora do ambiente escolar, incentivando o cultivo e consumo de PANC e os benefícios a partir de hábitos alimentares saudáveis.