Como dito anteriormente, o Programa de extensão com interface na pesquisa tem várias ações, assim, apresentaremos dos resultados obtidos até o momento.
1) Avaliação da presença da EAN no currículo escolar: foi realizada por meio da aplicação de questionários on-line direcionados aos supervisores pedagógicos, identificamos se e como a EAN tem sido trabalhada no ensino público da comarca de Diamantina/MG. Responderam a esse questionário 81 supervisores pedagógicos (55,10%). A maioria trabalha na sede do município de Diamantina/MG (50,6%), em escolas municipais (77,8%) e na área urbana (80,2%). A maioria informou que a Alimentação e Nutrição (A&N) tem sido explorada no ensino das escolas públicas da comarca (97,5%), nas diferentes disciplinas (90,1%) e nas suas diferentes dimensões (80,2-86,4%). No entanto, um percentual importante (35,8%) relatou que os professores têm dificuldade em trabalhar esse tema na sala de aula. Assim, percebemos que a A&N tem sido abordada no currículo escolar das escolas públicas da comarca deste município, embora exista algumas limitações a serem superadas, sobretudo, em relação aos recursos e materiais didáticos adequados para esse trabalho.
2) Avaliação e monitoramento do consumo da alimentação oferecida na escola e se levam lanche e qualidade dos lanches: para esta avaliação foram aplicados questionários estruturados aos escolares do ensino fundamental I (3º ao 5º ano). A classificação dos lanches foi avaliada a partir de grupos alimentares conforme recomendações de Matuk et al. e do Guia Alimentar para a População Brasileira.
A avaliação no ano de 2019 foi realizada apenas com discentes da sede de um dos municípios, totalizando 223 escolares avaliados. Destes, a maioria estuda no período matutino (n=186, 83,4%). Em relação aos anos escolares, 43,9% estavam cursando o 5º ano, 35,9% o 4º e 20,2% o 3º ano. Quando questionados se consumiam a alimentação servida na escola, 52% afirmaram consumir “às vezes”, 41,7% “sim” e 6,3% “não”. Sobre a frequência de consumo; entre os escolares que responderam “sim” ou “às vezes”; 40,4% citaram consumir “todos os dias”, 33,6% de “3 a 4 vezes por semana” e 26% de “1 a 2 vezes na semana”. Quando questionados sobre a satisfação com a alimentação servida na escola, 47,1% (n=105) disseram gostar do que é servido, 47,1% (n=105) disseram gostar de vez em quando e 5,4% disseram não gostar. Entre aqueles que relataram consumir a alimentação servida na escola, incluindo aqueles que citaram “às vezes”, 84,5% citaram repetir. Os resultados indicam que os escolares das escolas municipais da cidade de Diamantina apresentam consumo da alimentação escolar aquém do esperado, visto que grande parte não consome, e entre os que consomem a frequência é relativamente baixa. Indicando, portanto, necessidade de intervenção no sentido de entender melhor os dificultadores do consumo, e tentar disponibilizar refeições que atendam às exigências do PNAE, as preferências dos escolares e que estejam dentro do recurso disponibilizado pelo município e governo federal.
Nessa avaliação, os mesmos escolares foram questionados sobre o consumo de lanches trazidos de casa. Dos 223 respondentes, 46,2% citaram levar lanches todos os dias para consumir na escola, 15,7% citaram levar entre 3 a 4x/semana e 15,7% levar entre 1 a 2x/semana. Dentre os lanches citados, os mais frequentes foram respectivamente biscoito recheado (n=131; 58,7), bala, pirulito e chiclete (n=120; 53,8), frutas (n=110; 49,3%), biscoito wafer (n=110; 49,3%) e salgadinho de pacote (n= 104; 46,6%). Neste ano de 2022, já realizamos esta avaliação, no entanto, os dados não foram ainda analisados. A composição dos lanches dos escolares avaliados os colocam em risco nutricional, visto que são ricos em açúcar de adição, sódio, gorduras e ácidos graxos trans, e isso pode impactar negativamente na saúde, favorecendo o excesso de peso, dislipidemia, diabetes dentre outras. Sinaliza necessidade de ações de educação nutricional para preferência pela alimentação escolar e/ou escolhas de lanches mais saudáveis.
3) Avaliação antropométrica dos escolares: Para a avaliação e monitoramento da situação nutricional dos escolares do fundamental I, estes foram submetidos à aferição de peso, altura e circunferência da cintura. A avaliação no ano de 2019 indica que um total de 3572 escolares foram avaliados. Desses, 76,6% estavam com eutrofia, 2,3% com magreza e 21,2% com excesso de peso, dos quais 13,8% estavam com sobrepeso e 7,4% com obesidade. Quando avaliado por sexo, o excesso de peso foi mais prevalente entre os meninos (n=409, 23,6%) e entre os com idade superior a 5 anos (n=702, 24,6%). Quando comparado por municípios, a prevalência de excesso de peso foi de 33,3% em Monjolos, seguida de 32,4% em Gouveia, 22,1% em Senador Modestino Gonçalves, 20,2% em Presidente Juscelino Kubitschek, 20,0% em Datas, 18,1% em Diamantina, 17,1% em São Gonçalo do Rio Preto, 16,6% em Couto Magalhães de Minas e 16,2% em Felício dos Santos. Os resultados confirmam o que pesquisas nacionais têm identificado, as crianças brasileiras estão passando por transição nutricional. A prevalência de obesidade e sobrepeso foi elevada, estes resultados podem se constituir em subsídios para o planejamento de ações efetivas de saúde pública para esse grupo. A coleta dos dados de 2022 foi realizada na maioria dos municípios, no entanto, em alguns deles estamos ainda realizando a aferição.
4) Análise quali quantitativa das refeições servidas na escola: a avaliação qualitativa dos cardápios servidos nas escolas foi realizada por meio do Índice de Qualidade da Coordenação de Segurança Alimentar e Nutricional (IQ COSAN) e por meio das diretrizes preconizados pela classificação NOVA, segundo o nível de processamento dos alimentos. Esta análise foi realizada em apenas um município da comarca no ano de 2019. O resultado da análise qualitativa indicou pontuação na categoria “necessita de melhorias”. A análise quantitativa revelou que para ambos, alunos da pré-escola e do ensino fundamental I, os cardápios apresentaram respectivamente inadequações em relação a alguns nutrientes, sendo eles: ferro (66,0% x 73,3%), fibras (63% x 53,66%), cálcio (61,1% x 48,3%) e retinol (39,7% x 31,7%). Apenas lipídeos, magnésio, zinco e vitamina C atingiram o percentual estabelecido como adequado pelo PNAE. Os cardápios não atenderam à recomendação de proteínas e carboidratos. Quanto ao nível de processamento, observou-se que 25% dos alimentos foram classificados entre processados e ultraprocessados, e o aceitável é até 20%. Os cardápios avaliados não atenderam completamente às recomendações preconizadas na Resolução do PNAE avaliadas pelos parâmetros IQ COSAN, Plan PNAE e classificação NOVA. Esse resultado sinaliza necessidade de verificar os motivos que levaram à inadequação no planejamento dos cardápios e sobretudo estimular que a resolução do PNAE que regulamenta a alimentação escolar seja atendida, e que a secretaria de educação do município esteja comprometida com a segurança alimentar e nutricional dos escolares atendidos pelo PNAE.
Neste ano de 2022, a mesma análise está sendo processada, e já foram avaliados os aspectos qualitativos de 46 cardápios semanais de 6 municípios da Comarca de Diamantina. Nesses municípios os cardápios foram agrupados conforme faixa etária (crianças menores ou maiores de 3 anos de idade), considerando as peculiaridades propostas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), para os cardápios de cada faixa etária. Essas escolas servem de uma a duas refeições diárias para crianças maiores de 3 anos e de duas a cinco refeições para menores de 3 anos de idade. Foi detectado que em 15% dos cardápios são fornecidas frutas in natura ou verduras, menos que duas vezes na semana. 11% possuem preparações doces (bolos e pães doces), produtos ultraprocessados (pão de forma) ou alimentos proibidos (alimento em pó para reconstituição). 35% dos cardápios foram identificados de forma geral como “precisa de melhoras” e um cardápio foi classificado como “inadequado”.
Ainda foi identificada a baixa diversidade de alimentos, em 22% dos cardápios e 17% não possuem alimentos regionais. A inadequação mais observada foi quanto à presença de alimentos da sociobiodiversidade, uma vez que 48% dos cardápios não apresentavam nenhum alimento da sociobiodiversidade local. Para as crianças menores de 3 anos de idade foi observado que 100% dos cardápios ofertam alimentos fontes de ferro heme e 88 % ofertam frutas in natura e alimentos fontes de vitamina A, tal como é preconizado nas Resoluções CD/FNDE nº 06/2020 e nº 20/2020. Esses dados serão redigidos na forma de Relatório informativo para cada município, buscando reestruturação dos cardápios, de forma a corrigir os principais aspectos negativos aqui relatados, e melhorar a qualidade da alimentação ofertada no ambiente escolar.
5) Elaboração e validação de um livro de EAN: esta demanda partiu da necessidade de um material educativo direcionado aos docentes que atuam no ensino fundamental I, cujo intuito foi auxiliá-los a inserir o tema alimentação e nutrição com intenção de EAN no ensino de maneira transversal e interdisciplinar. Esse livro foi construído, validado e impresso com recurso do Procon/MG e foi distribuído para todos os docentes e supervisores pedagógicos das escolas públicas da Comarca de Diamantina. A sua versão on-line está disponível no site do CRN9 e também está disponibilizada no curso de EAN que oferecemos (ANEXO). E, neste ano de 2022, o livro tem auxiliado os professores na inclusão da EAN no ensino de forma transversal.
6) Curso on-line de EAN: entendendo a necessidade de formação dos profissionais da educação, foi desenvolvido um curso on-line e gratuito de formação em EAN direcionado a professores, supervisores pedagógicos que atuam na educação básica e nutricionistas vinculados ao PNAE. Esse curso foi oferecido por meio da plataforma Moodle, no ano de 2021 e está em sua segunda versão neste ano de 2022.
Na avaliação da sua primeira versão um total de 121 cursistas responderam ao questionário, destes 69,4% relataram que o curso foi muito necessário, 29,8% necessário e 0,8% desnecessário; quando questionados sobre a contribuição do curso para formação em EAN, 50,4% citaram como importante, 48,8% como muito importante e 0,8% irrelevante; sobre a carga horária do curso e conteúdos trabalhados, 58,7% responderam como adequados, 25,6% suficiente, 5,8% aceitável e 3,3% regular. Em relação ao método de ensino utilizado, a sequência das informações e organização dos conteúdos 66,1% responderam excelente, 33% bom e 0,8% ruim. Sobre a percepção referente à plataforma no qual o curso foi disponibilizado e os recursos utilizados, 57,8% citaram como excelente, 41,3% como bom e 0,8% ruim. Quando perguntado se os temas trabalhados no curso irão auxiliá-los na inclusão do tema EAN no currículo escolar de maneira transversal e interdisciplinar, 80,2% responderam “com certeza”, 19,8% “muito provável”. Sobre o nível de aprendizado proporcionado pelo curso, 57% relataram que é muito bom, 41,3% excelente e 1,6% fraco. Os resultados indicam que a percepção dos cursistas sobre o curso on-line de EAN é que ele foi muito satisfatório em todos os quesitos avaliados: conteúdo, organização, carga horária, plataforma e conhecimentos adquiridos. Esperamos que as informações compartilhadas no curso possam ser colocadas em prática nos diferentes cenários nos quais os cursistas trabalham, e que, de fato, a EAN possa ser trabalhada de forma interdisciplinar e transversal nas escolas como estratégia para promoção da alimentação adequada e saudável.
7) Mídia social: citamos ainda a criação da página no Instagram do programa, nela temos publicado as nossas principais ações e temas de interesse da alimentação escolar.