1. Identificação da experiência

Projeto Epa de Saúde Mental na Atenção Primaria em Saúde

País

1.2 Autores do relato

Nome
Paulo Fernando Macieira Peixoto Filho
GISELE SANTOS COELHO

1.3 Identificação do autor responsável pelo contato durante o processo de seleção

Nome
Paulo Fernando Macieira Peixoto Filho

1 4 Tema do relato

A1 - Formação e Educação Permanente para a participação social
Experiências e prática participativas que abordem elementos culturais e promoção da saúde, elaboração de diagnósticos situacionais, de prevenção e de vigilância em saúde

1.6 Município(s) onde a experiência se desenvolve/desenvolveu

Município
São Caetano de Odivelas

1.7 Estado onde a experiência se desenvolveu:

Pará

1.8 Instituição onde a experiência se desenvolve/desenvolveu (serviço/instituição): *

Centro de Saúde de São Caetano de Odivelas - Secretaria Municipal de Saúde

1.9 Data de início da experiência

19 abril , 2022

1.10 Data de fim da experiência

31 dezembro , 2024

2. Relato da experiência

2.1 Contextualização/introdução: Conte sobre sua experiência, onde ela ocorreu ou ocorre, quais os serviços ou instituições envolvidas, quem são os atores, a quem ela se dirige, quem os apoiou

O município de São Caetano de Odivelas, fica localizado na região do Salgado do Estado do Pará, sendo criado em 05 de Abril de 1872, com população de aproximadamente 18.000 habitantes, tendo como características econômicas o extrativismo animal, pesca e turismo receptivo. A cidade conta ainda com uma cultura e folclore locais muito fortes com danças, pierrôs, alegorias chamadas de cabeçudos, pintura, artes plásticas, no que se convencionou chamar de Odivelismo. O Projeto EPA de Saúde Mental na Atenção Primária em Saúde é uma resposta territorial da Prefeitura da cidade, através da criação de um dispositivo de cuidados em saúde mental, sediado no Centro de Saúde local, com equipe própria, composta por psicólogo, psiquiatra, enfermeira, assistente social e todos os amigos do EPA, porém vascularizado em toda rede de saúde (ESF, SAMU, Hospital), mas também equipamentos da assistência social como CRAS, CREAS e outros serviços de outras políticas públicas como educação e cultura, entre outras, que compõe a RAPS do município. O Projeto EPA é uma homenagem ao juiz criminal odivelense Cláudio Rendeiro, que foi o paladino no Estado do Pará, no processo de desinternação de pacientes psiquiátricos em conflito com a lei, esquecidos por décadas no Hospital de Custódia do Pará. O nobre magistrado, no entanto, foi reconhecido não como juiz, mas sim como comediante, através de seu personagem Epaminondas Gustavo, um arquétipo do caboclo paraense, de onde deriva a expressão de batismo do Projeto EPA e que nos deixou precocemente, após infecção por COVID 19, antes do início da campanha de imunização do país. Os EPA tem como princípios a Reforma Psiquiátrica e a Política Nacional de Humanização do SUS, sendo o resultado direto do trabalho de estímulo ao protagonismo dos usuários do município para sua criação em 19/04/22 e que conta hoje com mais de 700 pessoas acolhidas entre crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, inclusive pessoas que fazem uso problemático de AD, em atividade nas linhas de cuidado que compõe o Projeto Terapêutico do serviço, com funcionamento de segunda a sexta feira em horário integral.
2.2 Justificativa: o que motivou a realização desta experiência/ Diagnóstico e análise do problema enfrentado
O Projeto EPA de Saúde Mental na Atenção Primária de São Caetano de Odivelas é, como dito acima o resultado do estímulo e empoderamento do controle social da cidade em questão. É importante destacar, que até o advento do EPA, todos os usuários de saúde mental do município de São Caetano de Odivelas eram obrigados, mesmo sem condições econômicas, a se deslocar, essencialmente para o CAPS TAUÁ, localizado em uma cidade distante de 47 km, com escassos recursos de transporte. Nesse sentido, os atendimentos e assembléias do Caps Tauá, foram a incubadora do Projeto EPA, de onde usuários de São Caetano, passaram a cobrar da administração pública uma resposta de cuidados na cidade de residência dos mesmos. Como o município ainda não possui o piso mínimo para implantação de um Caps, de acordo com a portaria 336/GM (2002), a alternativa foi apostar na saúde mental sem caps, isto é, sediada na atenção básica em saúde de São Caetano de Odivelas, mas costurada a muitas mãos, por toda rede de serviços que a prefeitura local dispõe, de maneira que as pessoas antes sacrificadas a buscar Atenção Psicossocial fora dos limites geográficos da cidade, hoje encontram acolhimento e cuidados de forma territorial e comunitária. De maneira que, mesmo futuramente o município possa ter um Caps, o EPA será o regulador de toda rede atenção psicossocial local, para que o Caps não seja mais um ambulatório, como tantos pelo rincões de nosso Brasil.
2.3 Objetivo(s) da experiência: o que está sendo feito
Os objetivos primordiais do Projeto EPA são: Oportunizar atenção psicossocial e cuidados em saúde mental a população odivelense, fato já alcançado, pois não há mais um usuário em atendimento fora do município. Desenvolver o EPA Itinerante, levando acolhimento e linhas de cuidado a população da vasta zona rural do município e com dificuldades de acesso a sede do município, já em andamento e já tendo chegado tanto a região de ilhas como de vilas e ramais isoladas geograficamente. Desenvolver projeto de educação permanente em saúde mental com todas as ESF, CRAS, CREAS, SAMU e outros atores sociais. Realizar matriciamento e atendimentos compartilhados com os serviços da RAPS do município, criados pelo processo de indução da implantação do Projeto EPA. Assegurar atendimentos especializados, inclusive com psiquiatra, visando a garantia de direitos previstos na Lei 10.216 - Lei da Reforma Psiquiátrica Brasileira.
2.4 Metodologia e atividades desenvolvidas: como a experiência se desenvolveu. Quais caminhos e que mecanismos foram escolhidos para desenvolver a experiência?
O projeto EPA tem como premissa os principios constitutivos do SUS, tendo no acolhimento e PTS seus principais elementos. Todavia dado o processo de implementação da Política Nacional de Humanização - O PTS, deixa de ser um instrumento prescritivo e passa a ser o resultado do conjunto de necessidades clínicas e desejos dos usuários. Pois o que nós importa, mais do que produzir saúde é produzir subjetividade e incluir na vida da cidade, com tudo o que ela dispõe. Dessa feita, após o acolhimento inicial é democraticamente erguido o conjunto de linhas de cuidado que o próprio usuário escolheu, de acordo com seus interesses e que o mobilizam para as mudanças necessárias. Daí em diante, a fluidez só processo vai se dando entre um e outro atendimento da equipe e o advento da noção de pertencimento de sua própria vida, para construir conosco a sua história.
2.5 Quais os resultados alcançados? O que foi transformado por meio da experiência? Os objetivos foram cumpridos? Se não, justifique. Apresentar dados ou outras evidências que comprovem que os objetivos foram atingidos
Todos os pacientes em atendimento em outros municípios já estão em atendimento no projeto EPA em seus 08 (oito) primeiros meses de funcionamento. Acolhimento de novos casos e construção de saídas possíveis no próprio território. Redução da taxa de crises - Antes do EPA (Média de 20 transferências/mês para internação em Belém). Após o EPA - Em 08 (oito ) meses de funcionamento, apenas 03 usuários foram encaminhados para internação em Belém em razão de comorbidades com uso de substâncias psicoativas. Em face do exposto, podemos afirmar hoje que os objetivos do Projeto EPA vem sendo alcançados, sendo mantido exclusivamente com recursos do tesouro municipal. Nesses meses, desde sua criação o Projeto EPA por sua ação transformadora e inaugural, já e considerado patrimônio da cidade e participa ativamente das agendas do município. https://fb.watch/hnlj60ZUlg/
2.6 Considerações finais: Importância da participação social para a solução do problema? Por que essa experiência foi importante?
A criação e funcionamento do dispositivo foi como citado acima resultado do estímulo ao protagonismo dos usuários, que é um dos princípios da Política Nacional de Humanização do SUS. Se o paradigma do suposto saber/poder se aplica ao modelo academicista, porque seria diferente na vidas das pessoas com sofrimento psíquico? O conhecimento de seus direitos levou dezenas de usuários, que tornaram-se mensageiros de seus próprios direitos. Hoje podemos afirmar, que o Projeto EPA é o herdeiro do Caps Tauá, já reconhecido em outros tempos de esperança pelo MS. A experiência foi importante e segue sendo importante, não somente na formação do controle social, mas sobretudo em sua sobrevivência, para que outras conquistas possam advir do imponderável ato daqueles que ainda hoje vivem sobre o estatuto da incapacidade e periculosidade.
2.7 Por que pode ser considerada inovadora?
Se desde a declaração de Alma Ata,a atenção básica em saúde é a porta de entrada do SUS, sendo postulado, com poder de resolver 85% dos problemas de saúde coletiva no mundo, resolvemos lançar a questão fundamental: Porque haveria de ser diferente com a saúde mental? Sabemos que em nosso país ainda hoje, um dos maiores desafios da Política de Atenção Psicossocial é assegurar seu lugar na atenção primária, ainda não reconhecida e vivendo do litígio, não sendo portanto, em grande parte do país, filha do matrimônio. O Projeto EPA então é uma aposta em não em doentes mentais, mas em pessoas. É uma aposta de uma saúde mental sem caps. É aposta de uma saúde mental do impossível. Aquela que se dá na Atenção Básica com resolutividade igual ou maior dos serviços de Média e Alta Complexidade, pois aprendemos desde Nise da Silveira que saúde mental se faz desejo, pois ele nos move. Que saúde mental se faz com afeto, pois ele é sempre revolucionário, em uma sociedade perversa, como nos disse Graciliano Ramos em Grande Sertão Veredas, "Um pouco de amor é sempre um descanso na loucura" Então porque é inovador? Longe de tecnicismos estamos sempre usando algo perdido, o amor e suas propriedades terapêuticas.
2.8 Quais as perspectivas de aplicação das práticas desenvolvidas em outros locais ou instituições? Análise das principais dificuldades e estratégias de enfrentamento. Lições aprendidas e recomendações.
Estamos realizando reuniões da Rede Epa de forma trimestral, com todos os atores das instituições envolvidas, sendo os principais óbices vinculados ao subfinanciamento do SUS para ampliação de nosso escopo de ações para que possa ocupar toda a cidade com estímulo ao pleno exercício de cidadania. Nesses primeiros meses de funcionamento, já estamos sendo reconhecidos pela SESPA e chamados para expor nosso delírio, de uma saúde mental com menos protocolo e mais cuidados.
2.9 Envolvimento e mobilização de instituições e parceiros na execução da experiência?
O projeto EPA conta com o financiamento da Prefeitura Municipal de São Caetano de Odivelas e suas respectivas secretarias em parceria com associações culturais da cidade.
3 Principais desafios persistentes (o que segue sendo desafio apesar da ação empreendida?)
A necessidade de iniciar a formação dos médicos clinicos em manejo e terapêutica psiquiátrica das ESF e Centro de Saúde, a ser realizado pelo psiquiatra do EPA em agenda definida para Fevereiro de 2023.
3.1 Quais ações de sensibilização, comunicação, informação, educação em saúde e educação permanente foram utilizadas?
Desde seu processo de implantação, ainda em janeiro de 2022, inícios o processo de educação permanente com toda rede, tendo em vista a implantação do Projeto EPA. Essas reuniões-se, sendo realizadas trimestralmente com todos os serviços no auditório da escola estadual Osvaldo Brito. https://fb.watch/hnkGwx4H5v/
3.2 Qual é a sustentabilidade da solução implantada (quais são as garantias de que a experiência é sustentável ao longo do tempo desde os pontos de vista técnico, político, financeiro, social, etc?)?
Foram realizadas reuniões para assegurar um contrato de gestão, com a participação de usuários e familiares, a equipe do projeto, prefeitura e secretária municipal de saúde, ficando acordado o financiamento através de contrapartida municipal, com cadastro de projeto no Plano Estadual de Saúde Mental para o orçamento referente ao demais exercícios a frente.
3.3 Campo para inserção de arquivo de imagens que retratem a experiência
3.3.1 Campo para inserção de arquivos de documentos produzidos relacionados à experiência.

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  • Produtos incluam organismos geneticamente modificados, agrotóxicos, fertilizantes sintéticos, bebidas e produtos comestíveis com altas concentrações de açúcar, gorduras, sal, energia, outros produtos ultraprocessados ou quaisquer outros produtos que necessitem ter sua demanda, oferta ou disponibilidade reduzida para melhorar a alimentação e a saúde da população;

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  • Práticas incluam: 1) Publicidade, promoção e outras estratégias mercadológicas que visem aumentar a demanda pelos referidos produtos e/ou promovam ou estimulem modos de comer não saudáveis, tais como comer excessivamente, comer sozinho, comer sem pensar, comer compulsivamente, comer rápido, ou modos de produzir alimentos pautados pelo uso de agrotóxicos e organismos geneticamente modificados, ou; 2) Lobby contra medidas legislativas, econômicas, jurídicas ou socioculturais que visem à redução da produção, abastecimento, disponibilidade ou demanda dos referidos produtos e/ou da exposição aos referidos modos não saudáveis de comer e produzir alimentos; e/ou cujas 3) Políticas, objetivos, princípios, visões, missões e/ou metas que incluam ou se relacionem com o aumento da produção, abastecimento, disponibilidade ou demanda dos referidos produtos e/ou com a expansão de oportunidades e promoção dos referidos modos não saudáveis de comer e produzir alimentos.

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