1. Identificação da experiência

Mulheres Cuidadoras na Atenção Psicossocial

País

1.2 Autores do relato

Nome
DANIELA COSTA BURSZTYN
FLAVIANE ROCHA DA SILVA VIEIRA
VANESSA FELISBINO
CINTIA MOREIRA DE SOUZA
FERNANDA FORTINI MACHARET

1.3 Identificação do autor responsável pelo contato durante o processo de seleção

Nome
DANIELA COSTA BURSZTYN

1 4 Tema do relato

A4 - Fortalecimento da relação ensino, pesquisa e participação social
Ações coletivas inovadoras que busquem transformações da saúde e seus determinantes sociais

1.6 Município(s) onde a experiência se desenvolve/desenvolveu

Município
Rio de Janeiro

1.7 Estado onde a experiência se desenvolveu:

Rio de Janeiro

1.8 Instituição onde a experiência se desenvolve/desenvolveu (serviço/instituição): *

Núcleo de Políticas Públicas em Saúde Mental do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NUPPSAM/IPUB/UFRJ)

1.9 Data de início da experiência

20 julho , 2021

1.10 Data de fim da experiência

20 dezembro , 2022

2. Relato da experiência

2.1 Contextualização/introdução: Conte sobre sua experiência, onde ela ocorreu ou ocorre, quais os serviços ou instituições envolvidas, quem são os atores, a quem ela se dirige, quem os apoiou

O Projeto de Pesquisa e Extensão Mulheres Cuidadoras na Atenção Psicossocial foi formulado a partir de ações de extensão desenvolvidas por estudantes, parceiras e pesquisadoras do Núcleo de Pesquisa em Políticas Públicas de Saúde Mental do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NUPPSAM/ IPUB/UFRJ). A partir de julho de 2021, durante a pandemia da COVID-19, foram criados grupos remotos de acolhimento e de apoio mútuo para mulheres cuidadoras de usuáries do Sistema Único de Saúde, em especial, dos serviços públicos de saúde mental; considerando a feminização do cuidado, a desigualdade de gênero e a sobrecarga de mulheres no cuidado familiar desvelada no cenário pandêmico. O projeto visa contribuir para a produção de protagonismo, empoderamento, autocuidado, mutualidade e solidariedade por meio de ações de acolhimento e apoio mútuo, de educação continuada, de autocuidado, lazer e cultura voltadas para mulheres cuidadoras. Tais ações visam, ainda, estreitar os laços entre as participantes e a equipe do projeto para a produção compartilhada de conhecimento como metodologia de pesquisa e intervenção em saúde. Destaca-se a integração entre cuidadoras, estudantes, pesquisadoras e profissionais de diferentes áreas de conhecimento, valorizando o saber prático e cotidiano das mulheres cuidadoras para a produção do conhecimento compartilhado no campo da atenção psicossocial. A composição da equipe formada por 10 mulheres - entre elas alunas graduandas de Psicologia, Musicoterapia, Serviço Social e Belas Artes da UFRJ, alunas da pós graduação e profissionais do IPUB/UFRJ e mulheres cuidadoras - expressa uma articulação estratégica entre Universidade, Serviços e Coletivos de Participação Social para a produção do conhecimento compartilhado, bem como para o desenvolvimento de metodologias participativas de pesquisa e intervenção, produzindo efeitos para a formação em saúde e para a construção de políticas públicas de amparo para mulheres cuidadoras.
2.2 Justificativa: o que motivou a realização desta experiência/ Diagnóstico e análise do problema enfrentado
O impacto da pandemia da Covid-19 no cotidiano das mulheres cuidadoras é um analisador estrutural para as ações desenvolvidas e, por isso, prevê a continuidade de coletivos de apoio mútuo diante da necessidade de oferta de acolhimento, suporte social, apoio entre pares, de informações e orientações, como linha de cuidado na atenção psicossocial. No cenário pandêmico dos últimos anos, o problema da sobrecarga das mulheres tem ganhado cada vez mais espaço e frentes de trabalho que incluem as redes de solidariedade. Diante da evidência de novos estudos realizados no Brasil envolvendo gênero e contexto pandêmico, como a pesquisa “Sem Parar: o trabalho e a vida das mulheres na pandemia” (BIANCONI, G.; LEÃO, N.; MORENO, T., 2020) nota-se a urgência do debate a respeito de gênero, raça, classe social e outros determinantes sociais de saúde para a produção do cuidado, especialmente para as mulheres. A pesquisa analisou os efeitos da pandemia e do isolamento social sobre o trabalho, a renda e o sustento financeiro, associando o trabalho doméstico e de cuidado realizado de forma não remunerada à intensificação da sobrecarga das mulheres. Portanto, é preciso desnaturalizar a sobrecarga do cuidado vivenciada pelas mulheres, muitas vezes inseridas em um cotidiano violento e adoecedor, além de promover iniciativas de cuidado levando em conta a participação social e as redes de apoio solidário. No campo da atenção psicossocial, a predominância de mulheres a frente do cuidado de usuáries dos serviços de saúde mental é bastante representativa da intensidade de sobrecarga associada diretamente ao gênero da cuidadora. A transformação do modelo comunitário de assistência em saúde mental tornou-se viável graças à participação social de familiares, que passaram a ser consideradas como um ponto estrutural de apoio na rede de atenção psicossocial. Ao integrar as famílias nos circuitos das ações em saúde, a política pública de saúde mental deve considerar o papel das mulheres no cuidado de pessoas com maior nível de dependência, bem como a necessária e urgente implementação de novas práticas e condutas para as cuidadoras no campo da saúde mental capazes de contemplar as reais necessidades e condições das cuidadoras em termos materiais, psicossociais, de saúde e qualidade de vida. Entende-se a sobrecarga das mulheres cuidadoras ancorada nos determinantes sociais da saúde relacionados à desigualdade de gênero que contribuem diretamente para a vulnerabilidade psicossocial. Por isso, a importância de discutir a relação entre gênero e cuidado no campo da atenção psicossocial, sustentando que o debate sobre a sobrecarga do cuidado não pode mais ser naturalizado como um papel que a sociedade impõe às mulheres.
2.3 Objetivo(s) da experiência: o que está sendo feito
Objetivo Geral: Apoiar e desenvolver ações de acolhimento e apoio mútuo, educação continuada, autocuidado, lazer e cultura para mulheres cuidadoras de (familiares, profissionais e usuárias) da rede pública de saúde mental, construídas de forma compartilhada com estudantes, trabalhadores e pesquisadores do campo da atenção psicossocial. Objetivos Específicos: 1. Produzir espaços de acolhimento para mulheres cuidadoras, a partir de grupos online e presencial, promovendo abertura para trocas de experiências, apoio e solidariedade entre as participantes; 2. Refletir sobre a importância do autocuidado das mulheres cuidadoras, destacando as estratégias de lida empregadas para a redução da sobrecarga do cuidado de pessoas com sofrimento mental; 3. Incorporar, como participantes das ações, profissionais da saúde e estudantes como multiplicadoras das ações propostas em diferentes serviços e coletivos; 4. Potencializar o protagonismo e o empoderamento das participantes para o avanço da saúde mental no SUS através de encontros de educação em saúde nas temáticas de saúde mental e gênero, direitos previdenciários, cuidados comunitários e redes solidárias de cuidado organizados a partir da experiência e do interesse das cuidadoras; 5. Valorizar o saber prático e cotidiano das mulheres cuidadoras para a produção do conhecimento compartilhado no processo de formação e pesquisa em saúde mental e construção de políticas públicas para cuidadoras familiares.
2.4 Metodologia e atividades desenvolvidas: como a experiência se desenvolveu. Quais caminhos e que mecanismos foram escolhidos para desenvolver a experiência?
Os conceitos norteadores do projeto se ancoram na diversidade transdisciplinar da literatura feminista, em especial para abordar os temas da inequidade de gênero em suas camadas interseccionais, da parentalidade, da feminização do cuidado e do protagonismo e participação social das mulheres na construção e fortalecimento das políticas públicas de saúde mental no Brasil. Durante todo o processo, do planejamento à ação, a equipe do projeto é estimulada a refletir sobre a especificidade técnica e conceitual das estratégias de cuidados em saúde voltadas para mulheres por meio do compartilhamento de experiências com as cuidadoras, de saberes interdisciplinares e de práticas interprofissionais que compõem o campo da atenção psicossocial. As ações se desenvolvem em três etapas contínuas e simultâneas embora previstas com metodologias específicas para cada fase. 1. Coletivo de Mulheres Cuidadoras : O Coletivo Mulheres Cuidadoras desenvolve encontros online, seguindo a metodologia de Grupos de Ajuda e Suporte Mútuo em Saúde Mental (VASCONCELLOS, 2013) adaptada ao formato remoto síncrono a partir de duas modalidades: Encontro de Acolhimento (mensal) e Encontros do Coletivo de Mulheres Cuidadoras (quinzenal), ambos realizados pela plataforma Google Meet. Na data previamente divulgada por card pelas redes sociais do projeto (www.instagram.com/mulheres.cuidadora e Whatsapp), as participantes recebem o link de acesso para o encontro através de seu contato pessoal (whatsapp), garantindo um ambiente seguro e protegido de trocas de experiências com voz, escuta, imagem e movimento. Os encontros costumam acontecer quinzenalmente de 15h-17h, contando com a participação de aproximadamente 30 mulheres por encontro e são mediados pela equipe do projeto, produzindo relatórios e conteúdos (previamente autorizados pelas participantes) para as redes sociais. O Coletivo Mulheres Cuidadoras se reúne quinzenalmente, mantendo um encontro aberto para o acolhimento de novas participantes e para a participação de profissionais de saúde/saúde mental e estudantes. O encontro mensal de acolhimento, portanto, se mantém aberto e rotativo permitindo a chegada de profissionais e estudantes da área da saúde/saúde mental, além de novas mulheres familiares que são recebidas pelas mulheres integrantes do Coletivo. O acolhimento é divulgado pelas redes sociais através de um link de acesso a um formulário (googleforms) para o cadastro inicial das interessadas, que podem se inscrever no grupo por demanda espontânea ou por indicação de amigas e de profissionais de serviços de saúde. Além dos encontros online, o Coletivo se reune presencialmente no Espaço de Convivência organizado no Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ). Trata-se de um encontro mensal organizado para e por aproximadamente 25 mulheres cuidadoras (familiares) que vivem na cidade do Rio de Janeiro ou munícipios mais próximos do Estado do Rio de Janeiro, que passaram a se conhecer pessoalmente, proporcionando um espaço físico afetuoso de rodas de conversa e atividades de autocuidado. 2. Curso Online de Extensão Mulheres Cuidadoras na Atenção Psicossocial Como ação de educação em saúde, o curso online promoveu seis encontros de educação continuada nas temáticas de saúde mental e gênero, direitos previdenciários e cuidados comunitários, como temas de interesse recolhidos do Coletivo em diálogo com palestrantes convidadas. O curso contou com o envolvimento e mobilização de palestrantes de diferentes instituições e parcerias para sua execução, tais como: Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Piauí, Instituto de Enfermagem da Universidade Federal do Rio de Janeiro, GT Parentalidade e Equidade de Gênero da UFRJ, Associação de Familiares e Usuários de Criciúma/SC, Frente Estamira de CAPS (NUPPSAM/IPUB/UFRJ), Movimento Nacional da Luta Antimanicomial, APACOJUM, Coletivo Participação de Usuários e Familiares, Programa de Educação Previdenciária – INSS/PEP/RJ, Curso de Pós Graduação de Psiquiatria e Psicanálise da Infância e Adolescência do SPIA/IPUB/UFRJ, Curso de Especialização em Atenção Psicossocial para Infância e Adolescência do NUPPSAM/IPUB/UFRJ, Cursos de Graduação em Musicoterapia, Psicologia e Belas Artes da UFRJ, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares - ITCP/IFRJ e Fórum Permanente de Centros de Convivência do Estado do Rio de Janeiro, Centro de Convivência Trilhos do Engenho do Instituto Municipal Nise da Silveira – RJ, Projeto Transversões (UFRJ) e NASF Alegrete/Rio Grande do Sul. O curso obteve 300 inscrições no período de 07 dias e foi realizado de modo remoto via googlemeet no período de 19/08/2022 a 04/11/2022, com transmissão ao vivo no Canal NUPPSAM/YOUTUBE, obtendo 1920 vizualizações ao longo das seis aulas. Ao final foram emitidos aproximadamente 90 certificados para participantes que concluíram as aulas de modo síncrono com 75% de participação nas aulas.
2.5 Quais os resultados alcançados? O que foi transformado por meio da experiência? Os objetivos foram cumpridos? Se não, justifique. Apresentar dados ou outras evidências que comprovem que os objetivos foram atingidos
Em julho de 2021, como resposta ao isolamento imposto pela pandemia, foram iniciados os grupos online de acolhimento e encontros quinzenais (via googlemeet), seguindo a metodologia de grupos de apoio mútuo. No primeiro encontro de acolhimento, foi divulgado pelas redes sociais (grupos e coletivos do whatsapp) um link de acesso a um simples formulário (plataforma googleforms) para o cadastro inicial das participantes; obtendo 100 inscrições de mulheres cuidadoras de diferentes cidades e Estados do país. A partir deste primeiro acolhimento, as participantes passaram a se encontrar quinzenalmente, de modo remoto, com mediação da equipe do projeto. Ao longo do ano de 2022, os encontros quinzenais produziram o Coletivo de Mulheres Cuidadoras composto por mulheres de diferentes idades, raças, classes sociais, territórios e regiões do Brasil, que puderam se conhecer e compartilhar suas experiências de sobrecarga, desamparo e solidão comuns ao cotidiano de vida dessas mulheres. No período de julho/2021 – dezembro/2022, o projeto registrou 291 inscrições de mulheres interessadas em participar do encontro de acolhimento, tendo recebido 122 delas nos encontros online. Destas 122 participantes acolhidas, 67 mulheres cuidadoras de pessoas com sofrimento mental aderiram ao Coletivo e se mantiveram vinculadas às ações do projeto . Atualmente, o Coletivo Mulheres Cuidadoras se reúne quinzenalmente de maneira remota, mantendo um encontro aberto para o acolhimento de novas participantes e para a participação de profissionais de saúde/saúde mental e estudantes. O encontro mensal de acolhimento, portanto, se mantém aberto para a chegada de novas mulheres cuidadoras recebidas pelas mulheres integrantes do Coletivo. Para as mulheres que vivem na cidade do Rio de Janeiro ou munícipios mais próximos do Estado do Rio de Janeiro, construímos, em agosto de 2022, um Espaço de Convivência no Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ), onde cerca de 25 mulheres passaram a se conhecer pessoalmente, proporcionando um espaço físico afetuoso, através de rodas de conversa e atividades de autocuidado. Diante das demandas de educação em saúde, a equipe do projeto também elaborou o Curso Online de Extensão Mulheres Cuidadoras na Atenção Psicossocial, promovendo encontros de educação continuada nas temáticas de saúde mental e gênero, direitos previdenciários e cuidados comunitários, como temas de interesse recolhidos do Coletivo em diálogo com palestrantes convidadas. O curso contou com 300 inscrições no período de 07 dias e foi realizado de modo remoto via googlemeet no período de 19/08/2022 a 04/11/2022, com transmissão ao vivo no Canal NUPPSAM/YOUTUBE, obtendo 1920 vizualizações ao longo das seis aulas.
2.6 Considerações finais: Importância da participação social para a solução do problema? Por que essa experiência foi importante?
A participação ativa de familiares no Coletivo Mulheres Cuidadoras evidenciou a necessidade urgente de discutir e problematizar a sobrecarga do cuidado e do trabalho reprodutivo/doméstico como um determinante social da saúde das mulheres, considerando a inequidade de gênero e a ausência de políticas públicas de amparo para as familiares de pessoas com sofrimento mental. Em especial, mães, filhas, esposas, avós e irmãs de usuáries da rede pública de saúde mental ainda sofrem com o isolamento e o confinamento em suas próprias casas e com a pobreza e adoecimento gerados pela dificuldade de acesso aos trabalhos formais (remunerados) e aos cuidados em saúde, por terem que lidar solitariamente com seus familiares. O Coletivo de Mulheres Cuidadoras torna-se, então, um espaço seguro e acolhedor de partilha de histórias e relatos de sofrimento, angústia e desassistência, muitas vezes relatados como pedido de socorro! Entre as mulheres, cada uma com seu repertório de saberes e vivências, surgem a ajuda mútua e a produção de cidadania, bem como as relações de amizades e de suporte de pares. A sobrecarga imposta às mulheres é um desafio cotidiano para a promoção da saúde e vimos, nesse espaço de solidariedade e autocuidado, uma via de cuidado psicossocial que alcança as cuidadoras em suas casas e em seu cotidiano. Com efeito, a participação social e o protagonismo de mulheres cuidadoras começam a se fortalecer e a motivação para o autocuidado transforma-se em reivindicação de direitos, pertencimento e esperança. Durante a pandemia, que incluiu momentos de isolamento social, as ações foram realizadas de modo remoto assim como a maior parte dos atendimentos oferecidos pelos serviços de saúde mental, acarretando dificuldades no acesso e acompanhamento de usuáries na rede de atenção psicossocial. Avalia-se que a continuidade e o fortalecimento dos encontros online de apoio mútuo (Encontro de Acolhimento e Coletivo de Mulheres Cuidadoras), dos encontros presenciais de autocuidado, lazer e cultura (Espaço de Convivência) e das ações de educação em saúde (Curso Online de Extensão) ampliou o acesso de mulheres ao cuidado psicossocial, atuando como retaguarda para os serviços de saúde mental no momento desafiador de crise sanitária e democrática no país. No momento em que o país retrocedia para a precarização dos serviços públicos de saúde mental, cuidar das mulheres que cuidam é dizer sim à vida e reafirmar a luta por direitos e justiça social!
2.7 Por que pode ser considerada inovadora?
Os encontros online promovidos de modo síncrono por meio de plataformas e aplicativos interativos de videochamada, caracterizam uma inovação para as estratégias de promoção da saúde e participação social difundidos no contexto pandêmico. Através dos encontros online, as mulheres se mantém juntas em suas casas, no trabalho, no meio de transporte, no comércio local, nas escolas, nas unidades de saúde ou em qualquer espaço por onde são conduzidas pelas mãos que se entrelaçam ao celular, como se entrelaçassem as mãos uma das outras: “vamos juntas, apenas juntas!”, uma das participantes repete em todos os encontros. A construção e apoio ao Coletivo de Mulheres Cuidadoras traduz, no seu título, a proposta de uma ação afirmativa inovadora voltada para o enfretamento das inequidades de gênero no campo da saúde mental. Ao se voltar para o cuidado de quem cuida, o mote ‘Mulheres Cuidadoras’ ultrapassa a noção da sobrecarga da familiar mãe, filha, cunhada, esposa e avó para a descoberta de um tornar-se mulher pela via do autocuidado, da mutualidade e da esperança. O autocuidado torna-se um ato político, como um ato de autopreservação da saúde, dos desejos e das emoções das mulheres mais vulneráveis. E a invisibilidade e o silenciamento do sofrimento e do adoecimento das mulheres que cuidam de pessoas com sofrimento mental, torna-se voz e escuta entre mulheres diversas, de diferentes territórios, cores, crenças, idades mas que guardam algo em comum: a experiência da solidão e da sobrecarga do cuidado, das barreiras de acesso aos cuidados em saúde, do desemprego e dificuldades de sustento financeiro, da violência do isolamento, dos estigmas e preconceitos. Diante da ausência de políticas públicas de amparo para as cuidadoras, surge um Coletivo que se apoia por laços afetivos e solidários, que problematiza a naturalização e invisibilidade do trabalho do cuidado, a pobreza, o adoecimento e o apagamento da trocas sociais. Na voz dessas mulheres, “Esse grupo vai melhorando a gente sem a gente nem perceber.”; “Mulheres são sempre as que seguram nossas mãos, somos ponte, somos rede, somos força.” “A gente tem que construir estratégias de reconstrução. Não somos vítimas, somos protagonistas da nossa vida.”; “Não somos apenas mulheres de deveres, somos também mulheres de direitos”. Fazer parte da luta para que as mulheres cuidadoras sejam vistas e atendidas em suas demandas é uma jornada inovadora, de exercício de uma prática da cidadania dentro de uma ética amorosa de solidariedade e cuidado coletivo.
2.8 Quais as perspectivas de aplicação das práticas desenvolvidas em outros locais ou instituições? Análise das principais dificuldades e estratégias de enfrentamento. Lições aprendidas e recomendações.
O Projeto Mulheres Cuidadoras na Atenção Psicossocial conta com uma equipe multidisciplinar e interprofissional, favorecendo a capilaridade de suas ações em diferentes campos de conhecimento e espaços de cuidado. Além disto, as ações do Coletivo de Mulheres Cuidadoras tem ampliado o alcance de profissionais e estudantes da área da saúde que participam dos encontros de acolhimento como estratégia de educação continuada protagonizada pelas trocas de experiência entre mulheres familiares de usuáries da rede pública de saúde. Destaca-se, ainda, a experiência exitosa do Curso Online de Extensão para a educação em saúde mobilizada pela participação social das mulheres cuidadoras cujo alcance se mantém disponível através das mídias sociais. O projeto também organiza os conteúdos de autocuidado e solidariedade entre mulheres recolhidos nos encontros online para divulgação nas redes sociais e através materiais de apoio para multiplicar a experiência do projeto no campo da atenção psicossocial. No momento atual, a equipe vem se dedicando às gravações de um curta documentário e uma publicação de e-book sobre a experiência do Coletivo Mulheres Cuidadoras, apostando nesses produtos técnicos como meio de difusão mais ampla da experiência em todo o país. No entanto, a da escassez de recursos e de editais de financiamento para essas ações tem limitado a execução dessas ações junto às parceiras da área de Comunicação e Mídias Sociais, sendo esta uma dificuldade enfrentada pela equipe do projeto.
2.9 Envolvimento e mobilização de instituições e parceiros na execução da experiência?
O projeto contou com o envolvimento e mobilização de palestrantes e diferentes instituições e parcerias para sua execução, tais como: Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Piauí, Instituto de Enfermagem da Universidade Federal do Rio de Janeiro, GT Parentalidade e Equidade de Gênero da UFRJ, Associação de Familiares e Usuários de Criciúma/SC, Frente Estamira de CAPS (NUPPSAM/IPUB/UFRJ), Movimento Nacional da Luta Antimanicomial, APACOJUM, Coletivo Participação de Usuários e Familiares, Programa de Educação Previdenciária – INSS/PEP/RJ, Curso de Pós Graduação de Psiquiatria e Psicanálise da Infância e Adolescência do SPIA/IPUB/UFRJ, Curso de Especialização em Atenção Psicossocial para Infância e Adolescência do NUPPSAM/IPUB/UFRJ, Cursos de Graduação em Musicoterapia, Psicologia e Belas Artes da UFRJ, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares - ITCP/IFRJ e Fórum Permanente de Centros de Convivência do Estado do Rio de Janeiro, Centro de Convivência Trilhos do Engenho do Instituto Municipal Nise da Silveira – RJ, Projeto Transversões (UFRJ) e NASF Alegrete/Rio Grande do Sul.
3 Principais desafios persistentes (o que segue sendo desafio apesar da ação empreendida?)
A construção de políticas públicas intersetoriais para mulheres cuidadoras, visando a redução da inequidade de gênero e da sobrecarga do cuidado, é o principal desafio enfrentado pela equipe do projeto junto ao Coletivo de Mulheres Cuidadoras. Consideramos a participação ativa de mulheres, nos espaços de trocas de experiências apoio mútuo e educação em saúde, uma iniciativa essencial de promoção da saúde e de produção de cuidado psicossocial para a construção de redes solidárias a ser fomentada por políticas públicas de saúde mental. Além disto, as ações de educação continuada sugere uma via estratégica para a sensibilização de profissionais da saúde a fim de garantir o acolhimento das necessidades e demandas dessas mulheres nos serviços públicos, reconhecendo o cuidado como um ato coletivo e não exclusivo da condição das mulheres. Daí a importância política dessa experiência de participação social, pois não há como compreender as dificuldades e necessidades das mulheres cuidadoras sem antes ouví-las! Se, por um lado, o movimento da Reforma Psiquiátrica no Brasil produziu uma nova forma de organização do cuidado de base comunitária a fim de promover a proteção dos direitos de seus atores e atrizes e o cuidado em liberdade, por outro lado, nota-se, ainda, a ausência de investimentos nos dispositivos de desinstitucionalização e de cuidado territorial voltados para as cuidadoras. Com efeito, impõe-se o cenário de sobrecarga e negligência dos direitos civis, sociais, políticos e culturais motivado pela transferência ‘naturalizada’ de responsabilidades atribuídas às mulheres familiares de pessoas com sofrimento mental. Cabe ao campo da atenção psicossocial, bem como às políticas públicas de saúde mental, produzir estratégias de cuidado e de direitos capazes de reduzir o adoecimento e as vulnerabilidades sociais da cuidadoras impostas pela desigualdade de gênero.
3.1 Quais ações de sensibilização, comunicação, informação, educação em saúde e educação permanente foram utilizadas?
O projeto promove a participação social por meio de ações presenciais e remotas, tais como: encontros online de acolhimento e apoio mútuo, cursos de educação continuada, atividades presenciais de sensibilização para o autocuidado, lazer e cultura, tornando-se estratégias de promoção da saúde voltadas para mulheres cuidadoras (familiares, profissionais e usuárias) da rede saúde mental do SUS. Todas as ações são formuladas a partir da participação ativa de mulheres cuidadoras na elaboração e no planejamento das ações, tendo-as como parceiras da equipe do projeto a partir de sua expertise (experiência prática e cotidiana) tanto para a construção de linhas de cuidado psicossocial quanto para a reflexão sobre os temas da desigualdade de gênero na interface com a saúde mental e da feminização e sobrecarga do cuidado. Desse modo, organizamos os conteúdos de autocuidado e solidariedade entre mulheres recolhidos nos encontros online para divulgação nas redes sociais (www.instagram.com/mulheres.cuidadora), curso online de extensão (canal nupssam/youtube) e através materiais de apoio para multiplicar a experiência do projeto no campo da atenção psicossocial. Atualmente, a equipe vem se dedicando às gravações de um curta documentário e uma publicação de e-book sobre a experiência do Coletivo Mulheres Cuidadoras, apostando nesses produtos técnicos como meio de difusão mais ampla da experiência em todo o país.
3.2 Qual é a sustentabilidade da solução implantada (quais são as garantias de que a experiência é sustentável ao longo do tempo desde os pontos de vista técnico, político, financeiro, social, etc?)?
O Coletivo Mulheres Cuidadoras é uma ação movida pela participação social de suas participantes, o que garante a sustentabilidade, ampliação e mobilização dessa ação em diversas regiões do Brasil representadas pelas cuidadoras. A equipe do projeto vinculada ao Coletivo e à comunidade acadêmica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por sua vez, fomenta a construção compartilhada de conhecimento e a mobilização de novas estratégias de cuidado e de garantias de direitos, ancoradas nas políticas públicas de saúde mental. Assim, se constrói um saber compartilhado entre estudantes, profissionais, pesquisadoras e todas as atrizes sociais envolvidas, fortalecendo não apenas do público-alvo do projeto mas também a rede de atenção psicossocial, sensibilizando-as em relação aos avanços e desafios do inequidade de gênero no campo da saúde pública.
3.3 Campo para inserção de arquivo de imagens que retratem a experiência
3.3.1 Campo para inserção de arquivos de documentos produzidos relacionados à experiência.

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É considerado conflito de interesses:

Associação, afiliação ou link com atores do setor comercial, entidades de setores das indústrias de armas, tabaco, álcool, indústrias, empresas e organizações relacionadas a quaisquer outras organizações e/ou alianças e iniciativas concebidas, fundadas, financiadas, lideradas, controladas ou organizadas por essas indústrias e empresas, cujos:

  • Produtos incluam organismos geneticamente modificados, agrotóxicos, fertilizantes sintéticos, bebidas e produtos comestíveis com altas concentrações de açúcar, gorduras, sal, energia, outros produtos ultraprocessados ou quaisquer outros produtos que necessitem ter sua demanda, oferta ou disponibilidade reduzida para melhorar a alimentação e a saúde da população;

e/ou cujas

  • Práticas incluam: 1) Publicidade, promoção e outras estratégias mercadológicas que visem aumentar a demanda pelos referidos produtos e/ou promovam ou estimulem modos de comer não saudáveis, tais como comer excessivamente, comer sozinho, comer sem pensar, comer compulsivamente, comer rápido, ou modos de produzir alimentos pautados pelo uso de agrotóxicos e organismos geneticamente modificados, ou; 2) Lobby contra medidas legislativas, econômicas, jurídicas ou socioculturais que visem à redução da produção, abastecimento, disponibilidade ou demanda dos referidos produtos e/ou da exposição aos referidos modos não saudáveis de comer e produzir alimentos; e/ou cujas 3) Políticas, objetivos, princípios, visões, missões e/ou metas que incluam ou se relacionem com o aumento da produção, abastecimento, disponibilidade ou demanda dos referidos produtos e/ou com a expansão de oportunidades e promoção dos referidos modos não saudáveis de comer e produzir alimentos.

Alguns exemplos de experiências de Educação Alimentar e Nutricional que configuram conflito de interesses:

  • Ser financiado ou ter recebido qualquer tipo de apoio (técnico, infraestrutura, equipe, financeiro etc) por entidades e atores acima citados;
  • Utilizar material educativo e/ou publicitário de empresas privadas ou fundações/organizações a elas relacionadas que atuam direta ou indiretamente com o setor alimentício, farmacêutico, tabaco, bebidas alcoólicas;