A má nutrição em todas as suas formas, sobretudo a obesidade, constitui um problema de saúde crescente no mundo (SWINBURN et al., 2019). De 2006 a 2019, a prevalência de obesidade entre adultos residentes nas capitais brasileiras cresceu de 11,8% para 20,3% (BRASIL, 2020). Observa-se situação semelhante em Belo Horizonte-MG, onde 19,9% dos adultos apresentavam obesidade (BRASIL, 2020).
Diante das elevadas prevalências de má nutrição, incluindo o sobrepeso e a obesidade, as ações de Educação Alimentar e Nutricional (EAN) tornam-se fundamentais para a promoção da saúde, mas, também para a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e a garantia do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) (BRASIL, 2020). A troca e a construção coletiva de saberes e práticas nas ações de EAN podem contribuir para o alcance de soluções inovadoras e mais contextualizadas para o problema, o que é especialmente importante quando se considera a complexidade inerente à obesidade e de seus determinantes (UFSC, 2019; BRASIL, 2014; 2012).
Entretanto, para a concretização das ações de EAN voltadas para o manejo da obesidade é fundamental a organização da atenção à saúde mediante a atuação de equipes multiprofissionais por permitir agregar múltiplas competências e habilidades, e ampliar a abrangência das temáticas abordadas e possibilidades de intervenção, de forma a aprimorar a qualidade da atenção prestada. Nesse sentido, a Atenção Primária à Saúde (APS) é estratégica devido ao seu papel na coordenação e longitudinalidade do cuidado, e sua proximidade e conhecimento das necessidades de saúde das pessoas e comunidades (BRASIL, 2017). Considerando esses aspectos, o Ministério da Saúde tem investido na proposição de materiais de orientação e de apoio voltados para o manejo da obesidade baseados em evidências e que possam contribuir para a qualificação dos profissionais de saúde. Entre esses materiais destacam-se o “Instrutivo de Abordagem Coletiva para Manejo da Obesidade no SUS” (BRASIL, 2021a), elaborado pelo Grupo de Pesquisa de Intervenções em Nutrição da Universidade Federal de Minas Gerais (GIN/UFMG) em parceria com a Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição do Departamento de Promoção da Saúde da Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde (CGAN/DEPROS/SAPS/MS). No Instrutivo, são propostas diferentes modalidades de grupos terapêuticos baseadas na “Estratégia para o Cuidado da Pessoa com Obesidade no SUS”, fluxo proposto para nortear a trajetória do usuário com obesidade na Rede de Atenção à Saúde (RAS), de forma a apoiar municípios e estados na construção das Linha de Cuidado para pessoas com sobrepeso e obesidade (BRASIL, 2021a). No entanto, nenhum desses grupos terapêuticos tiveram a sua efetividade testada.
Esta experiência surge então da necessidade de se avaliar a efetividade dos grupos terapêuticos propostos no Instrutivo em um cenário real de prática. Para isso, optou-se pelo Programa Academia da Saúde (PAS) por ser um serviço da APS voltado para a promoção e o cuidado da saúde da população mediante a oferta de práticas educativas e de promoção de ambientes saudáveis (BRASIL, 2013; LOPES et al., 2016). Ademais, a vinculação prévia dos usuários no PAS favorece a adesão às intervenções em saúde, possibilitando atingir maior contingente de pessoas e de forma mais exitosa (MENDONÇA et al., 2019). Realizar esta experiência em um cenário de prática do SUS é extremamente relevante para verificar a aplicabilidade e a factibilidade dos grupos terapêuticos, e para sua expansão em todo o território nacional.
BRASIL. Caderno teórico. Educação Alimentar e Nutricional: o direito humano a alimentação adequada e o fortalecimento de vínculos familiares nos serviços socioassistenciais. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Brasília, p.38. 2014.
BRASIL. Instrutivo de Abordagem Coletiva para manejo da obesidade no SUS. Brasília, p.150. 2021a.
BRASIL. Marco de referência de educação alimentar e nutricional para as políticas públicas. Brasília: MDS; Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional 2012.
BRASIL. Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017: Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília: Ministério da Saúde 2017.
BRASIL. Portaria nº 2.681, de 7 de novembro de 2013: Redefine o Programa Academia da Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília: Ministério da Saúde 2013.
BRASIL. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Sobrepeso e Obesidade em adultos. Ministério da Saúde. Brasília, p.387. 2020.
LOPES, A. C. S. et al. Health Promotion Strategy: Academia da Cidade Program of Belo Horizonte. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde, v. 21, n. 4, 2016.
MENDONÇA, R. D. et al. Barriers to and facilitators for adherence to nutritional intervention: Consumption of fruits and vegetables. Nutrition, v. 67-68, p. 110568, 2019 Nov – Dec 2019.
SWINBURN, B. A. et al. The Global Syndemic of Obesity, Undernutrition, and Climate Change: The Lancet Commission report. Lancet, v. 393, n. 10173, p. 791-846, 2019.