Desmame de benzodiazepínicos, drogas Z e antidepressivos.

Cascavel/CE

Cheguei a esta unidade em 2022 como médica contratada pela prefeitura de Cascavel-CE e me deparei com um alto grau de dependência de idosos em benzodiazepínicos, como diazepam e clonazepam, além do uso de Zolpidem. Também observei jovens e adultos em uso crônico de antidepressivos, sem avaliações de rotina pelos médicos anteriores, que apenas renovavam as receitas deixadas na recepção. Diante desse cenário, criei um horário específico para saúde mental e determinei que, para renovar as receitas, os pacientes teriam que passar por consultas comigo. Nos primeiros meses, enfrentei grande rejeição da equipe, dos pacientes e dos familiares, mas não desisti. Comecei a realizar palestras sobre o tema antes dos atendimentos, explicando as consequências do uso inadequado desses medicamentos, especialmente em idosos, e também durante as consultas para renovação das receitas. Iniciei um trabalho conjunto com o psicólogo que atuava na unidade e comecei o desmame lento e progressivo dessas medicações, além de adequar as doses, substituir antidepressivos ou retirar os medicamentos quando não havia mais indicação para o uso. No caso dos idosos, comecei a introduzir o uso da trazodona associada aos benzodiazepínicos e realizava a retirada gradual desses últimos. Em alguns casos, o desmame levava até três meses, com troca da medicação pela trazodona e, em certas situações, associação com quetiapina. Com o tempo, os pacientes apresentaram melhora significativa na cognição, no sono e nos quadros de ansiedade e depressão, com a adequação das doses, substituição dos antidepressivos e a continuidade da terapia com o psicólogo. Houve também uma redução nas quedas relacionadas à sonolência em idosos e diminuição dos casos de fraturas nessa população. Gradualmente, passei a contar com o apoio da equipe e dos familiares dos pacientes, o que facilitou o avanço do trabalho. Além disso, comecei a prescrever receitas com validade para três meses, o que possibilitou a reavaliação periódica e contribuiu para a diminuição do uso excessivo do receituário azul. Hoje, consigo passar até quatro meses com um único bloco de receitas. Essa experiência tem mostrado que o manejo cuidadoso e multidisciplinar do uso de benzodiazepínicos, droga Z e antidepressivos, aliado a terapias não farmacológicas e acompanhamento psicológico, pode melhorar a qualidade de vida dos pacientes, principalmente dos idosos, reduzindo riscos e promovendo maior segurança no tratamento.

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