Nossa equipe atende a comunidade ribeirinha, comunidade que pertence a vila de Arapixi, localizada no arquipélago do Marajó, mais especificamente na cidade de Chaves/Pará.
A população vive estreitamente ligada à dinâmica dos rios e das marés. A maioria reside em palafitas, casas elevadas sobre esteios por causa das cheias. A região possui um dos piores índices de desenvolvimento humano, o acesso a escola e a unidade básica de saúde é bem complicado, pois dependem de rabetas (motores colocados em cascos, para se locomoverem em longas distâncias) e nem todos tem condições de se locomover. A maioria depende dos benefícios ofertados pelo governo, como Bolsa Familia, e em um mesma residência muitas vezes moram 3, 4 ou mais famílias.
Estimamos que cerca de 1.500 (Duas mil) pessoas sejam atendidas.
Área de difícil acesso, a entrada por meio de barco só é possível quando a maré esta alta, pois quando seca, no meio dos igarapés formam-se grandes ilhas de areia. De Arapixi até a cidade de Chaves são 6 horas de viagem, e até a capital mais próxima (Macapá no Amapá) são 15h. O resgate por aeronave só e possível quando o tempo está favorável e com visão para o piloto. A comunidade onde a UBS fica localizada. não possui energia 24h, a luz é ligada as 18:30min e desligada as 22:30h, sendo fornecida por um gerador, as demais casas que ficam nos rios acima e abaixo da comunidade só tem luz de velas ou geradores portáteis.
– Fortalecer o vínculo entre a equipe de saúde e as famílias do território, reconhecendo a importância das relações contínuas e da escuta qualificada no cuidado da população ribeirinha;
– Qualificar a territorialização, por meio do mapeamento ativo, participativo e atualizado das famílias atendidas por nossa equipe, grupos prioritários, recursos locais otimizando o planejamento das ações em saúde;
– Promover a memória e clinica das famílias atendidas, por meio de registros acessíveis, organizados e sistematizados que assegurem o cuidado ininterrupto mediante a possíveis trocas de profissionais;
O Caminho da saúde ribeirinha na Estratégia de Saúde da Família de Arapixi tem se mostrado uma experiência transformadora na qualificação do cuidado em saúde, especialmente em um território ribeirinho com características desafiadoras como o nosso, marcado pelo isolamento geográfico, escassez de recursos e alta rotatividade de profissionais.
Estamos no processo de implementação desde o mês de fevereiro de 2025, e em quatro meses a ferramenta se destacou como um instrumento potente de organização territorial, reorganização da unidade básica de saúde, fortalecimento do vínculo com as famílias e preservação da memória clínica e institucional da comunidade. Por meio do mapeamento das famílias em microterritórios, construído em conjunto com os Agentes Comunitários de Saúde, está sendo possível visualizar com mais clareza as demandas prioritárias, os riscos em saúde e os pontos estratégicos do território, facilitando a programação das visitas domiciliares, agenda de consultas e das ações coletivas.
Cada família está começando a ter um mini prontuário que nos permite acompanhar as trajetórias de cuidado de seus membros, reunindo informações relevantes de forma acessível para toda a equipe, e para futuros profissionais em caso de troca.
Outro avanço importante foi a integração com outros níveis de atenção que ganhou força. A partir da sistematização dos casos prioritários e da adoção de protocolos dentro da unidade, conseguimos melhorar o diálogo com a regulação e obter respostas mais rápidas em processos de referência e contrarreferência.
Por fim, as Rodadas de Escuta com a comunidade, nomeadas de “Arapixi em Voz Alta”, têm sido um marco na construção de um cuidado mais participativo. Nessas rodas, os moradores compartilham percepções, memórias, queixas e sonhos, fortalecendo o sentimento de pertencimento e o compromisso coletivo com a saúde local.
O “Caminho da Saúde Ribeirinha” não é apenas um instrumento técnico. É também uma expressão de afeto, de responsabilidade com o território e de respeito à história das pessoas. Ele tem nos ajudado a garantir que, mesmo nas margens dos grandes centros, o cuidado em saúde seja contínuo, humano e comunitário.
Ainda estamos no processo de implementação, e sabemos que mais resultados virão a longo prazo, porém segue os resultados já observados:
– Famílias do território estão sendo mapeadas com identificação geográfica simplificada e categorização por riscos;
– Temos um mapa de acompanhamento, que é atualizado mensalmente com o apoio dos ACS;
– As rodas de escuta comunitária conta média de 25 pessoas por entro.
– Aumento da participação da comunidade;