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Ministério da Saúde e OPAS selecionam 11 experiências inovadoras em Gestão do Trabalho e da Educação em Atenção Domiciliar

Onze experiências se destacaram na I Mostra Nacional de Experiências Inovadoras em Gestão do Trabalho e da Educação em Atenção Domiciliar, realizada em abril (6/4), em Curitiba, durante o III Congresso Sul Brasileiro de Atenção Domiciliar. As práticas finalistas contribuem para a qualificação do cuidado em saúde na atenção domiciliar no SUS, por meio de estratégias e ações desenvolvidas no âmbito da gestão do trabalho e da educação. Os trabalhos premiados são de caráter inovador com resultados práticos, finalizados ou em curso que fazem parte do cotidiano das equipes de Serviços de Atenção Domiciliar vinculadas ao SUS, lotadas em unidades de atenção básica, hospitais, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) ou outros pontos da Rede de Atenção à Saúde e habilitadas ou não pelo Programa Melhor em Casa do governo federal.

A I Mostra foi uma iniciativa da Fundação Estatal de Atenção Especializada em Saúde de Curitiba (FEAES), do Departamento de Gestão e da Regulação do Trabalho em Saúde da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (DEGERTS/SGTES/MS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS – Brasil), com apoio da Coordenação-Geral de Atenção Domiciliar (CGAD/DAHU/SAS/MS).

Dos trabalhos habilitados (26), onze ficaram nas dez primeiras classificações, com dois dividindo a 5ª posição, vindos de cinco diferentes estados brasileiros – Ceará, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo – e do Distrito Federal, e, estão apresentados a seguir:

1º lugar – Ribeirão Preto (SP) – Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) construindo a concepção da Rede de Atenção em Saúde e gestão no interior paulista

O SAD de Ribeirão Preto implantou, em 2015, o conceito de “espaço coletivo”, no qual os profissionais envolvidos com a alta dos pacientes – do SAD, do hospital e das unidades de saúde – se reúnem em rodas de conversas para a discussão das situações, levantando os problemas e possiblidades de resolução.

O intuito é, juntos, rever processos de trabalho e propor intervenções que atendam às necessidades coletivas, atuando em equipe no planejamento estratégico da alta compartilhada.

Além das reuniões técnicas, são feitas visitas conjuntas aos pacientes, garantindo a continuidade da atenção e reforçando o vínculo do paciente e sua família com a unidade de saúde após a alta. “Esse é o ‘pulo do gato’: buscar todos os recursos que a rede tem em prol do paciente”, destacou a coordenadora do SAD da Secretaria da Saúde de Ribeirão Preto, Emília Maria Paulina Campos Chayamiti.

No total, foram realizados 66 encontros, com discussão de 74 casos clínicos, entre trabalhadores e gestores, resultando na otimização dos recursos, aproximação das equipes e assistência mais qualificada.

2º lugar – Pelotas (RS) – Otimização na gestão de encaminhamentos e no processo de trabalho do SAD Pelotas – RS

Com o objetivo de aperfeiçoar o trabalho realizado, considerando os diversos entraves e problemas relatados pelos profissionais atuantes nas equipes de Atenção Domiciliar do município de Pelotas, optou-se, no ano de 2017, pela realização de um diagnóstico situacional do programa.

Este processo resultou na identificação de 16 pontos críticos – que iam desde o atraso na formulação dos formulários até a demora na realização do primeiro atendimento, sendo assim, na tentativa de resolução das questões encontradas, foram propostas e implementadas ações de informatização e de padronização dos documentos e processos, baseadas em metodologias já consolidadas. Em menos de dois meses do processo de intervenção, a equipe já identifica indicadores que possibilitarão a melhoria do serviço e reflexões quanto a real capacidade operacional.

3º lugar – Cascavel (PR) – Experiência da alta responsável: Atenção Domiciliar articulando a rede assistencial

Para diminuir o número de reencaminhamentos de pacientes da Atenção Primária em Saúde ao SAD e promover a continuidade do cuidado na rede de atenção à saúde de forma segura e eficaz, o SAD de Cascavel implantou o resumo de alta, disponibilizando informações para o acompanhamento nas unidades de saúde.

O documento informa o histórico clínico do paciente, medicamentos, intervenções, encaminhamentos e demanda de insumos. São preenchidas três vias, uma delas é entregue aos familiares, outra à unidade de saúde e a terceira permanece no prontuário do SAD.

“Tínhamos dificuldade de fazer a transferência do paciente para a Atenção Primária. Com o resumo de alta, o profissional do posto de saúde se sente mais confiante em seguir o acompanhamento. Muitas vezes, o convidamos para participar da alta, passando as informações dos cuidados, o que deixa a família também mais confiante, diminuindo os reencaminhamentos”, explica a enfermeira assistencial do SAD do município de Cascavel, Terezinha Aparecida Campos.

Em alguns casos, é feita uma visita domiciliar dos profissionais do SAD e da atenção primária, reforçando as orientações. Esse fluxo otimizou o processo de trabalho e de fortalecimento do vínculo entre usuário, unidade de saúde e familiares.

4º lugar – Uberlândia (MG) – Atenção Domiciliar: integração ensino-serviço como estratégia para qualificar a formação em Saúde

Com a intenção de apresentar aos profissionais em formação – estudantes e residentes – a política de atenção domiciliar; suas atribuições gerais e específicas; os fluxos; a articulação com a atenção básica, hospitalar, urgência e emergência e; o intersetor, o SAD de Uberlândia tem investido, desde 2013, na integração destes com as equipes do serviço.

“O perfil da atenção domiciliar é muito específico e a formação do profissional para essa área ainda não tem um currículo próprio. Nossa preocupação é inserir o profissional em formação nesse ambiente, também pensando nas linhas de pesquisa e extensão universitárias. Em contrapartida, esses jovens também contribuem para a evolução do serviço, porque empoderam os profissionais, que se sentem privilegiados em passar seus conhecimentos e se engajam em se manter atualizados para ensinar”, conta o coordenador do SAD do município, Laerte Honorato Borges Junior.

Ao final do período de integração, os jovens profissionais fazem um portfólio individual com uma descrição crítica e reflexiva de suas experiências, competências e aprendizados. A integração tem se mostrado uma ferramenta pedagógica eficaz pelo potencial de sensibilizar o estudante e o residente para a percepção da complexidade do cuidado no ambiente domiciliar.

5º lugar – Porto Alegre (RS) – O Acesso Mais Seguro em um Serviço de Atenção Domiciliar: experiências de uma ferramenta de proteção

O SAD de Porto Alegre atua em um território composto por 45 Unidades de Saúde, a maioria localizada em bairros da periferia, com altos índices de violência urbana. Para enfrentar o aumento da criminalidade, que expunha os trabalhadores do SAD a situações de risco, foi iniciada a capacitação Acesso Mais Seguro (AMS), com apoio do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

Em cada unidade de saúde em que foi feita a capacitação, os profissionais elaboraram Planos Locais de AMS, com ações como: classificação diária de risco, adoção de comportamentos seguros, identificação de locais de abrigo no território e rotas seguras de fuga, além de estratégias de comunicação internas e externas.

“Já capacitamos 28 unidades. Entendemos que a população precisa do nosso atendimento e precisamos chegar até ela. Também entendemos que o profissional de saúde precisa estar seguro para fazer seu trabalho, para não adoecer pelos riscos da cidade”, destaca a capacitadora do AMS em Porto Alegre, Edimara Pires de Lima Fontes.

Passado mais de um ano de sua implementação, o AMS mostrou-se uma ferramenta útil na promoção de comportamentos seguros para os profissionais que atuam em regiões de violência armada e na tomada de decisão com o intuito de mitigar riscos para as equipes.

5º lugar – Guará (DF) – Um olhar fotográfico como forma de valorização do trabalho na atenção domiciliar

Os detalhes do cotidiano dos profissionais que atuam no Serviço de Atenção Domiciliar do Guará, no Distrito Federal, foram registrados pelas lentes de um fotógrafo profissional, em dezembro de 2017. A ideia foi fazer uma homenagem de final de ano aos profissionais com uma exposição fotográfica, apenas, para a equipe, conta a médica da equipe Michelle Nunes do Amaral Lopes.

Os detalhes do atendimento, da rotina de trabalho, se ver representado nas imagens elevou o nível de satisfação da equipe com o trabalho e também com os colegas. “Vínhamos de um ano pesado e alguns da equipe estavam desmotivados, mas quando se viram nas fotos, perceberam que o atendimento domiciliar faz a diferença”, descreve Michelle.

Este trabalho possibilitou valorizar, estimular e dimensionar a satisfação do profissional da Atenção Domiciliar, após a exposição fotográfica foi aplicada a Escala de Satisfação no Trabalho – EST e os seguintes resultados foram observados: 50% declaram-se satisfeitos com o relacionamento com os colegas de trabalho; 31% declararam sentir-se satisfeitos com o salário; 44% demonstram- se satisfeitos com a organização e capacidade profissional da chefia; 70% declararam-se satisfeitos ou muito satisfeitos com natureza e tarefas cotidianas do Programa e 11% demonstraram-se satisfeitos ou muito satisfeitos com as promoções da SES-DF.

6º lugar – Poços de Caldas (MG) – Aplicação de ferramenta nos cuidadores de pacientes em processo de alta hospitalar

Para otimizar a alta hospitalar de pacientes complexos restritos ao leito ou ao lar, o SAD de Poços de Caldas implantou, em novembro de 2017, a busca ativa desses pacientes nos hospitais credenciados ao SUS, acompanhando a evolução dos enfermos até a alta hospitalar. Nessa ação, realizada uma vez por semana, aplica-se um questionário tipo checklist a familiares e cuidadores sobre os cuidados necessários ao paciente, para guiar a capacitação dos mesmos dentro dos hospitais e imediatamente após a alta, de forma a melhorar a abordagem com o enfermo e evitar intercorrências graves e reinternações precoces.

“Havíamos percebido que, sem o treinamento efetivo dos cuidadores, muitos pacientes eram reinternados dias após a alta. Muitas vezes a causa não era clínica, mas a insegurança da família em como seguir acompanhando o paciente”, conta a médica do SAD do município de Poços de Caldas, Beatriz Helena Martins Lusvarghi.

Compreendendo as dificuldades específicas de cada cuidador, sabendo em que ponto atuar com mais intensidade e realizando uma programação de alta conjunta entre SAD, hospital e familiares, tem-se conseguido a diminuição de reinternações precoces.

7º lugar – Uberlândia (MG) – Experiência do SAD – Uberlândia – MG, na desospitalização de usuários em ventilação mecânica invasiva domiciliar

O SAD tem como um de seus objetivos a otimização de leitos hospitalares, contribuindo para distribuição mais eficiente do recurso público. Desospitalizar usuários internados em hospitais públicos que se tornaram dependentes de ventilação mecânica invasiva (VMI) foi a proposta do SAD de Uberlândia.

Hoje, com a melhora da tecnologia, esses pacientes podem contar com o aparelho portátil e ter o atendimento domiciliar, liberando leitos para outros atendimentos. “A sociedade ganha e o paciente ganha, tratado em casa, próximo aos familiares, reestabelecendo vínculos sociais, com menores riscos de infecção” reforça o coordenador do SAD, Laerte Honorato Borges Junior.

Os critérios de elegibilidade dos pacientes são: estabilidade clínica, residir no município e ter cuidador apto a ser treinado. Sendo elegível, instala-se o ventilador mecânico para adaptação, concluída essa etapa é iniciado o treinamento dos cuidadores/familiares pela equipe hospitalar, e validado pelo SAD, de todos os procedimentos que serão realizados em casa para garantia da segurança do usuário.

Desde 2007, foram assistidos 95 usuários, 37 pediátricos e 58 adultos em VMI, sendo que, 29 permanecem ativos, 55 morreram e 11 receberam alta. Somando o número de dias que os mesmos permaneceram em casa, totalizaram 49.896 dias, o que pode ter permitido 4.989 novas internações em UTIs.

8º lugar – Fortaleza (CE) Gestão integrada do Cuidado na Desospitalização e Assistência Domiciliar com auxílio de um sistema eletrônico em um Serviço de Assistência Domiciliar (SAD)

Para melhorar a logística da assistência e o gerenciamento de um Serviço de Assistência Domiciliar do município de Fortaleza, em 2016, foi criado um sistema eletrônico virtual que agrega o prontuário eletrônico dos pacientes, organiza os fluxos, possibilita a elaboração de um plano terapêutico multidisciplinar e realiza o gerenciamento do serviço através dos registros de toda equipe.

O prontuário contempla a visão da linha de cuidados multidisciplinar na assistência domiciliar. Na inclusão do programa, o paciente é cadastrado no sistema SAD por eixo da equipe assistencial, o que facilita a organização do serviço. A avaliação multidisciplinar pelos profissionais é registrada em fichas no prontuário eletrônico. A partir dessas avaliações é construído um plano terapêutico multidisciplinar, elaborado por todos os profissionais envolvidos na assistência do paciente, que vai determinar as diretrizes do tratamento indicado.

O sistema eletrônico do SAD contribui no planejamento, na logística e no gerenciamento do serviço, envolvendo os profissionais nos registros e gerando o relatório dos resultados e indicadores no próprio sistema, os quais podem ser acompanhados pela gestão e pelos trabalhadores.

9º lugar – Fortaleza (CE) – Gestão da visita domiciliar na atenção primária: uma nova ferramenta

A Unidade de Saúde Lineu Jucá, em Fortaleza desenvolveu uma ferramenta de classficação de estratificação de risco e vulnerabilidade, para apoiar os profissionais da atenção primária na gestão da agenda das visitas domiciliares. De junho a novembro de 2017, foram avaliados 46 pacientes, considerando diversas variáveis, como idade, condição clinica, uso de polifarmácia, funcionalidade, mobilidade, síndrome da fragilidade, suporte familiar e necessidade de cuidados paliativos.

Os dados coletados foram analisados sendo possível classificar os pacientes quanto ao risco e vulnerabilidades de acordo com o escore atingido, com o seguinte resultado: 5 de baixo risco, 21 de médio risco, 18 de alto risco e 2 de muito alto risco. Foram identificados os problemas mais prevalentes abordados nas vistas domiciliares, permitindo ao profissional manejar de forma mais embasada as situações mais frequentes na comunidade atendida.

 “A criação dessa ferramenta possibilitou a melhor organização do processo de trabalho da equipe, da estratificação do risco. Passamos a aplicar melhor o conceito de equidade: fazendo mais a quem precisa mais”, destacou o supervisor do programa de residência de Medicina da Família e Comunidade da Universidade Federal do Ceará, Marco Tulio Aguiar Mourão Ribeiro.

10º lugar – Riberão Preto (SP) – Integração serviço-ensino fortalecendo a formação e qualificação no âmbito da Atenção Domiciliar

De 2012 a 2017, o SAD de Ribeirão Preto recebeu 521 alunos das diversas áreas da saúde como campo de ensino prático e pesquisa, articulados as atividades de extensão, possibilitando vivenciar a perspectiva da interprofissionalização, do trabalho na Rede de Atenção à Saúde.

“O SAD é um campo muito fértil para o aluno de estágio. Trabalhamos com eles a metodologia ativa, em que se sentem parte da equipe, contribuem com seus conhecimentos. Sabem que vem para aprender, mas também trazem conhecimentos para contribuir com nosso trabalho”, destaca a coordenadora do SAD do municipio de Ribeirão Preto, Emilia Maria Paulina Campos Chayamiti.

Nesse período, foram produzidos 225 trabalhos científicos/relatos de experiências, realizadas 192 desospitalizações, 65.479 pacientes foram atendidos, 114.653 visitas domiciliárias realizadas e houve a participação em 48 fóruns e congressos.

A integração das várias abordagens possibilita o manejo eficaz da complexidade do trabalho em saúde. O SAD se consolidou como campo de formação para a atenção domiciliar às diferentes categorias profissionais.

A presença dos estagiários refletiu também no comportamento dos profissionais, muitos voltaram a buscar capacitação em cursos de especialização e pós-graduação e aumentou a participação em congressos e a produção científica. Houve, ainda, mudança na percepção dos envolvidos em relação à longitudinalidade do cuidado que remete o acompanhar da família em suas vitórias, desapontamentos e desafios.

Mais informações –

http://www.feaes.curitiba.pr.gov.br/iii-congresso-sul-brasileiro-de-atencao-domiciliar.html

 

Redação – Adriana Brum ( FEAES)

Edição: Ana Paula Cavalcante (Consultora da UTCHS/OPAS/BRA), Talita Carvalho (FEAES), Távila Guimarães (Tecnologista em Gestão de Políticas Públicas em Saúde – MS), Guadalupe Santana (DEGERTS/SGTES/MS) e Vanessa Borges (Portal da Inovação na Gestão do SUS)

Fotos: Anya Colman (FEAES)

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