APSREDES

A inserção do acadêmico de medicina

Sem questionamentos.
1- Instituição Preponente:
Programa de Assistência e Internação Domiciliar – PAID
Rua Wenceslau Brás, 429, Parque São Paulo
Cascavel/PR
CNPJ:09.051.532/0001-22
2- Autores:
Marcelo Caporal
Osvalmir Sá da Silva
Rogério Yassuaki Sakurada
3- Contato:
45-39021890
rysakurada@hotmail.com; osvalmir@hotmail.com
4- Eixo: Gestão da Atenção Domiciliar
5- Tema principal: Educação permanente em AD como forma de integração dos diversos serviços e modalidades
6- Título: A inserção do acadêmico de medicina no âmbito da atenção domiciliar
A INSERÇÃO DO ACADÊMICO DE MEDICINA NO ÂMBITO DA ATENÇÃO DOMICILIAR
O presente trabalho foi realizado no período de janeiro a dezembro de 2012 envolvendo 36 acadêmicos de um curso de medicina do município de Cascavel – Paraná, onde no período do internato médico foi incluído em sua grade curricular o estágio monitorado em internação domiciliar desenvolvido no Programa de Assistência e Internação Domiciliar de Cascavel (PAID) com a expectativa de orientar o estudante nas boas práticas do trabalho interdisciplinar e compreensão do sistema de saúde público vigente.
Para tanto, foi firmado convênio entre o serviço público e a Instituição de Ensino Superior (IES) onde um grupo de 2 a 3 acadêmicos permaneciam por um período de 3 semanas acompanhando os profissionais da equipe, tanto nas visitas domiciliares quanto nas reuniões para discussão do plano terapêutico envolvendo os casos mais complexos.
Os objetivos principais desta experiência eram integrar o acadêmico com o trabalho realizado pela equipe interdisciplinar do PAID, ajudando a compreender a estruturação da rede de assistência a saúde que fomentam as modalidades de AD1, AD2 e AD3, tendo ainda como foco a visão da estruturação necessária para a desospitalização precoce do paciente e do benefício do retorno ao convívio familiar, assim como estimular a prática da clínica baseada em evidências e de pequenos procedimentos inerentes a esta forma de assistência.
A metodologia utilizada contemplava a permanência de até 3 acadêmicos do primeiro ano de internato médico da IES durante todo o período da manhã e mais duas tardes por semana, sendo que estes acompanhavam os atendimentos domiciliares sob supervisão dos profissionais da equipe e realizavam as discussões com o professor da instituição. Dentro do estágio eram repassados os critérios para inclusão no serviço, as formas de avaliação do paciente elegível, as instruções para preenchimento da prescrição médica, as formas de encaminhamento para consultas especializadas e realizações de exames complementares. Dentro do estágio, ainda tinham a possibilidade
de realizarem pequenos procedimentos como troca de sondas de gastrostomia, jejunostomia, sondas nasoenterais, sondas vesicais de demora, drenagem de abscessos, desbridamentos cirúrgicos, curativos complexos, acompanhamento ao atendimento fisioterapêutico, odontológico, de assistência social, nutrição e enfermagem.
Todo material utilizado no estágio foi fornecido pelo município de Cascavel, inclusive o transporte para as residências, sendo que a contrapartida da IES ficou a disponibilização tutor e dos seguros para os acadêmicos.
Com relação à parte didática, todos eram avaliados de forma subjetiva durante o estágio conforme a dinâmica do aluno, sendo que também se destacava as opiniões dos profissionais da equipe principalmente quanto ao relacionamento interdisciplinar. No final do estágio todos passavam por prova escrita constituída por um caso clínico relacionado ao atendimento domiciliar.
Os resultados alcançados foram acima da expectativa pré-estágio, sendo que observamos após sua conclusão um maior amadurecimento dos acadêmicos que passaram pelo programa. Muitos relataram terem sido confrontados com uma realidade diferente do que estavam acostumados rotineiramente. Alguns dos motivos que posso levantar para o êxito do estágio são que muitos dos acadêmicos da IES são oriundos de famílias da classe média alta e possuem pouco convívio com famílias em estado de pobreza e ao ambiente em que vivem. Assim sendo, o choque cultural e estrutural pelo qual passa o estudante o faz entender que a profissão médica encontra-se além do consultório ou do hospital, passando também pela responsabilidade social a que seu paciente está inserida. Gostamos muito de exemplificar com a frase “Não se trata fome com remédio, mas com alimento” para demonstrar ao acadêmico que tratar apenas o paciente e sua doença muitas às vezes não é suficiente para melhorar sua qualidade de vida.
Além deste ponto positivo no amadurecimento do profissional, também salientamos seu crescimento emocional principalmente relacionado aos perfis de patologias atendidas no serviço, sendo que em sua grande maioria são doenças crônicas degenerativas em estágio avançado. Dentro do PAID, eles são inseridos no atendimento paliativo trabalhando a terminalidade sem a blindagem que a instituição hospitalar fornece em torno do contexto da morte. Ou seja, o acadêmico começa a entender que a morte não é simplesmente uma parada de órgãos, mas ela está em um contexto envolvendo as demais pessoas da família, sendo que estas relações são abordadas no atendimento domiciliar, assim como o atendimento de luto.
Apenas por estes objetivos alcançados já haveria embasamento mais que suficiente para a organização do estágio, porém podemos ainda dizer que ele é um
campo importante para entendimento de políticas de saúde, epidemiologia, assistência multiprofissional e relacionamentos, assim como das práticas clínicas e de reabilitação ao paciente.
Concluindo, achamos que esta experiência da inserção do acadêmico de medicina dentro do âmbito da atenção domiciliar é uma iniciativa inovadora pelos moldes em que foi instituída, especificamente dentro de um serviço exclusivo de internação domiciliar com parcerias do gestor público e da IES. Através do resultado alcançado e da satisfação dos próprios acadêmicos com a vivência durante o estágio, este já possui aval das instituições para serem ampliados também para o segundo ano de internato médico, porém com carga horária menor. Após a conclusão das atividades, muitos acadêmicos saem com outra visão do serviço público de saúde, hoje infelizmente ainda tratado como sendo um serviço de má qualidade na maioria dos locais, sendo que alguns acadêmicos manifestam o interesse pela atividade solicitando mais informações a respeito da formação profissional para o atendimento domiciliar.

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